Jornal Médico - Josep Basora: médicos querem que SemFYC seja mais do que uma sociedade científica

Depois da constitui&ccedil;&atilde;o da Plataforma Diez Minutos, a SemFYC pretende criar a Casa de la Atenci&oacute;n Prim&aacute;ria, que representar&aacute;, n&atilde;o apenas os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, mas todos os profissionais que, com eles, trabalham nos centros de sa&uacute;de Na vizinha Espanha, os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia querem que a Sociedade Espanhola de Medicina de Fam&iacute;lia e Comunidade (SemFYC) seja mais do que uma associa&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica, revelou ao nosso jornal o novo presidente da institui&ccedil;&atilde;o, Josep Basora. Depois da constitui&ccedil;&atilde;o da Plataforma Diez Minutos, a SemFYC pretende criar a Casa de la Atenci&oacute;n Prim&aacute;ria, que representar&aacute;, n&atilde;o apenas os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, mas todos os profissionais que, com eles, trabalham nos centros de sa&uacute;de. O objectivo, de acordo com Josep Basora &eacute; "avan&ccedil;armos juntos no sentido de uma melhoria laboral e tamb&eacute;m assistencial"nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios Jornal M&eacute;dico de Fam&iacute;lia - Acaba de ser eleito presidente da SemFYC. Quais s&atilde;o as prioridades do seu programa? Josep Basora - As minhas propostas visam, essencialmente, melhorar a pr&aacute;tica assistencial dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia espanh&oacute;is, retirando da consulta tudo o que n&atilde;o &eacute; importante para a actividade cl&iacute;nica. Em Espanha, a carga burocr&aacute;tica que se faz sentir sobre a Medicina Familiar &eacute; muito significativa. O que pretendemos &eacute; ganhar tempo para aquilo que constitui o cerne da nossa profiss&atilde;o: a presta&ccedil;&atilde;o de assist&ecirc;ncia m&eacute;dica. Nesse sentido, propomos v&aacute;rias medidas que visam introduzir mudan&ccedil;as na organiza&ccedil;&atilde;o dos centros de sa&uacute;de e na carga hor&aacute;ria dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, com o objectivo de permitir a concilia&ccedil;&atilde;o da vida profissional com a vida familiar. No nosso programa, dedicamos tamb&eacute;m muito espa&ccedil;o &agrave; necessidade de realizar programas de cuidados espec&iacute;ficos para os doentes cr&oacute;nicos, na perspectiva da Medicina Familiar. Por outro lado, consideramos que &eacute; essencial desenvolver um amplo programa de investiga&ccedil;&atilde;o nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, atrav&eacute;s da cria&ccedil;&atilde;o de uma ag&ecirc;ncia de investiga&ccedil;&atilde;o, de &acirc;mbito nacional, com capacidade e dimens&atilde;o para obter financiamento da Uni&atilde;o Europeia. Consideramos igualmente necess&aacute;rio que as revistas cient&iacute;ficas espanholas tenham o m&aacute;ximo impacto e import&acirc;ncia ao n&iacute;vel da especialidade. Afirmou, h&aacute; dias, numa interven&ccedil;&atilde;o sobre "Inova&ccedil;&atilde;o em cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios", que os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia espanh&oacute;is se sentem maltratados. O que fazer? A SemFYC &eacute; uma associa&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica muito forte. Mas os nossos associados pedem que sejamos mais do que uma sociedade cient&iacute;fica e nos ocupemos tamb&eacute;m dos aspectos laborais. Essa quest&atilde;o, que caberia mais aos sindicatos, tamb&eacute;m est&aacute; a ser tratada pela SemFYC, com o objectivo de melhorar as condi&ccedil;&otilde;es de trabalho dos profissionais. J&aacute; existe a Plataforma Diez Minutos, que exige, pelo menos, dez minutos de consulta com cada utente... Pretendemos ainda criar a Casa de la Atenci&oacute;n Prim&aacute;ria, que representar&aacute; n&atilde;o s&oacute; os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, mas tamb&eacute;m todos os outros profissionais que trabalham connosco nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, para podermos avan&ccedil;ar juntos no sentido de uma melhoria laboral e tamb&eacute;m assistencial. A Ministra da Sa&uacute;de e Pol&iacute;tica Social, Trinidad Jim&eacute;nez, pretende diminuir a despesa do servi&ccedil;o nacional de sa&uacute;de em milhares de milh&otilde;es de euros. De que forma esta conten&ccedil;&atilde;o de custos poder&aacute; afectar os cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios em Espanha? Estamos, neste momento, a elaborar um documento sobre a sustentabilidade do sistema de sa&uacute;de. &Eacute; preciso contestar os cortes anunciados com argumentos v&aacute;lidos. Pensamos que quando o que est&aacute; em jogo &eacute; a sustentabilidade do sistema, o Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de deveria apostar mais na Medicina Familiar, aumentando o financiamento dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. Est&aacute; comprovado, internacionalmente, que essa &eacute; a medida mais eficiente para aumentar a efectividade do sistema de sa&uacute;de. O caminho correcto n&atilde;o passa pela aposta no tecnicismo e na tecnologia de ponta, mas sim nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, que &eacute; onde pode ser resolvida a maioria dos problemas de sa&uacute;de dos cidad&atilde;os. Receamos, naturalmente, que os cortes anunciados por Trinidad Jim&eacute;nez possam afectar as carreiras profissionais dos nossos associados, no que diz respeito, por exemplo, &agrave;s remunera&ccedil;&otilde;es. Por outro lado, consideramos que os cortes or&ccedil;amentais deveriam recair sobre o que n&atilde;o &eacute; essencial para os cuidados ao cidad&atilde;o. O Minist&eacute;rio anunciou igualmente a sua inten&ccedil;&atilde;o de introduzir taxas moderadoras. O que pensa sobre essa medida? Quando ouvimos falar nisso, argumentamos com a experi&ecirc;ncia dos nossos colegas portugueses. Essa medida n&atilde;o funciona, at&eacute; porque, no momento de aplicar uma taxa, s&atilde;o introduzidas muitas excep&ccedil;&otilde;es. Por outro lado, receamos que o aparecimento de taxas moderadoras fa&ccedil;a com que aquelas pessoas que t&ecirc;m mais problemas de sa&uacute;de e s&atilde;o mais d&eacute;beis financeiramente, passem a ter menos acesso a um sistema que, at&eacute; agora, tem sido universal e equitativo. Outra grande quest&atilde;o &eacute; a de que j&aacute; existe uma taxa em Espanha, referente &agrave; aquisi&ccedil;&atilde;o de medicamentos. Consideramos que &eacute; pouco justa e que deveria ser revista. O que prop&otilde;em? Os pensionistas, por exemplo, n&atilde;o pagam nada pelos medicamentos. Os adultos activos, com doen&ccedil;as cr&oacute;nicas, t&ecirc;m tamb&eacute;m uma redu&ccedil;&atilde;o importante. Pensamos que a comparticipa&ccedil;&atilde;o deveria ter em considera&ccedil;&atilde;o a capacidade econ&oacute;mica de cada indiv&iacute;duo. Repare-se que h&aacute; muitos reformados que recebem boas pens&otilde;es... Num pa&iacute;s com cerca de 4 milh&otilde;es de desempregados, pensamos que essas taxas deveriam ser revistas, tornando-as mais equitativas. Espanha tem 17 comunidades aut&oacute;nomas. A Ministra da Sa&uacute;de referiu recentemente a necessidade de tornar as carteiras de servi&ccedil;os mais homog&eacute;neas. Concorda? N&atilde;o estamos a favor de limitar a carteira de servi&ccedil;os em Espanha, na medida em que isso &eacute; restritivo. Pelo contr&aacute;rio, defendemos que o que &eacute; necess&aacute;rio &eacute; nivelar "por cima" e n&atilde;o "por baixo". Quando numa comunidade aut&oacute;noma se introduz determinada pr&aacute;tica e se verifica que &eacute; ben&eacute;fica para a popula&ccedil;&atilde;o, defendemos que essa pr&aacute;tica e conhecimento devem ser transmitidos &agrave;s restantes regi&otilde;es. O facto de Espanha possuir 17 comunidades representa um campo de inova&ccedil;&atilde;o tremendamente importante, que pode provocar uma mudan&ccedil;a substancial nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. A Catalunha sempre esteve no topo da inova&ccedil;&atilde;o. Sendo catal&atilde;o, certamente que os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia v&atilde;o estar muito atentos &agrave;s suas propostas nesta &aacute;rea... Trabalho na unidade de investiga&ccedil;&atilde;o do Instituto Catal&atilde;o da Sa&uacute;de, no desenvolvimento de projectos europeus e &eacute; um facto de que a Catalunha &eacute; uma das comunidades aut&oacute;nomas de Espanha mais avan&ccedil;adas em termos de inova&ccedil;&atilde;o. Mas tamb&eacute;m regista problemas importantes, como todas as demais... Como presidente da SemFYC e, al&eacute;m disso, catal&atilde;o, &eacute; um trabalho do qual me sinto orgulhoso. Nomeadamente, pela participa&ccedil;&atilde;o da SemFYC em todas essas inova&ccedil;&otilde;es. Esperamos, agora, responder &agrave;s expectativas que depositaram em