Jornal Médico - Saúde da criança e do jovem em debate

As IX Jornadas do Centro de Sa&uacute;de de Sacav&eacute;m, integradas nas I Jornadas do ACES VI-Loures... As IX Jornadas do Centro de Sa&uacute;de de Sacav&eacute;m, integradas nas I Jornadas do ACES VI-Loures, "s&atilde;o um momento muito especial da nossa vida profissional", refere a directora executiva do agrupamento, Ileine Lopes. Este ano, a problem&aacute;tica da crian&ccedil;a e do jovem foi o grande tema do debate, aberto n&atilde;o s&oacute; aos profissionais de sa&uacute;de e internos de medicina e enfermagem do ACES mas tamb&eacute;m de outras zonas do pa&iacute;s A sa&uacute;de da crian&ccedil;a e do jovem foi o tema central das I Jornadas do ACES VI - Loures e IX Jornadas do Centro de Sa&uacute;de de Sacav&eacute;m. O programa do encontro incluiu temas como as doen&ccedil;as prevalentes nas crian&ccedil;as, as altera&ccedil;&otilde;es no comportamento alimentar e patologias directamente relacionadas, como o s&atilde;o a diabetes e a obesidade. Na &aacute;rea de influ&ecirc;ncia do ACES, que integra os Centros de Sa&uacute;de de Sacav&eacute;m e de Loures, existe uma complexa comunidade de imigrantes. Da&iacute; o interesse da confer&ecirc;ncia sobre os h&aacute;bitos alimentares das diferentes culturas e grupos &eacute;tnicos. Como refere o m&eacute;dico de fam&iacute;lia Ant&oacute;nio Gravato, da comiss&atilde;o organizadora das Jornadas, "apesar da globaliza&ccedil;&atilde;o, existem diferen&ccedil;as importantes nas diversas culturas, que importa conhecer". A par da confer&ecirc;ncia de Elsa Feliciano, respons&aacute;vel do Projecto de Nutri&ccedil;&atilde;o da Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), sobre cultura alimentar, e da mesa redonda sobre alimenta&ccedil;&atilde;o e doen&ccedil;a, algumas das comunica&ccedil;&otilde;es e posters apresentados durante as Jornadas deram ainda maior &ecirc;nfase a esta problem&aacute;tica. &Eacute; o caso, por exemplo, do trabalho apresentado pela enfermeira Maria Filomena de Figueiredo, da USF Ars Medica, sobre alimenta&ccedil;&atilde;o vegetariana. De acordo com esta especialista em Enfermagem Comunit&aacute;ria, "Portugal est&aacute; a tornar-se p&aacute;tria de uma popula&ccedil;&atilde;o multicultural e multi-&eacute;tnica, em que a alimenta&ccedil;&atilde;o vegetariana &eacute; uma pr&aacute;tica comum em muitos grupos". Como os guias de diversifica&ccedil;&atilde;o alimentar existentes em Portugal incluem produtos de origem animal, n&atilde;o adaptados a esta realidade, a enfermeira desenvolveu um guia dedicado especialmente &agrave;s crian&ccedil;as vegetarianas. O objectivo do projecto &eacute; "ajudar os pais a promover uma alimenta&ccedil;&atilde;o vegetariana saud&aacute;vel, variada e equilibrada, evitando poss&iacute;veis desequil&iacute;brios nutricionais". 63,5% dos pais d&atilde;o nota m&aacute;xima &agrave; qualidade da Sa&uacute;de Infantil Ao n&iacute;vel da percep&ccedil;&atilde;o da qualidade das consultas de enfermagem em Sa&uacute;de Infantil, outro trabalho apresentado durante as Jornadas (da autoria de profissionais da unidade de sa&uacute;de de Santa Iria de Az&oacute;ia), revela que a maioria dos pais e acompanhantes de crian&ccedil;as (52,44%) que frequentam aquela unidade funcional do ACES, "opta por seguir as crian&ccedil;as nas nossas consultas pela satisfa&ccedil;&atilde;o relativamente ao servi&ccedil;o prestado". Os inqu&eacute;ritos realizados a 307 acompanhantes revelam que a maioria recomendaria os servi&ccedil;os a outras pessoas (99,3%) e uma ampla percentagem (63,5%) considera que s&atilde;o "excelentes". Ainda de acordo com os resultados do inqu&eacute;rito, os indicadores que registam maior satisfa&ccedil;&atilde;o dizem respeito &agrave; higiene, disponibilidade e interesse pela crian&ccedil;a e informa&ccedil;&atilde;o aos pais sobre sinais e sintomas alarmantes. Pelo contr&aacute;rio, as condi&ccedil;&otilde;es f&iacute;sicas da sala de espera, o n&uacute;mero de profissionais dispon&iacute;veis e o tempo que aguardam na unidade de sa&uacute;de pela