Jornal Médico - Luís Campos defende: Doenças crónicas têm de ser prioridade da governação

Metade da popula&ccedil;&atilde;o portuguesa (54%) sofre de uma doen&ccedil;a cr&oacute;nica... Metade da popula&ccedil;&atilde;o portuguesa (54%) sofre de uma doen&ccedil;a cr&oacute;nica, sendo a c&aacute;rie dent&aacute;ria a mais prevalente, logo seguida da hipertens&atilde;o arterial, dor cr&oacute;nica, perturba&ccedil;&otilde;es mentais e rinite al&eacute;rgica. Uma situa&ccedil;&atilde;o que se tem vindo a agravar, com cerca de mais 2,5%/ano de doentes no grupo dos idosos. Uma situa&ccedil;&atilde;o especialmente preocupante se se tiver em conta que estas doen&ccedil;as s&atilde;o respons&aacute;veis por cerca de 60 a 80% das despesas em sa&uacute;de, garantem os especialistas. Debater o impacto das doen&ccedil;as cr&oacute;nicas e definir estrat&eacute;gias de actua&ccedil;&atilde;o a este n&iacute;vel foram os grandes objectivos do II F&oacute;rum Internacional sobre o Doente Cr&oacute;nico, organizado nos passados dias 30 de Abril e 1 de Maio, em Lisboa, pelo N&uacute;cleo de Estudos de Doen&ccedil;as Auto-Imunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna O Inqu&eacute;rito Nacional de Sa&uacute;de 2005/2006 refere que 5,2 milh&otilde;es de portugueses (54% da popula&ccedil;&atilde;o) sofrem de, pelo menos, uma doen&ccedil;a cr&oacute;nica: cerca de 2,6 milh&otilde;es (29%) sofre de duas ou mais e cerca de tr&ecirc;s por cento da popula&ccedil;&atilde;o portuguesa sofre de cinco ou mais doen&ccedil;as cr&oacute;nicas (DC). De acordo com o coordenador do N&uacute;cleo de Estudos de Doen&ccedil;as Auto-Imunes (NEDAI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Lu&iacute;s Campos, as DC "est&atilde;o a crescer em todo o mundo ocidental com o aumento da esperan&ccedil;a m&eacute;dia de vida, mas tamb&eacute;m devido aos comportamentos e ao aumento dos factores de risco, como a obesidade e o tabaco". Face &agrave; preval&ecirc;ncia crescente destas patologias, o NEDAI organizou a segunda edi&ccedil;&atilde;o do F&oacute;rum Internacional do Doente Cr&oacute;nico, que reuniu v&aacute;rios especialistas em torno desta tem&aacute;tica, procurando medir o impacto das DC, apontar estrat&eacute;gias de gest&atilde;o e definir uma resposta integrada para este problema a n&iacute;vel nacional e europeu. O encontro decorreu a 30 de Abril e 1 de Maio, no Centro de Congressos de Lisboa e contou com a parceria da Associa&ccedil;&atilde;o Portuguesa de M&eacute;dicos de Cl&iacute;nica Geral. Neste II F&oacute;rum, j&aacute; com um car&aacute;cter internacional, procurou-se relan&ccedil;ar a discuss&atilde;o sobre as doen&ccedil;as cr&oacute;nicas e sensibilizar os v&aacute;rios stakeholders para a necessidade de as tornar uma prioridade da pol&iacute;tica de sa&uacute;de. Com a participa&ccedil;&atilde;o de alguns dos mais conceituados especialistas nesta &aacute;rea, a iniciativa revelou-se como uma excelente oportunidade de actualiza&ccedil;&atilde;o sobre o impacto das DC, o que se est&aacute; a fazer em Portugal e na Europa no sentido de melhorar os cuidados aos doentes cr&oacute;nicos e de colocar em evid&ecirc;ncia os principais dilemas que os sistemas de sa&uacute;de enfrentam. Ritmo de crescimento "bastante acentuado" De acordo com o director do servi&ccedil;o de Medicina IV do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO), o ritmo de crescimento das doen&ccedil;as cr&oacute;nicas &eacute; "bastante acentuado": cerca de um por cento ao ano na popula&ccedil;&atilde;o em geral e cerca de 2,5% nos idosos. O especialista de Medicina Interna lamenta que Portugal n&atilde;o tenha "bons estudos epidemiol&oacute;gicos... Existe o Inqu&eacute;rito Nacional de Sa&uacute;de e o estudo feitos pelas sociedades cient&iacute;ficas que, regra geral, calculam para o dobro as estimativas do Instituto Nacional de Estat&iacute;stica, porque incluem tamb&eacute;m os doentes n&atilde;o diagnosticados". Segundo dados do inqu&eacute;rito, a c&aacute;rie dent&aacute;ria &eacute; a DC mais prevalente, atingindo 54% da popula&ccedil;&atilde;o, seguindo-se a hipertens&atilde;o arterial (HTA), com 42%, a dor cr&oacute;nica (31%), as perturba&ccedil;&otilde;es mentais (23%) e a rinite al&eacute;rgica, que atinge 20,5% da popula&ccedil;&atilde;o. Estima-se, ainda, que as DC representem entre 60 a 80% das despesas totais em sa&uacute;de. Abordagem "reactiva" Muitos destes doentes s&atilde;o tratados nos servi&ccedil;os de urg&ecirc;ncia. "Est&atilde;o a ser tratados de uma forma reactiva, baseada nos epis&oacute;dios agudos", lamentou Lu&iacute;s Campos. Para melhorar a resposta aos doentes cr&oacute;nicos, o