n&oacute;s. Em Espanha, com a crise, aumentou a press&atilde;o sobre os cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios? H&aacute; an&aacute;lises de todos os g&eacute;neros. Alguns especialistas referem o aumento das taxas de stress e de patologia mental mas isso n&atilde;o est&aacute; comprovado. O que verificamos &eacute; que diminu&iacute;ram os pedidos de certificados de incapacidade tempor&aacute;ria. As pessoas v&atilde;o trabalhar, mesmo estando doentes, com receio de perder o posto de trabalho...Anteriormente, provavelmente, n&atilde;o o fariam... A Espanha, que durante anos "exportou" m&eacute;dicos de fam&iacute;lia para o estrangeiro - incluindo Portugal - tem, neste momento, falta de m&eacute;dicos. O facto &eacute; que muitos deixaram o pa&iacute;s, n&atilde;o s&oacute; em busca de melhores retribui&ccedil;&otilde;es, mas tamb&eacute;m de condi&ccedil;&otilde;es de trabalho mais favor&aacute;veis. Como se explica que, de uma situa&ccedil;&atilde;o excedent&aacute;ria, Espanha tenha passado, em poucos anos, a uma situa&ccedil;&atilde;o de d&eacute;fice? A sua pergunta encerra v&aacute;rias quest&otilde;es. De facto, aquela "bolsa" de m&eacute;dicos que sa&iacute;am das universidades e que parecia que n&atilde;o iria terminar nunca, esgotou-se em quatro ou cinco anos. As universidades barraram o acesso, porque existia uma situa&ccedil;&atilde;o de excedente, e s&oacute; agora o voltaram a abrir. &Eacute; certo que com a aposenta&ccedil;&atilde;o dos mais velhos e a melhoria das condi&ccedil;&otilde;es retributivas, os m&eacute;dicos espanh&oacute;is deixaram de ir tanto para o estrangeiro, mas tudo isso &eacute; insuficiente. Formar um m&eacute;dico de fam&iacute;lia demora dez anos. Por isso, neste momento, Espanha est&aacute; a recrutar profissionais nos pa&iacute;ses do Leste e na Am&eacute;rica do Sul. Assistimos, muitas vezes, &agrave; incorpora&ccedil;&atilde;o de profissionais de outros pa&iacute;ses que n&atilde;o t&ecirc;m os mesmos standards ou que fizeram a sua forma&ccedil;&atilde;o num contexto distinto. Como homologar esses t&iacute;tulos e essas especializa&ccedil;&otilde;es? &Eacute; um repto que vamos ter que assimilar. Pensam criar condi&ccedil;&otilde;es para chamar os m&eacute;dicos que est&atilde;o a exercer em Portugal? &Eacute; que n&oacute;s, por c&aacute;, tamb&eacute;m estamos "nas lonas"... H&aacute; seis anos, de acordo com dados veiculados pela comunica&ccedil;&atilde;o social, estimava-se em dois mil os m&eacute;dicos espanh&oacute;is que estavam a trabalhar em Portugal. No 27&ordm; Encontro foram muitos os colegas que vieram cumprimentar-me... Mas respondendo &agrave; sua pergunta... Quando um m&eacute;dico regressa ao pa&iacute;s de origem, n&atilde;o lhe s&atilde;o reconhecidos os anos que trabalhou no estrangeiro, num sistema nacional de sa&uacute;de distinto. Nem em termos de antiguidade, nem de carreira profissional. Esse &eacute; um factor que limita muito o regresso dos nossos profissionais. E obviamente que iremos trabalhar no sentido de mudar essa situa&ccedil;&atilde;o. O seu mandato teve in&iacute;cio no passado dia 1 de Abril. Em Outubro vai ter lugar, em M&aacute;laga, a 16&ordf; Confer&ecirc;ncia da WONCA Europa... Duas d&eacute;cadas depois de Barcelona...Como se sente? De facto, o primeiro congresso da Wonca Europa teve lugar, em Barcelona, h&aacute; 20 anos. Duas d&eacute;cadas depois, repete-se em M&aacute;laga. Queremos que a Medicina Familiar espanhola - e tamb&eacute;m a portuguesa - encontrem, em M&aacute;laga, o espa&ccedil;o perfeito para mostrar &agrave; Europa e ao mundo o seu trabalho. Espanha e Portugal t&ecirc;m uma vis&atilde;o muito semelhante sobre o sistema nacional de sa&uacute;de, no que diz respeito &agrave; sua universalidade, acessibilidade e bem-estar. Estamos tamb&eacute;m, com a APMCG, na Confedera&ccedil;&atilde;o Ibero-Americana de Medicina Familiar, onde partilhamos a responsabilidade de transmitir, aos colegas da Am&eacute;rica Latina, o que de melhor fazemos. Partilhamos muito conhecimento e tamb&eacute;m uma grande amizade. Nesse sentido, somos sociedades irm&atilde;s. Qual &eacute; a sua opini&atilde;o sobre a reforma dos cuidados de sa&uacute;de, em curso no nosso pa&iacute;s? Vejo a reforma portuguesa como uma oportunidade!... Uma grande oportunidade que estamos a seguir com muito interesse. At&eacute; para, como vizinhos que somos, incorporarmos no nosso sistema tudo o que for poss&iacute;vel.

Terceiro espaço

Mais lidas