consulta, s&atilde;o os itens que menos satisfazem. Taxa de referencia&ccedil;&atilde;o pedi&aacute;trica no CATUS &eacute; de 3,4% O problema das doen&ccedil;as mais prevalentes nas crian&ccedil;as foi amplamente debatido na confer&ecirc;ncia sobre gastroenterites, proferida por David Marques, do Centro Hospitalar de Lisboa Central, e na mesa redonda sobre A urg&ecirc;ncia em sa&uacute;de infantil, moderada pela m&eacute;dica de fam&iacute;lia Ana Raposo. A gastroenterite foi o tema da confer&ecirc;ncia do especialista David Marques, do Centro Hospitalar de Lisboa Central Como referiu Rita Santos, da USF Moscavide, "a sindroma febril na inf&acirc;ncia continua a ser uma causa importante de recurso aos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios e constitui um desafio cl&iacute;nico, pela necessidade de excluir doen&ccedil;as graves, nomeadamente infec&ccedil;&atilde;o bacteriana". A m&eacute;dica considera fundamental, no aconselhamento aos pais, o ensino da medi&ccedil;&atilde;o da temperatura corporal e a interpreta&ccedil;&atilde;o do quadro febril. O uso criterioso de antipir&eacute;ticos e a aplica&ccedil;&atilde;o de medidas de arrefecimento em caso de convuls&otilde;es, del&iacute;rio ou febre superior a 41,2&ordm; C foram outras tantas quest&otilde;es importantes referidas pela m&eacute;dica. Neste quadro de "urg&ecirc;ncias" pedi&aacute;tricas, Cristina Silveira, da USF S. Jo&atilde;o da Talha, falou sobre a pele da crian&ccedil;a e as v&aacute;rias patologias dermatol&oacute;gicas frequentes na pr&aacute;tica do m&eacute;dico de fam&iacute;lia. Nomeadamente, as dermatoses do per&iacute;odo neonatal, as doen&ccedil;as al&eacute;rgicas de express&atilde;o cut&acirc;nea e algumas doen&ccedil;as exantem&aacute;ticas. J&aacute; a pediatra Ana Casimiro, do Hospital de Dona Estef&acirc;nia, referiu, de forma abrangente, as v&aacute;rias causas de referencia&ccedil;&atilde;o &agrave; consulta de Pneumologia deste hospital pedi&aacute;trico. Nomeadamente, a etiologia do estridor, os diagn&oacute;sticos mais frequentes quando a tosse &eacute; um sintoma persistente ou a dispneia de origem psicossom&aacute;tica. Estes s&atilde;o alguns exemplos de situa&ccedil;&otilde;es frequentes nos servi&ccedil;os de urg&ecirc;ncia dos centros de sa&uacute;de, como &eacute; o caso do CATUS de Moscavide. De acordo com um trabalho realizado por v&aacute;rios m&eacute;dicos de fam&iacute;lia e internos do Centro de Sa&uacute;de de Sacav&eacute;m, relativo &agrave; caracteriza&ccedil;&atilde;o dos utentes pedi&aacute;tricos e o seu envio para os servi&ccedil;os hospitalares, verifica-se que a taxa de referencia&ccedil;&atilde;o no CATUS &eacute; da ordem dos 3,4%. Ou seja, a maioria dos casos de doen&ccedil;a aguda s&atilde;o resolvidos nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, como destacou Ana Raposo, uma das autoras do estudo. Nesta investiga&ccedil;&atilde;o, realizada em 2008, foram analisadas 3.490 fichas do CATUS, referentes a crian&ccedil;as e jovens. Destes, 460 n&atilde;o tinham m&eacute;dico de fam&iacute;lia atribu&iacute;do. A m&eacute;dia de idades das crian&ccedil;as ronda os 6,8 anos, sendo 51,4% do sexo feminino. As doen&ccedil;as do aparelho respirat&oacute;rio constituem o grupo de diagn&oacute;stico mais frequente. No entanto, entre os 3,4% de casos referenciados aos cuidados secund&aacute;rios, a patologia traum&aacute;tica surge em primeiro lugar. Psicologia alerta para o risco de medicaliza&ccedil;&atilde;o do insucesso escolar A medicaliza&ccedil;&atilde;o do insucesso escolar e o problema da crian&ccedil;a com doen&ccedil;a cr&oacute;nica no contexto familiar, foi outro ponto alto dos trabalhos, numa mesa redonda coordenada pela psic&oacute;loga Isabel Trindade. A Professora Lu&iacute;sa Barros, presidente do conselho cient&iacute;fico da Faculdade de Psicologia e Ci&ecirc;ncias da Educa&ccedil;&atilde;o da Universidade de Lisboa dedicou a sua interven&ccedil;&atilde;o &agrave; problem&aacute;tica da crian&ccedil;a com doen&ccedil;a cr&oacute;nica no contexto familiar De acordo com Isabel Matos e Margarida