Jornal Médico - Teste de paternidade já é vendido em farmácias portuguesas

Os portugueses j&aacute; podem realizar testes de paternidade, sem qualquer media&ccedil;&atilde;o de um profissional de sa&uacute;de, atrav&eacute;s de kits &agrave; venda nas farm&aacute;cias de oficina... Os portugueses j&aacute; podem realizar testes de paternidade, sem qualquer media&ccedil;&atilde;o de um profissional de sa&uacute;de, atrav&eacute;s de kits &agrave; venda nas farm&aacute;cias de oficina. A novidade abre uma janela de oportunidade no que respeita &agrave; autonomia do indiv&iacute;duo, &agrave; sua privacidade e &agrave; economia de meios mas suscita, simultaneamente, reservas, dada a possibilidade de se deixar algu&eacute;m sem apoio e aconselhamento especializado, perante o resultado de um teste que, seja ele qual for, ter&aacute;, certamente, repercuss&otilde;es na sua estabilidade emocional Uma empresa nacional acaba de lan&ccedil;ar no mercado portugu&ecirc;s o primeiro teste de paternidade an&oacute;nimo, de venda livre em farm&aacute;cias. O novo dispositivo, designado por UNODNA Trust e comercializado pela empresa UNODNA, consegue comparar dois perfis de ADN, o do alegado pai e o do filho ou filha em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; qual se pretende estabelecer a paternidade, por interm&eacute;dio de dois kits. Estes kits - um para cada um dos "testados" - possibilitam a recolha de amostras de saliva (esfrega&ccedil;o esterilizado com ponta de espuma), que depois devem ser transferidas para cart&otilde;es especiais j&aacute; fornecidos nos kits. Estes cart&otilde;es permitem preservar as amostras durante um tempo consider&aacute;vel, j&aacute; que est&atilde;o munidos (por exemplo) de componentes bactericidas e anti-f&uacute;ngicos. As amostras s&atilde;o ent&atilde;o remetidas em envelopes RSF para um dos dois laborat&oacute;rios que trabalham em parceria com a UNODNA, onde &eacute; feita a compara&ccedil;&atilde;o dos perfis de ADN. Uma das principais novidades deste teste &eacute; o facto de vir acompanhado por um CD-ROM com uma aplica&ccedil;&atilde;o inform&aacute;tica que tem, necessariamente, que ser instalada no computador pessoal do comprador, j&aacute; que &eacute; atrav&eacute;s dela que ser&aacute; gerido todo o processo de comunica&ccedil;&atilde;o e apresentados os resultados finais. Para tal, o utente dever&aacute; registar na aplica&ccedil;&atilde;o dois c&oacute;digos num&eacute;ricos que se encontram inscritos nos kits de recolha. S&oacute; no seguimento deste rigoroso protocolo poder&aacute; o cidad&atilde;o que comprou o teste obter todas as informa&ccedil;&otilde;es de que necessita (em que local se encontram, a cada momento as amostras, se j&aacute; foram alvo de an&aacute;lise, etc.). &Eacute;, igualmente, atrav&eacute;s desta aplica&ccedil;&atilde;o e de uma liga&ccedil;&atilde;o &agrave; Internet que o utilizador ter&aacute; acesso aos resultados da compara&ccedil;&atilde;o entre perfis gen&eacute;ticos. A empresa que comercializa este teste garante que todo o processo &eacute; mantido no anonimato e que &eacute; imposs&iacute;vel obter resultados inconsistentes, por for&ccedil;a do manuseio incorrecto do equipamento de recolha. De facto, apontam os respons&aacute;veis pelo produto, pela forma como os cart&otilde;es especiais de recolha foram desenvolvidos, ou se conseguem perfis gen&eacute;ticos completos, ou estes ficam simplesmente inutilizados. Um alerta importante feito pela empresa, &eacute; o de este teste n&atilde;o ter validade legal. Isto porque para manter o anonimato do processo, se torna imposs&iacute;vel comprovar a origem das amostras. Embora carregue este inconveniente, o UNODNA Trust oferece algumas vantagens importantes. Desde logo, a "poupan&ccedil;a" de desloca&ccedil;&otilde;es e a submiss&atilde;o a procedimentos formais que poderiam inibi-la (ou que a levariam mesmo a prescindir deste g&eacute;nero de tecnologia, por pura vergonha, constrangimento ou medo). A companhia que vende