Jornal Médico - Médicos e enfermeiros brasileiros descobrem reforma portuguesa

Um grupo de seis profissionais de sa&uacute;de brasileiro esteve recentemente em Portugal... Um grupo de seis profissionais de sa&uacute;de brasileiros (quase todos integrados na Estrat&eacute;gia de Sa&uacute;de da Fam&iacute;lia, implementada pelo governo de Lula da Silva) esteve recentemente em Portugal, com o objectivo de conhecer de perto a realidade nacional associada aos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios e cuidados continuados, a reforma do sector e o quotidiano dos colegas lusos. No final da visita, o balan&ccedil;o revelou-se positivo e na bagagem seguiram boas impress&otilde;es sobre a autonomia das equipas de sa&uacute;de portuguesas e a boa qualidade das instala&ccedil;&otilde;es &Agrave; semelhan&ccedil;a do que aconteceu h&aacute; um ano atr&aacute;s, um grupo de m&eacute;dicos e enfermeiros brasileiros realizaram uma visita t&eacute;cnica a Portugal, com o objectivo de conhecerem a realidade dos CSP portugueses. A oportunidade de conhecer uma nova realidade, foi o pr&eacute;mio que os visitantes receberam por apresenta&ccedil;&otilde;es em forma de comunica&ccedil;&atilde;o oral, conto, poster, projecto em v&iacute;deo ou fotogr&aacute;fico, exibidas no 10&ordm; Congresso Brasileiro de Medicina de Fam&iacute;lia e Comunidade ou na I Mostra de Experi&ecirc;ncias de Enfermagem em Sa&uacute;de da Fam&iacute;lia, a partir de um total de trabalhos que superou as tr&ecirc;s mil propostas submetidas a concurso. O colectivo de profissionais de sa&uacute;de foi ainda acompanhado por Elisabeth Wartchow, directora substituta do Departamento de Aten&ccedil;&atilde;o B&aacute;sica (DAB) do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de brasileiro e respons&aacute;vel pela Coordena&ccedil;&atilde;o de Acompanhamento e Avalia&ccedil;&atilde;o da Aten&ccedil;&atilde;o B&aacute;sica no mesmo DAB. Durante v&aacute;rios dias, os t&eacute;cnicos de sa&uacute;de brasileiros tiveram a oportunidade de passar pelas Unidades de Sa&uacute;de Familiar (USF) Tornada e Marginal, bem como pela Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) Abra&ccedil;ar Queluz, sediada em Massam&aacute;. A visita &agrave; UCC Abra&ccedil;ar Queluz permitiu aos m&eacute;dicos e enfermeiros brasileiros perceberem como funciona uma equipa enraizada na comunidade, interligada com m&uacute;ltiplas institui&ccedil;&otilde;es locais Ouve ainda tempo para uma visita ao Agrupamento de Centros de Sa&uacute;de da Grande Lisboa I - Lisboa Norte (Sete Rios) e para contactos com respons&aacute;veis da ARSLVT e das unidades de miss&atilde;o para os cuidados continuados e integrados e para os cuidados prim&aacute;rios. Instala&ccedil;&otilde;es portuguesas merecem elogios Segundo Elisabeth Wartchow, o aspecto que mais captou a aten&ccedil;&atilde;o dos profissionais brasileiros foi a qualidade das instala&ccedil;&otilde;es visitadas: "no Brasil, a infra-estrutura n&atilde;o &eacute; t&atilde;o boa como a que encontr&aacute;mos aqui em Portugal, embora o n&uacute;mero e a qualidade das equipas de sa&uacute;de tenha vindo a aumentar entre n&oacute;s. A qualidade das instala&ccedil;&otilde;es &eacute; uma componente muito importante de valoriza&ccedil;&atilde;o da equipa. Quando as pessoas trabalham num local bonito e organizado, sentem-se mais valorizadas e confiantes, mais dispostas a trabalhar nos CSP". Mais ainda, a dirigente do DAB considera que "uma estrutura qualificada e acesso &agrave;s principais tecnologias s&atilde;o fundamentais para que os profissionais possam desenvolver um trabalho de qualidade, com repercuss&otilde;es positivas no imagin&aacute;rio das pessoas". No Brasil, muitas das equipas de sa&uacute;de trabalham em "instala&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias, em casas alugadas e adaptadas, por vezes em mau estado de conserva&ccedil;&atilde;o. Trata-se de um factor que acaba por influir negativamente na