coordenador do NEDAI defende a necessidade de se identificarem "os diferentes tipos de popula&ccedil;&atilde;o e os diferentes tipos de risco", para se definir uma "resposta adequada". Essa resposta adequada, no entender do especialista, "tem de ser pr&oacute;-activa, baseada em equipas multidisciplinares que incluam um m&eacute;dico, um enfermeiro, um assistente social, um farmac&ecirc;utico e um dietista, para que sejam capazes de avaliar as necessidades das pessoas e dar-lhes uma resposta integrada". Mas o desafio de centrar o sistema de sa&uacute;de nos cuidados ao doente cr&oacute;nico n&atilde;o passa apenas por aqui (ver caixa), sustenta. Na &oacute;ptica do presidente do II F&oacute;rum Internacional sobre o Doente Cr&oacute;nico, &eacute; preciso aprender com "o que se tem feito de bom", nomeadamente "as metas conseguidas em algumas doen&ccedil;as no PNS 2004-2010, o trabalho das coordena&ccedil;&otilde;es nacionais de v&aacute;rias doen&ccedil;as e o trabalho desenvolvido no &acirc;mbito do departamento de qualidade na divis&atilde;o da gest&atilde;o integrada da doen&ccedil;a". Respostas integradas precisam-se! Para Lu&iacute;s Campos, as doen&ccedil;as cr&oacute;nicas deviam ser encaradas como uma "prioridade da governa&ccedil;&atilde;o". Para isso, explicou, t&ecirc;m de se estimular "projectos-piloto" nesta &aacute;rea - especialmente os que envolvam uma maior coordena&ccedil;&atilde;o entre os v&aacute;rios n&iacute;veis de cuidados; encontrar formas de financiamento que possibilitem o aparecimento desses projectos e; estimular o desenvolvimento de lideran&ccedil;as a n&iacute;vel nacional, regional e nas organiza&ccedil;&otilde;es". Igualmente fundamental, no entender do especialista, &eacute; "apoiar um melhor conhecimento sobre a &aacute;rea das DC, particularmente sobre a epidemiologia destas doen&ccedil;as, que ainda &eacute; escasso, o seu impacto econ&oacute;mico e a qualidade dos cuidados prestados". Estudar formas de descrimina&ccedil;&atilde;o positiva na atrac&ccedil;&atilde;o de jovens m&eacute;dicos para especialidades nucleares do sistema de sa&uacute;de como a Medicina Geral e Familiar (MGF), a Medicina Interna e a Pediatria, foi outra das sugest&otilde;es apontadas pelo presidente do F&oacute;rum, como essencial na gest&atilde;o futura das DC. Em jeito de conclus&atilde;o, o director do servi&ccedil;o de Medicina IV do CHLO lan&ccedil;ou um desafio: "porque n&atilde;o criar uma coordena&ccedil;&atilde;o nacional para os doentes cr&oacute;nicos?". Como fazer frente ao desafio das doen&ccedil;as cr&oacute;nicas? - Identificar o risco das popula&ccedil;&otilde;es: uma coisa &eacute; um doente jovem com uma doen&ccedil;a isolada e outra, completamente diferente, um doente idoso com multimorbilidades e v&aacute;rios tipos de necessidades: de cuidados m&eacute;dicos, de enfermagem, de reabilita&ccedil;&atilde;o, de apoio social, entre outros. - A import&acirc;ncia de dar respostas adequadas &agrave;s necessidades das pessoas, compatibilizando programas verticais com programas horizontais. - Capacitar as pessoas para o auto-cuidado e para serem verdadeiros parceiros no processo de presta&ccedil;&atilde;o de cuidados. As associa&ccedil;&otilde;es de doentes t&ecirc;m que ser envolvidas neste processo de mudan&ccedil;a. - Apostar em equipas multidisciplinares que preparem as altas, mas que acompanhem de forma activa o doente quando este sai do hospital e sejam capazes de avaliar e dar resposta integrada aos v&aacute;rios tipos de necessidades dos doentes. - Reconhecer as vantagens de estas equipas terem enfermeiros dietistas, fisioterapeutas, farmac&ecirc;uticos, assistentes sociais e, naturalmente, internistas e m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, que articular&atilde;o com as outras especialidades quando necess&aacute;rio. - Implementar solu&ccedil;&otilde;es que permitam ao doente manter a comunica&ccedil;&atilde;o com os hospitais e os centros de sa&uacute;de quando t&ecirc;m d&uacute;vidas, o que aumentar&aacute; seguramente a seguran&ccedil;a dos doentes e poupar&aacute; desloca&ccedil;&otilde;es desnecess&aacute;rias aos hospitais e centros de sa&uacute;de. - Desenvolver tecnologias de informa&ccedil;&atilde;o e comunica&ccedil;&atilde;o que permitam a circula&ccedil;&atilde;o dos registos cl&iacute;nicos, que seja utilizada para educar os doentes de forma interactiva, para possibilitar o acesso a protocolos por parte dos profissionais e a sistemas de apoio &agrave; decis&atilde;o, que permitam a prescri&ccedil;&atilde;o electr&oacute;nica, uma forma eficaz de diminuir o erro.

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