este teste assegura, acima de tudo, que a facilidade e a comodidade do UNODNA Trust n&atilde;o interferem no seu n&iacute;vel de fiabilidade e que este &eacute; compar&aacute;vel aos testes tradicionais, realizados em laborat&oacute;rios e cl&iacute;nicas. Em paralelo, o UNODNA Trust desenha o BI gen&eacute;tico de cada indiv&iacute;duo e pode tornar-se um elemento importante em casos de desaparecimento, rapto, etc.. O teste &eacute; uma ideia 100% nacional, j&aacute; que o seu conceito e operacionaliza&ccedil;&atilde;o foram desenvolvidos por institui&ccedil;&otilde;es cient&iacute;ficas, acad&eacute;micas e comerciais sedeadas em Portugal. Op&ccedil;&atilde;o mais barata e democratizadora... para quem tem computador M&aacute;rio Mendes, respons&aacute;vel da empresa UNODNA, afirmou ao nosso jornal que o teste j&aacute; se encontra dispon&iacute;vel em muitas farm&aacute;cias portuguesas e que, em breve, poder&aacute; tamb&eacute;m ser adquirido em parafarm&aacute;cias. Este produto garante, de acordo com a companhia, m&aacute;ximo n&iacute;vel de anonimato. Ningu&eacute;m saber&aacute; - em qualquer fase do processo - a identidade de quem comprou o teste e recolheu as amostras, inclusive o laborat&oacute;rio que proceder&aacute; &agrave; an&aacute;lise das mesmas. A UNODNA possui protocolos com dois laborat&oacute;rios, um localizado em territ&oacute;rio nacional (a STAB Vida, spin-off do Instituto de Tecnologia Qu&iacute;mica e Biol&oacute;gica - Universidade Nova de Lisboa) e outro situado nos EUA. Neste momento, a STAB Vida (uma institui&ccedil;&atilde;o com larga experi&ecirc;ncia na an&aacute;lise e sequencia&ccedil;&atilde;o de ADN) est&aacute; a ser privilegiada na recep&ccedil;&atilde;o das amostras e tem capacidade para analisar dezenas de testes por semana. Caso o volume de solicita&ccedil;&otilde;es aumente consideravelmente, poder&aacute; entrar em campo o laborat&oacute;rio norte-americano associado, habituado a processar grandes quantidades de amostras. O teste an&oacute;nimo de paternidade UNODNA Trust j&aacute; est&aacute; &agrave; venda nas farm&aacute;cias portuguesas, prometendo despoletar um interessante debate sobre as fronteiras entre o aconselhamento m&eacute;dico e a privacidade individual, nos dom&iacute;nios da gen&eacute;tica e da identidade familiar "N&atilde;o determinamos o pre&ccedil;o final deste teste nas farm&aacute;cias, porque a guerra de pre&ccedil;os &eacute; algo que nos ultrapassa, mas julgo que o pre&ccedil;o final rondar&aacute; os 250 euros. Este referencial ir&aacute; variar de local de venda para local de venda. Em compara&ccedil;&atilde;o com o custo de um teste convencional, feito presencialmente num laborat&oacute;rio, o valor da nossa proposta poder&aacute; ser mais interessante. Neste momento, temos testes convencionais que custam mais de mil euros. Os mais baratos, rondam os 400 euros", explica M&aacute;rio Mendes. O respons&aacute;vel da UNODNA acredita que a facilidade de compra e de uso deste teste ir&aacute; suscitar alguma discuss&atilde;o p&uacute;blica, em torno de quest&otilde;es bio&eacute;ticas, deontol&oacute;gicas, morais e filos&oacute;ficas: "este teste traz uma t&oacute;nica de democratiza&ccedil;&atilde;o a tecnologias que, daqui a alguns anos e com o advento de novidades como as terapias gen&eacute;ticas, se tornar&atilde;o habituais e perder&atilde;o qualquer dimens&atilde;o de mist&eacute;rio". Al&eacute;m do mais, M&aacute;rio Mendes considera que muitos dos obst&aacute;culos e abusos conjecturados relativamente a este novo teste podem acontecer, tamb&eacute;m, no processo tradicional, em ambiente cl&iacute;nico: "a recolha de uma amostra num menor, feita contra a vontade do c&ocirc;njuge ou de quem partilha a responsabilidade parental, pode acontecer num laborat&oacute;rio convencional, da mesma forma que pode ser feito um uso ilegal do nosso teste. Os usos indevidos do nosso produto est&atilde;o previstos e o utilizador &eacute; alertado para esse tipo de uso indevido, quando instala a aplica&ccedil;&atilde;o que acompanha o teste. Ao utilizador &eacute; tamb&eacute;m sugerido que se informe sobre os procedimentos legais relacionados com a recolha de amostras". O dirigente da UNODNA est&aacute; persuadido de que o teste conhecer&aacute; "uma lenta, progressiva, mas segura ascens&atilde;o" no mercado portugu&ecirc;s, uma vez que se revelar&aacute; necess&aacute;rio um determinado grau de habitua&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica ao conceito. Embora o teste UNODNA Trust se apresente com pergaminhos de democratiza&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica (elimina potenciais barreiras e estigmas, aproxima a sequencia&ccedil;&atilde;o gen&eacute;tica do cidad&atilde;o comum) &eacute;, em simult&acirc;neo, uma ferramenta activa da infoexclus&atilde;o."Neste momento, n&atilde;o temos nenhuma alternativa para as pessoas sem computador em casa. A n&atilde;o ser a sugest&atilde;o, em caso de absoluta necessidade, da pessoa se dirigir a um laborat&oacute;rio convencional, onde encontrar&aacute; t&eacute;cnicos capacitados para a aconselhar", avan&ccedil;a M&aacute;rio Mendes. Teste sem apoio m&eacute;dico pode revelar-se perturbador O presidente do Conselho Nacional de &Eacute;tica para as Ci&ecirc;ncias da Vida (CNECV) e professor de &Eacute;tica M&eacute;dica e Bio&eacute;tica na Universidade de Medicina da Universidade de Lisboa, Miguel Oliveira da Silva, recordou ao M&eacute;dico de Fam&iacute;lia que o CNECV emitiu um parecer h&aacute; alguns anos a prop&oacute;sito da quest&atilde;o dos cidad&atilde;os obterem acesso directo a este g&eacute;nero de testes, em alternativa ao cen&aacute;rio no qual um m&eacute;dico solicita o teste, ap&oacute;s aconselhar o utente. "Na minha opini&atilde;o - e na dos restantes conselheiros do CNECV, expressa em parecer - &eacute; aconselh&aacute;vel que seja sempre um m&eacute;dico a pedir estes testes. Muitas pessoas n&atilde;o sabem interpretar os resultados e, n&atilde;o raras vezes, surgem resultados inconcludentes que apenas servem para baralhar e gerar maior ansiedade". Os testes de paternidade de venda livre podem gerar m&uacute;ltiplas quest&otilde;es, em particular, sob o ponto de vista m&eacute;dico, a de os seus utilizadores recorrem a eles abdicando de qualquer acompanhamento cl&iacute;nico Em rela&ccedil;&atilde;o ao UNODNA Trust, Miguel Oliveira da Silva diz n&atilde;o conhecer pessoalmente o teste, pelo que prefere n&atilde;o comentar as vantagens ou desvantagens que este alegadamente oferece. Ainda assim, o presidente do CNECV admite que o novo dispositivo poder&aacute; promover ambiguidade, d&uacute;vida e mesmo a suspeita de que o mesmo se encontre nos limites da lei: "penso que, segundo a lei portuguesa, para se fazer um teste gen&eacute;tico tem de existir uma requisi&ccedil;&atilde;o feita por um m&eacute;dico. Isto apesar de sabemos, obviamente, que existem hoje muitas formas de contornar a lei, em particular atrav&eacute;s do recurso &agrave; Internet". Na perspectiva de Miguel Oliveira da Silva, &eacute; importante garantir que os portugueses n&atilde;o recorrem a testes inseguros, pouco fi&aacute;veis e de objectivo exclusivamente comercial, sem esquecer a necessidade de apoio adequado e devido a quem procura respostas. Assim, o respons&aacute;vel do CNECV relembra o impacto que os resultados deste tipo de testes podem ter, caso a pessoa seja apanhada desprevenida: "alguns estudos dizem-nos que 2% a 3% dos cidad&atilde;os n&atilde;o s&atilde;o filhos biol&oacute;gicos de quem julgam ser. Se as pessoas querem enveredar por este caminho e conhecer a verdade, t&ecirc;m de estar psicologicamente preparadas para as consequ&ecirc;ncias. Ou seja, se estes testes n&atilde;o s&atilde;o feitos por raz&otilde;es m&eacute;dico-legais - mas apenas por curiosidade - deve existir sempre um aconselhamento m&eacute;dico e, se poss&iacute;vel, o apoio de uma consulta de aconselhamento gen&eacute;tico".

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