aprecia&ccedil;&atilde;o dos utentes", conclui Elisabeth Wartchow. A respons&aacute;vel do Minist&eacute;rio de Sa&uacute;de brasileiro ficou tamb&eacute;m surpreendida com a dimens&atilde;o do problema da falta de m&eacute;dicos nos centros de sa&uacute;de portugueses. Uma dificuldade tamb&eacute;m sentida no Brasil, onde a car&ecirc;ncia de m&eacute;dicos dispon&iacute;veis para trabalhar nos CSP tem prejudicado o alargamento da PSF: "tenho vindo a acompanhar a evolu&ccedil;&atilde;o dos CSP em Portugal e imaginava que a forma&ccedil;&atilde;o de profissionais para esta &aacute;rea fosse hoje maior do que realmente &eacute;, permitindo superar as dificuldades", nomeadamente, a da falta de recursos humanos. O Brasil iniciou, como Portugal, uma reforma dos CSP na &uacute;ltima d&eacute;cada e meia (as primeiras equipas de Sa&uacute;de da Fam&iacute;lia nasceram em 1994), com um redobrado esfor&ccedil;o e investimento por parte das autoridades estaduais e municipais a partir de 2003. &Eacute;, ali&aacute;s, a preponder&acirc;ncia dos poderes locais na gest&atilde;o dos CSP que parece estorvar uma evolu&ccedil;&atilde;o mais acelerada da PSF, como refere Elisabeth Wartchow: "em Portugal existe uma estrat&eacute;gia e uma condu&ccedil;&atilde;o centralizadas. J&aacute; no Brasil, assistimos a uma grande autonomia das unidades estaduais e municipais". Autonomia lusa seria bem-vinda em algumas partes do Brasil Anderson Alarc&atilde;o, m&eacute;dico de fam&iacute;lia na Cidade de Goi&aacute;s, mostrou-se especialmente agradado, na sua vinda a Portugal, com a organiza&ccedil;&atilde;o dos servi&ccedil;os, que na sua perspectiva surge em absoluto contraste com a realidade brasileira: "venho da regi&atilde;o central do Brasil, onde o pensamento dos profissionais relativamente &agrave; organiza&ccedil;&atilde;o dos cuidados &eacute; de natureza bem diferente. Infelizmente, verifico aqui o quanto estamos atrasados" nesta &aacute;rea. Para o m&eacute;dico de Goi&aacute;s, a maioria dos m&eacute;dicos naquele estado "n&atilde;o apresenta um compromisso para com a popula&ccedil;&atilde;o que serve, mas antes consigo pr&oacute;prio. Muitos deles, mal chegam &agrave; unidade j&aacute; est&atilde;o a olhar para o rel&oacute;gio e a pensar na hora de sair". Anderson Alarc&atilde;o sublinha ainda a pouca vis&atilde;o de muitos gestores locais dos munic&iacute;pios e o facto de toda a estrat&eacute;gia de sa&uacute;de ser delineada e controlada pelos munic&iacute;pios: "diria que os profissionais de sa&uacute;de s&atilde;o pouco mais do que meros espectadores". Em Massam&aacute;, a comitiva cruzou-se com o coordenador da USF Mactam&atilde;, Ant&oacute;nio Fraz&atilde;o, no momento em que este acompanhava uma das suas utentes J&aacute; C&eacute;sar Titton, m&eacute;dico de Curitiba e vencedor do I Concurso de Contos Sa&uacute;de da Fam&iacute;lia (institu&iacute;do no &acirc;mbito do 10&ordm; Congresso Brasileiro de Medicina de Fam&iacute;lia e Comunidade) acredita que, em conjunto com os restantes colegas, leva de Portugal ideias frescas para a sua pr&aacute;tica cl&iacute;nica di&aacute;ria. "Da mesma forma que algumas coisas funcionaram bem aqui e podem ser exportadas para o Brasil, outras solu&ccedil;&otilde;es testadas l&aacute; e que deram bons resultados poder&atilde;o ser &uacute;teis para os colegas portugueses", defende o m&eacute;dico. Titton confessa que quase todos sentiram "uma enorme vontade de trabalhar nos locais visitados, de fazer parte daquelas equipas. Vimos ambientes nos quais as pessoas se sentiam satisfeitas e motivadas. Os fundamentos desta reforma (que passam por deixar a cargo das equipas a responsabilidade de se escolherem, assim como a capacidade de gest&atilde;o dos seus espa&ccedil;os e da organiza&ccedil;&atilde;o do trabalho) oferecem uma maneabilidade desconhecida no Brasil. Entre n&oacute;s, essa autonomia &eacute; travada a um n&iacute;vel municipal". Sistemas de informa&ccedil;&atilde;o criticados