Miragaia, psic&oacute;logas cl&iacute;nicas do Centro de Sa&uacute;de de S. Jo&atilde;o da Talha, a medicaliza&ccedil;&atilde;o do insucesso escolar constitui um dos principais motivos de referencia&ccedil;&atilde;o de crian&ccedil;as &agrave; consulta de Psicologia pelos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia e pelos t&eacute;cnicos que integram as equipas de Sa&uacute;de Escolar. "Pressup&otilde;e-se que na origem da referencia&ccedil;&atilde;o est&aacute; a cren&ccedil;a de que a crian&ccedil;a sofre de uma doen&ccedil;a que a torna menos capaz para a aprendizagem escolar". No entanto, ambas as especialistas referem que "apenas uma pequena parte possui crit&eacute;rios para diagn&oacute;stico de perturba&ccedil;&otilde;es habitualmente associadas &agrave;s dificuldades de aprendizagem como, por exemplo, dislexia, perturba&ccedil;&atilde;o de hiperactividade com d&eacute;fice de aten&ccedil;&atilde;o ou d&eacute;fice cognitivo ligeiro". Na realidade, "a grande maioria destas crian&ccedil;as apresenta perturba&ccedil;&otilde;es emocionais que assentam, sobretudo, nas dificuldades dos pais em educar os filhos adequadamente". Nesse sentido, defendem que "caber&aacute; aos profissionais de sa&uacute;de detectar precocemente estas dificuldades e intervir, apoiando as fam&iacute;lias na sua tarefa de educar as crian&ccedil;as, transmitindo-lhes confian&ccedil;a e responsabilidade". NACJR de Sacav&eacute;m j&aacute; recebeu 160 sinaliza&ccedil;&otilde;es de crian&ccedil;as em risco No &acirc;mbito da interven&ccedil;&atilde;o da Sa&uacute;de junto de crian&ccedil;as e jovens v&iacute;timas de abuso e viol&ecirc;ncia, foi especialmente interessante a apresenta&ccedil;&atilde;o da experi&ecirc;ncia do N&uacute;cleo de Apoio a Crian&ccedil;as e Jovens em Risco (NACJR) do Centro de Sa&uacute;de de Sacav&eacute;m, coordenado pela m&eacute;dica de fam&iacute;lia Ana Paula Ramos. Recorde-se que os NACJR foram criados pelo Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de em 2008, com o objectivo de uniformizar procedimentos, permitir a detec&ccedil;&atilde;o precoce destas situa&ccedil;&otilde;es, o seu encaminhamento e a continuidade de cuidados. De acordo com Ana Paula Ramos, as sinaliza&ccedil;&otilde;es chegam ao N&uacute;cleo (o primeiro n&iacute;vel de interven&ccedil;&atilde;o), vindas das mais diversas fontes (escolas e t&eacute;cnicos de sa&uacute;de, entre outros). Depois de analisadas, &eacute; delineado um plano de interven&ccedil;&atilde;o onde se procura a participa&ccedil;&atilde;o activa da fam&iacute;lia e das entidades da comunidade que podem ajudar na resolu&ccedil;&atilde;o dos problemas. "Quando se considera estar em presen&ccedil;a de uma situa&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o de risco mas de perigo, o processo &eacute; encaminhado para a Comiss&atilde;o de Protec&ccedil;&atilde;o de Crian&ccedil;as e Jovens (o segundo n&iacute;vel de interven&ccedil;&atilde;o) e, em caso extremo, para o Minist&eacute;rio P&uacute;blico", explica a m&eacute;dica. Desde 2008, o NACJR de Sacav&eacute;m recebeu 160 sinaliza&ccedil;&otilde;es, que englobam cerca de 180 crian&ccedil;as, uma vez que existem processos em que constam v&aacute;rias crian&ccedil;as, normalmente irm&atilde;os. Cerca de 90 casos foram sinalizados por escolas, 14 por m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, 12 pela Comiss&atilde;o de Protec&ccedil;&atilde;o de Crian&ccedil;as e Jovens e os restantes, por diferentes entidades, como a Maternidade Alfredo da Costa, o Hospital Dona Estef&acirc;nia, o Servi&ccedil;o Social ou a Psicologia. A problem&aacute;tica dominante "&eacute; a neglig&ecirc;ncia, que engloba absentismo escolar, m&aacute; ou inexistente vigil&acirc;ncia de sa&uacute;de, falta de cuidados de higiene e alimenta&ccedil;&atilde;o, neglig&ecirc;ncia emocional, assim como crian&ccedil;as integradas em agregados familiares desestruturados ou de viol&ecirc;ncia", diz Ana Paula Ramos, explicando que, neste momento, est&atilde;o abertos 42 processos.

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