Jornal Médico - USF Kosmus suspensa… Por falta de mobilidade

A USF Kosmus, a instalar na Parede e integrada no ACES de Cascais, re&uacute;ne todas as condi&ccedil;&otilde;es para iniciar actividade. As obras de adapta&ccedil;&atilde;o do im&oacute;vel custaram meio milh&atilde;o de euros e o equipamento, j&aacute; todo entregue, 90 mil. S&oacute; falta mesmo... A aprova&ccedil;&atilde;o da mobilidade de duas m&eacute;dicas A Unidade de Sa&uacute;de Familiar Kosmus, a instalar na Parede e integrada no agrupamento de centros de sa&uacute;de de Cascais, j&aacute; possui todas as condi&ccedil;&otilde;es para iniciar actividade. O espa&ccedil;o foi renovado (com um custo avaliado de quase meio milh&atilde;o de euros), o equipamento entregue, os profissionais est&atilde;o organizados para a miss&atilde;o e h&aacute; parecer t&eacute;cnico favor&aacute;vel da Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de de Lisboa e Vale do Tejo, desde Dezembro de 2009. S&oacute; falta mesmo... A aprova&ccedil;&atilde;o da mobilidade de duas m&eacute;dicas que trabalham em Rio de Mouro, sem as quais a unidade n&atilde;o sobrevive. Uma aprova&ccedil;&atilde;o que teima em n&atilde;o chegar Nos corredores da Unidade de Sa&uacute;de Familiar (USF) Kosmus, reina o sil&ecirc;ncio e salta a vista um cen&aacute;rio de in&eacute;rcia. Logo ao lado, no centro de sa&uacute;de, encontramos alguns dos mais de 30 mil utentes sem m&eacute;dico atribu&iacute;do que recorrem a consultas do dia. Muitos deles j&aacute; poderiam estar integrados nas listas da Kosmus - que arrancar&aacute; com um ficheiro global de 8500 utentes -, caso o projecto n&atilde;o estivesse parado e a aguardar pela autoriza&ccedil;&atilde;o de mobilidade de duas m&eacute;dicas de fam&iacute;lia (MF) que actualmente trabalham no Agrupamento de Centros de Sa&uacute;de (ACES) de Algueir&atilde;o/Rio de Mouro. A unidade congrega cinco MF (em fase posterior, est&aacute; planeada a incorpora&ccedil;&atilde;o de mais duas cl&iacute;nicas) e nasceu da vontade de um grupo de ex-internas da especialidade - quase todas formadas no ACES de Cascais, que apresentaram candidatura electr&oacute;nica em Junho de 2009. A equipa obteve um parecer t&eacute;cnico positivo da Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) em Dezembro do ano passado. Foram gastos perto de 490 mil euros na requalifica&ccedil;&atilde;o de instala&ccedil;&otilde;es da Parede (com melhorias, n&atilde;o s&oacute; nas alas a ocupar pela Kosmus, como tamb&eacute;m na capela adjacente), recebidos equipamentos no valor de 90 mil euros e reunidas todas as condi&ccedil;&otilde;es t&eacute;cnicas, log&iacute;sticas e humanas para acolher os doentes, a partir de Setembro. Todavia, tal n&atilde;o aconteceu porque a coordenadora, Ana Palma Rosa, e uma outra colega, ainda n&atilde;o receberam aval da ARSLVT para a sua mobilidade (est&atilde;o ambas vinculadas, ap&oacute;s conclus&atilde;o da especialidade, ao ACES de Algueir&atilde;o/Rio de Mouro). Segundo conseguimos apurar, o pedido de mobilidade recebeu, inclusive, parecer negativo por parte do director executivo do ACES de Algueir&atilde;o/Rio de Mouro, