Jornal Médico - Projecto inovador cria oficinas terapêuticas para idosos

O psiquiatra Pedro Macedo est&aacute; a liderar um novo projecto que visa a cria&ccedil;&atilde;o de oficinas terap&ecirc;uticas em unidades do ACES Oeste Norte... {mosimage} O psiquiatra Pedro Macedo, que tem desenvolvido programas inovadores no &acirc;mbito da Psicogeriatria - nomeadamente, na Cl&iacute;nica Passeio da Estrela e no Centro Hospitalar Psiqui&aacute;trico de Lisboa - est&aacute; a liderar um novo projecto que visa a cria&ccedil;&atilde;o de oficinas terap&ecirc;uticas em unidades do Agrupamento de Centros de Sa&uacute;de Oeste Norte. A USF Tornada poder&aacute; ser a primeira a avan&ccedil;ar O trabalho do psiquiatra Pedro Macedo, no &acirc;mbito da Psicogeriatria, teve in&iacute;cio no Hospital Miguel Bombarda, em 2001, com a cria&ccedil;&atilde;o de um servi&ccedil;o que inclu&iacute;a hospital de dia e internamento. A Unidade de Psiquiatria da Pessoa Idosa nasceu da rela&ccedil;&atilde;o e do trabalho de Pedro Macedo com os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia. Essa parceria com a Medicina Familiar tem sido uma constante no percurso do m&eacute;dico. "Tudo foi sendo constru&iacute;do com a percep&ccedil;&atilde;o das necessidades dos utentes, dos centros de sa&uacute;de e atrav&eacute;s de um trabalho em equipa com os colegas dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios". J&aacute; nessa altura, "os doentes eram referenciados pelos centros de sa&uacute;de, de acordo com um modelo pr&oacute;prio de referencia&ccedil;&atilde;o". At&eacute; porque "h&aacute; coisas que n&atilde;o se conseguem apreender no hospital. A necessidade de compreender os contextos, o ambiente familiar, a hist&oacute;ria da pessoa, requer a proximidade da Medicina Familiar". Na maior parte das dem&ecirc;ncias, as perdas cognitivas n&atilde;o ocorrem de um momento para o outro. "V&atilde;o-se instalando progressivamente, num processo extremamente complexo que requer, por vezes, um duplo ou triplo diagn&oacute;stico". Nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios existe uma proximidade com os doentes e as fam&iacute;lias, muito diferente da que ocorre no hospital. "Mesmo pedindo a uma assistente social para avaliar uma situa&ccedil;&atilde;o, nunca conseguimos ter a mesma percep&ccedil;&atilde;o que os colegas dos CSP, que trabalham num contexto de grande identidade e proximidade com os doentes, conhecem a fam&iacute;lia, o ambiente social e toda a rede de apoio". Trabalho em equipa na Cl&iacute;nica Passeio da Estrela Esta abordagem, baseada no conhecimento do doente e n&atilde;o apenas do sintoma, &eacute; um factor cr&iacute;tico do trabalho realizado por Pedro Macedo, nomeadamente na Cl&iacute;nica Passeio da Estrela, uma institui&ccedil;&atilde;o especializada na investiga&ccedil;&atilde;o, diagn&oacute;stico e tratamento de patologias do envelhecimento. Para o especialista, o tratamento n&atilde;o farmacol&oacute;gico &eacute; t&atilde;o importante como o farmacol&oacute;gico. &Eacute; tamb&eacute;m diferente para cada tipo de doen&ccedil;a - de acordo com as suas caracter&iacute;sticas e as incapacidades que provoca - e para cada pessoa, em fun&ccedil;&atilde;o do seu percurso de vida, da personalidade e daquilo que lhe &eacute; mais significativo. As v&aacute;rias t&eacute;cnicas utilizadas visam trabalhar a mem&oacute;ria, a linguagem, o corpo, o movimento, a capacidade de resolver problemas e desempenhar tarefas. E acima de tudo, "promover a dignidade, o bem-estar e a autonomia das pessoas". Ao encontro daquilo que &eacute; importante Na sequ&ecirc;ncia do trabalho pioneiro desenvolvido no Hospital Miguel Bombarda e, a partir de Outubro de 2004, na Cl&iacute;nica Passeio da Estrela, a direc&ccedil;&atilde;o do Centro Hospitalar Psiqui&aacute;trico de Lisboa desafiou Pedro Macedo para criar a &Aacute;rea de Dia do Servi&ccedil;o de Psicogeriatria. Um antigo pavilh&atilde;o do hospital foi totalmente remodelado e transformado, segundo o conceito de Pedro Macedo. O espa&ccedil;o tornou-se confort&aacute;vel, atractivo e adequado &agrave; concretiza&ccedil;&atilde;o das terapias que desenvolve para o tratamento destes doentes. Incluem desde fotografia, escultura, pintura, m&uacute;sica, escrita e leitura, &agrave; jardinagem e culin&aacute;ria. Velhos s&atilde;o os grandes marginalizados Do ponto de vista de Pedro Macedo, "os velhos constituem, hoje, um dos grupos mais marginalizados da sociedade. A maioria das solu&ccedil;&otilde;es que conhecemos passam por tentar satisfazer as chamadas necessidades b&aacute;sicas - higiene, alimenta&ccedil;&atilde;o, etc. - mas raras vezes se pensa na pessoa ou se tenta compreend&ecirc;-la". Ora, nos processos patol&oacute;gicos ligados ao envelhecimento, "o mais importante n&atilde;o &eacute; pedir exames e prescrever