em Portugal seriam uma b&ecirc;n&ccedil;&atilde;o em Terras de Vera Cruz Em grande parte dos centos de sa&uacute;de portugueses, os sistemas de informa&ccedil;&atilde;o (SI) s&atilde;o fonte de frustra&ccedil;&atilde;o e desagrado dos profissionais. Todavia, C&eacute;sar Titton destaca o facto destes SI representarem uma ferramenta que, pese embora as suas limita&ccedil;&otilde;es, muito &uacute;til seria nos CSP brasileiros, onde se encontram apenas suportes tecnol&oacute;gicos pontuais: "o meu munic&iacute;pio &eacute; um caso de excep&ccedil;&atilde;o no Brasil, j&aacute; que tem computadores na unidade de sa&uacute;de, algo que n&atilde;o acontece na generalidade dos locais. Apesar de termos uma op&ccedil;&atilde;o inform&aacute;tica, esta solu&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se compara com o SAM e com as outras alternativas que os colegas portugueses utilizam no dia-a-dia. Importante manter partilha luso-brasileira de experi&ecirc;ncias Conservar as liga&ccedil;&otilde;es entre Portugal e o Brasil, no &acirc;mbito da troca de informa&ccedil;&otilde;es, da avalia&ccedil;&atilde;o dos CSP e desenvolvimento t&eacute;cnico dos respectivos profissionais, &eacute; uma tarefa que deve ser acarinhada pelos dois pa&iacute;ses, defende Elisabeth Wartchow, para quem &eacute; importante manter e ampliar este tipo de interc&acirc;mbio: "serei, daqui em diante, uma das principais defensoras destas iniciativas. N&atilde;o s&oacute; ao n&iacute;vel de visitas curtas, mas tamb&eacute;m atrav&eacute;s da conviv&ecirc;ncia das diferentes classes profissionais atrav&eacute;s de est&aacute;gios. Temos de aproveitar a nossa proximidade do ponto de vista da l&iacute;ngua e da cultura. Para os profissionais de sa&uacute;de portugueses &eacute; tamb&eacute;m uma pr&aacute;tica enriquecedora, j&aacute; que ter&atilde;o oportunidade de perceber como n&oacute;s, apesar de todas as dificuldades e das instala&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias, somos capazes de desenvolver cuidados de qualidade, com impacto positivo na sa&uacute;de da popula&ccedil;&atilde;o". Lu&iacute;s Pisco, ap&oacute;s reuni&atilde;o com este grupo de m&eacute;dicos e enfermeiros brasileiros, manifestou ao nosso jornal o seu total apoio a todos os projectos que visem promover o interc&acirc;mbio entre actores de diferentes sistemas de sa&uacute;de: "todos somos capazes de fazer coisas bem, de ser competentes em m&uacute;ltiplas tarefas. O que significa que nos podemos inspirar uns nos outros, neste caso naquilo que foi conseguido em Portugal e no Brasil. Colocar os profissionais e os dirigentes dos dois pa&iacute;ses a falar uns com os outros, a identificar boas pr&aacute;ticas, ser&aacute; sempre um processo ben&eacute;fico". O coordenador da Miss&atilde;o para os Cuidados de Sa&uacute;de Prim&aacute;rios relembra que os contactos entre os dois pa&iacute;ses - no que respeita &agrave;s experi&ecirc;ncias em CSP - t&ecirc;m sido irregulares ao longo do tempo. Ainda assim, confia que no futuro a situa&ccedil;&atilde;o conhecer&aacute; novos contornos: "como &eacute; sabido, foi assinado um protocolo entre os dois Minist&eacute;rios da Sa&uacute;de e as duas associa&ccedil;&otilde;es nacionais de m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, facto que permitir&aacute; intensificar as rela&ccedil;&otilde;es". Lu&iacute;s Pisco est&aacute; convicto de que os profissionais dos dois pa&iacute;ses s&oacute; ter&atilde;o a beneficiar com um maior conhecimento do que se passa, ao n&iacute;vel dos CSP, nos dois lados do Atl&acirc;ntico: "na &aacute;rea da interven&ccedil;&atilde;o comunit&aacute;ria, o Brasil faz um excelente trabalho e pode-nos dar pistas muito interessantes. Por outro lado, n&oacute;s detemos infra-estruturas e programas inform&aacute;ticos que os maravilharam e que lhe podem servir de matriz. Estamos, portanto, face um benef&iacute;cio m&uacute;tuo".

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