Jornal Médico - Os CSP na era da multimorbilidade

Barbara Starfield encerrou, com chave de ouro, a 19&ordf; Confer&ecirc;ncia Mundial da WONCA... Barbara Starfield, m&eacute;dica e investigadora norte-americana com um vasto trabalho na &aacute;rea dos CSP, encerrou, com chave de ouro, a 19&ordf; Confer&ecirc;ncia Mundial da WONCA. Numa confer&ecirc;ncia intitulada O Futuro da Medicina Geral e Familiar, a professora de Gest&atilde;o e Pol&iacute;ticas de Sa&uacute;de da Johns Hopkins University apontou o peso dos cuidados prim&aacute;rios e especializados, na "era da multimorbilidade", concluindo que os sistemas de sa&uacute;de orientados para os CSP apresentam "uma maior equidade, melhores outcomes e um controlo mais eficaz da despesa", entre outras mais-valias. Uma mensagem que n&atilde;o &eacute; de agora, mas que ganha um novo f&ocirc;lego quando enquadrada nos Objectivos para o Novo Mil&eacute;nio - mote da reuni&atilde;o magna dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia de todo o mundo, em Cancun "Ainda que a sa&uacute;de seja indubitavelmente influenciada por diversos factores sociodemogr&aacute;ficos, a forte orienta&ccedil;&atilde;o de um sistema de sa&uacute;de para os cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios (CSP) &eacute; uma estrat&eacute;gia pol&iacute;tica de impacto relevante, na medida em que tem um efeito preciso e relativamente r&aacute;pido no que concerne &agrave; preven&ccedil;&atilde;o da progress&atilde;o da doen&ccedil;a e da morbilidade, nomeadamente em idades jovens". Esta foi a grande mensagem deixada por Barbara Starfield, na confer&ecirc;ncia de encerramento da 19&ordf; Confer&ecirc;ncia Mundial da WONCA, em Cancun. Numa breve an&aacute;lise sobre o futuro da Medicina Geral e Familiar (MGF), a professora da Johns Hopkins University - figura incontorn&aacute;vel em mat&eacute;ria de investiga&ccedil;&atilde;o em pol&iacute;ticas de sa&uacute;de, gest&atilde;o e organiza&ccedil;&atilde;o em CSP - sublinhou que "no momento em que vivemos - a era da multimorbilidade - cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios e cuidados especializados t&ecirc;m um peso e uma import&acirc;ncia diferente", que devem ser tidos em conta pelos decisores pol&iacute;ticos, na hora de pensar os recursos humanos em sa&uacute;de. Vantagens de uma orienta&ccedil;&atilde;o para os CSP De acordo com a especialista norte-americana, h&aacute; evid&ecirc;ncia que demonstra que os sistemas de sa&uacute;de orientados para os CSP apresentam "uma maior equidade, melhores outcomes e um controlo mais eficaz da despesa", entre outros benef&iacute;cios. A ideia de que os sistemas de sa&uacute;de devem ter um focus nos CSP n&atilde;o &eacute; nova - e j&aacute; foi defendida, nomeadamente, pela OMS (ver tabela 1) -, mas ganha um novo f&ocirc;lego quando enquadrada nos Objectivos para o Novo Mil&eacute;nio, escolhidos como tema central da confer&ecirc;ncia mundial da WONCA. Um estudo norte-americano de 2009 (Phillips et al., Health Aff) mostrou que "os adultos e crian&ccedil;as com acesso a um m&eacute;dico de fam&iacute;lia (MF) - por oposi&ccedil;&atilde;o a um internista, pediatra ou subespecialista - necessitaram de menos consultas, apresentaram uma despesa anual em sa&uacute;de menor, registaram menos 25% de consumo de medicamentos prescritos e afirmaram ter uma melhor acessibilidade aos cuidados". Isto n&atilde;o quer dizer que os cuidados secund&aacute;rios/especializados sejam menos importantes no sistema de sa&uacute;de... "Importa, isso sim, perceber qual o ratio ideal de m&eacute;dicos especialistas/n&atilde;o generalistas por popula&ccedil;&atilde;o e identificar o ponto em que o n&uacute;mero destes profissionais se torna disfuncional", explicou Starfield. Sabendo que "a referencia&ccedil;&atilde;o inadequada para cuidados especializados leva a um excesso de exames e consequente aumento de resultados falsos positivos, bem como a piores outcomes em sa&uacute;de, entende-se que conferir um maior destaque aos CSP permite, simultaneamente, assegurar que os cuidados especializados s&atilde;o mais apropriados, logo, mais eficazes", concluiu a conferencista. Estrat&eacute;gias para a mudan&ccedil;a nos sistemas de sa&uacute;de Segundo Barbara Starfield, h&aacute; um conjunto de estrat&eacute;gias que permitem "focar" os sistemas de sa&uacute;de nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios e implementar esta "mudan&ccedil;a necess&aacute;ria". Entre os aspectos a desenvolver, para conquistar um maior enfoque nos CSP, a professora de Gest&atilde;o e Pol&iacute;ticas de Sa&uacute;de destacou, em Cancun, o fortalecimento da rela&ccedil;&atilde;o entre a MGF e a Sa&uacute;de P&uacute;blica, com os CSP a recuperarem a sua vertente de preven&ccedil;&atilde;o da doen&ccedil;a e promo&ccedil;&atilde;o da sa&uacute;de. A adop&ccedil;&atilde;o de regimes remunerat&oacute;rios adequados e o desenvolvimento de sistemas de informa&ccedil;&atilde;o que sirvam os CSP, s&atilde;o outras das estrat&eacute;gias incontorn&aacute;veis nesta demanda. Igualmente importante &eacute; o planeamento adequado dos recursos humanos, evitando-se um excedente de m&eacute;dicos especialistas; a presta&ccedil;&atilde;o de cuidados centrados na pessoa e nas suas necessidades e problemas espec&iacute;ficos (utiliza&ccedil;&atilde;o do ICPC); o trabalho em equipa e a capacidade de responder &agrave; multimorbilidade. Conclus&otilde;es "intrigam" editor do BMJ Domhnall MacAuley, editor do British Medical Journal (BMJ) para os CSP, marcou presen&ccedil;a na WONCA 2010, em Cancun, relatando diariamente os principais momentos da confer&ecirc;ncia no blogue do BMJ. Sobre a confer&ecirc;ncia de Barbara Starfield, MacAuley salienta que a especialista "pregou aos convertidos" e que seria muito mais importante espalhar a sua mensagem fora do seio da comunidade de MF. O editor do BMJ afirmou-se "intrigado" com uma das conclus&otilde;es apresentadas por Starfield. "Quanto mais forma&ccedil;&atilde;o os generalistas/MF recebem em cuidados especializados, maior a probabilidade de referencia&ccedil;&atilde;o. Parece-me contraproducente sugerir que a forma&ccedil;&atilde;o pode ser prejudicial...", notou. Por&eacute;m, "Starfield redimiu-se, ao enfatizar a import&acirc;ncia de educar os MF na gest&atilde;o da multimorbilidade", sublinhou MacAuley. Aspectos que distinguem a presta&ccedil;&atilde;o de cuidados de sa&uacute;de convencionais da presta&ccedil;&atilde;o de CSP centrados na pessoa Cuidados convencionais em ambulat&oacute;rio Programas de controlo de doen&ccedil;as CSP centrados na pessoa Focus na doen&ccedil;a e na cura Focus nas doen&ccedil;as priorit&aacute;rias Focus nas necessidades em sa&uacute;de Rela&ccedil;&atilde;o limitada ao momento da consulta Rela&ccedil;&atilde;o limitada ao tempo de implementa&ccedil;&atilde;o do programa Rela&ccedil;&atilde;o pessoal duradoura/continuada no tempo Cuidados curativos epis&oacute;dicos Interven&ccedil;&otilde;es no controlo da doen&ccedil;a definidas pelo programa Cuidados cont&iacute;nuos, abrangentes e personalizados Responsabilidade limitada aos conselhos de seguran&ccedil;a e efic&aacute;cia dados ao paciente no momento da consulta Responsabilidade por metas de controlo de doen&ccedil;a entre a amostra populacional definida Responsabilidade pela sa&uacute;de de toda uma comunidade durante todo o seu ciclo de vida; responsabilidade na preven&ccedil;&atilde;o e identifica&ccedil;&atilde;o de determinantes de sa&uacute;de/doen&ccedil;a Os utentes s&atilde;o consumidores dos cuidados que compram/pagam As amostras populacionais definidas s&atilde;o alvo de interven&ccedil;&otilde;es de controlo de doen&ccedil;a Os utentes s&atilde;o co-respons&aacute;veis na gest&atilde;o da sua doen&ccedil;a/sa&uacute;de, bem como da comunidade em que se inserem Fonte: OMS - The World Health Report 2008: Primary Health Care - Now more then ever. Genebra, Su&iacute;&ccedil;a, 2008.

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