medicamentos, mas olhar e observar, relacionarmo-nos com a pessoa e procurarmos novas formas de interven&ccedil;&atilde;o, al&eacute;m da palavra. Alguns dos nossos doentes j&aacute; estiveram completamente do lado de l&aacute;. Mas o que &eacute; um facto &eacute; que muitos conseguiram recuperar o suficiente para continuarem as suas vidas". "O envelhecimento n&atilde;o pode ser terra de ningu&eacute;m. Temos que ter capacidade, coragem e energia para ir implementando novas terapias", diz Pedro Macedo Mesmo em rela&ccedil;&atilde;o aos casos que apresentam uma diminui&ccedil;&atilde;o muito significativa das fun&ccedil;&otilde;es cognitivas, "n&atilde;o nos podemos colocar na posi&ccedil;&atilde;o de considerar que j&aacute; n&atilde;o h&aacute; nada a fazer. Se os abandonarmos, ent&atilde;o a deteriora&ccedil;&atilde;o ser&aacute; cada vez maior". Tudo &eacute; pensado em fun&ccedil;&atilde;o do doente Entre outras formas de interven&ccedil;&atilde;o, o m&eacute;dico assinala "a leitura e o trabalho realizado em torno dos livros, em associa&ccedil;&atilde;o com muitos outros elementos, como a m&uacute;sica, a escrita, a linguagem...". A dramatiza&ccedil;&atilde;o terap&ecirc;utica &eacute; outra linha de trabalho, atrav&eacute;s da utiliza&ccedil;&atilde;o de t&eacute;cnicas de teatro. Tamb&eacute;m a jardinagem, o movimento, a narrativa de uma hist&oacute;ria atrav&eacute;s da fotografia, s&atilde;o t&eacute;cnicas que, utilizadas com um sentido de continuidade, "funcionam como mediadores que visam melhorar o funcionamento cognitivo da pessoa". Ao n&iacute;vel da pintura, escultura e m&uacute;sica, Pedro Macedo tem vindo a trabalhar com os museus. O mais importante n&atilde;o &eacute; a visita propriamente dita, mas "o conhecimento de uma obra em concreto, que poder&aacute; funcionar como um elemento catalisador de um processo criativo por parte do doente", esclarece. Em casa, nos centros de dia, nos lares, "o problema &eacute; que ficam para ali sentados todo o dia, a ver televis&atilde;o ...", desabafa o m&eacute;dico. Em contrapartida, "ao fazermos este trabalho, que visa tratar os doentes - e n&atilde;o ocup&aacute;-los - despoletamos as capacidades escondidas do doente, devolvendo-lhe vida. H&aacute; muitas fam&iacute;lias que nos dizem que, atrav&eacute;s da nossa interven&ccedil;&atilde;o, os idosos voltam a participar na vida familiar, a executar tarefas, a dizer como se faz. Em definitivo, a sentir que t&ecirc;m um lugar e uma tarefa a desempenhar. Isso d&aacute;-lhes um sentido de utilidade, que tinham perdido, mas que &eacute; fundamental". USF Tornada deu o primeiro passo Al&eacute;m do seu trabalho na Cl&iacute;nica Passeio da Estrela e na CHPL, Pedro Macedo colabora com o Centro Hospitalar Oeste Norte, onde tem desenvolvido um trabalho em grande proximidade com os cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. Uma primeira experi&ecirc;ncia na USF Tornada serviu de pontap&eacute; de partida para este novo projecto: no &acirc;mbito das consultas de Psicogeriatria, est&atilde;o em constitui&ccedil;&atilde;o oficinas terap&ecirc;uticas para estes doentes. Ana Pisco, coordenadora da USF Tornada Progressivamente, a ideia &eacute; alargar o projecto a todas as unidades de sa&uacute;de do Agrupamento de Centros de Sa&uacute;de (ACES) Oeste Norte mas, "como dispomos de poucos recursos, vamos come&ccedil;ar na USF Tornada e no Centro de Sa&uacute;de das Caldas da Rainha". Al&eacute;m do envolvimento dos profissionais de sa&uacute;de - o trabalho em equipa com a Medicina Familiar &eacute; um dado adquirido -, estas oficinas ir&atilde;o contar com a colabora&ccedil;&atilde;o de artistas locais, de diversas &aacute;reas: m&uacute;sica, cer&acirc;mica, movimento, dramatiza&ccedil;&atilde;o... Envelhecimento n&atilde;o pode ser "terra de ningu&eacute;m" Dentro de alguns anos, cerca de 35% da popula&ccedil;&atilde;o portuguesa ter&aacute; mais de 65 anos. "A Medicina n&atilde;o pode cair no paradoxo de dar mais tempo de vida &agrave;s pessoas para depois deixar que vivam anos e anos sentadas em cadeiras de rodas", alerta o m&eacute;dico. "A quest&atilde;o &eacute; demasiadamente s&eacute;ria para enterramos a cabe&ccedil;a na areia. &Eacute; preciso trabalhar com estes doentes, desenvolver processos terap&ecirc;uticos que lhes devolvam a identidade" Porque o envelhecimento "n&atilde;o pode ser terra de ningu&eacute;m", Pedro Macedo considera que "temos de ter a capacidade, a coragem e a energia para ir encontrando solu&ccedil;&otilde;es". O projecto que, dentro em breve, iniciar&aacute; na USF Tornada, dar&aacute; seguimento &agrave; abordagem e tratamento de pessoas com perdas cognitivas, realizada em colabora&ccedil;&atilde;o com profissionais que trabalham no terreno e conhecem bem a realidade das popula&ccedil;&otilde;es.

Terceiro espaço

Mais lidas