Jornal Médico - Desculpem, mas eu li!... “Viva a poesia!”

Muitas vezes, as viagens enchem-nos de sensa&ccedil;&otilde;es novas, abrindo os esp&iacute;ritos a experi&ecirc;ncias, reflex&otilde;es ou despertares que, de outro modo, n&atilde;o o chegariam a ser... Muitas vezes, as viagens enchem-nos de sensa&ccedil;&otilde;es novas, abrindo os esp&iacute;ritos a experi&ecirc;ncias, reflex&otilde;es ou despertares que, de outro modo, n&atilde;o o chegariam a ser... Ou como algu&eacute;m se queixava, nunca queremos ser o que somos depois de algumas dessas viagens... Os nossos dias e as f&oacute;rmulas encontradas pelas universidades na troca de estudantes e partilhas de conhecimentos, constitui at&eacute; um bom exemplo do que dizia. A literatura est&aacute; bem recheada de epis&oacute;dios, hist&oacute;rias e contos inspirados, quer nas deambula&ccedil;&otilde;es dos seus autores, quer nas li&ccedil;&otilde;es por eles apreendidas. Lembro-me de Gandhi e do seu profundo amor pela vida: - &ldquo;H&aacute; mais que fazer na vida do que aumentar a sua velocidade.&rdquo; O que se ouve, se percebe apesar das diferen&ccedil;as lingu&iacute;sticas, o que se v&ecirc;, quer olhando, quer observando, o que se cheira na pan&oacute;plia de aromas e estranhos perfumes, o que se sente na individualidade e que todos marca nesse respeito pela intimidade, faz de cada percurso, de cada trajecto de descoberta, um marco nas nossas vidas. N&atilde;o no sentido em que a vida seja um problema que se n&atilde;o possa viver, mas porque, de facto, a vida se torna numa realidade que se tem de viver e que, como falava S&eacute;neca, quando bem usada, &ldquo;a vida tem a dura&ccedil;&atilde;o suficiente&rdquo;... E cada marco, grava-nos na mem&oacute;ria um tra&ccedil;o ou um sulco que, conforme as cores e as tonalidades, se configura como um obelisco ou um padr&atilde;o ao jeito dos utilizados ao tempo dos Descobrimentos, um obelisco ou um padr&atilde;o que de certa forma nos abrir&aacute; um pouco mais aos outros e ao mundo! Caminhamos para tempos de retorno ao trabalho e ao dia a dia. As f&eacute;rias e a ociosidade ficaram para tr&aacute;s e os dias que se lhe seguem, s&atilde;o habitualmente, t&atilde;o penosos, quanto desgastantes. A quebra das rotinas apresenta a sua factura. Os dias, na sua dura&ccedil;&atilde;o, parecem-nos maiores, embora a caminhada para o inverno os encurte em luminosidade e energia. Mas a vida &eacute; assim mesmo, reserva-nos grandes e muitas surpresas, brindando-nos frequentemente com momentos, ora inesperados, ora ansiando. Na verdade, em cada esquina da exist&ecirc;ncia humana, esconde-se ou espera-nos um desafio ou a necessidade de um gesto, de uma escolha, de uma decis&atilde;o, que, como sempre, independentemente de ser f&aacute;cil ou dif&iacute;cil, nos impele e conduz para um novo caminho e destino. E isso, por si s&oacute;, por muito assustador que possa parecer, j&aacute; justifica que continuemos vivos e livres e diferentes! E por falar em liberdade, lembrei-me da velha discuss&atilde;o filos&oacute;fica entre os limites que o homem criou ou estabeleceu e que, classicamente, envolvem as no&ccedil;&otilde;es de liberdade e de propriedade. Salvaguardada uma outra e mais profunda abordagem para outros escritos e contextos, quero-vos contar um epis&oacute;dio banal e centenas de vezes repetido, certamente. Em viagem de f&eacute;rias, um casal seguia, ocupado, vigilante e dividido com dois filhos, pequenos e aguerridos, carregados de montes de sacos e saquinhos, com coisas dos catraios, comes e bebes e outras tralhas. Os mi&uacute;dos, um com talvez cinco anitos, seis no m&aacute;ximo, o outro com dois anos e pouco, tagarelavam sem cessar, numa primeira fase, entretidos tamb&eacute;m, o mais velho com um jogo entre os dedos brutalmente &aacute;geis e uns olhitos pregados no microsc&oacute;pico ecr&atilde; e o mais pequeno com um biber&atilde;o de &aacute;gua que parecia nunca mais acabar! A viagem continuava indiferente ao cen&aacute;rio, quer dentro, quer fora do comboio. Mas pairava no ar uma promessa, segura de, a todo o instante, torpedear o sossego de quantos por ali se sentavam. O prov&aacute;vel desatino dos pequenos era proporcional &agrave; extens&atilde;o do percurso... Com efeito, alguns minutos volvidos, ningu&eacute;m j&aacute; conseguia dormir, ler ou conversar! Os tagarelas empurravam-se e berravam um com o outro! O mais velho, gritava: - &ldquo;O pap&aacute; &eacute; meu!&rdquo; E o puto, enraivecido, agredia-o e gritava mais alto: - &ldquo;N&atilde;o! O pap&aacute;, &eacute; meu!&rdquo; E o mais sabidola, seguia para o lugar em frente, o da m&atilde;e, agarrava-se ao bra&ccedil;o dela, beijando-o por cima da manga da blusa estival e dizia, de novo: - &ldquo;A mam&atilde; &eacute; minha!&rdquo; O mais pequeno, fitava-o, l&aacute; sa&iacute;a aos trambolh&otilde;es do colo do pai, a disparar consecutivamente: - &ldquo;N&atilde;o! A mam&atilde; &eacute; minha!&rdquo;, atirando-se a ela e esgadanhando o irm&atilde;o, at&eacute; este se voltar, uma vez mais, para o lado do pai... Tamb&eacute;m na vida, temos momentos assim. Gostamos de chatear o parceiro... Ainda que nada, nem ningu&eacute;m perten&ccedil;a a quem quer que seja! Mas o pior, o pior, claramente &eacute; sentirmo-nos chateados por quem nos desassossega. L&aacute; dizia Fernando Pessoa: - &ldquo;Ter opini&otilde;es &eacute; estar vendido a si mesmo. N&atilde;o ter opini&otilde;es &eacute; existir. Ter todas as opini&otilde;es &eacute; ser poeta.&rdquo; Viva a Poesia!

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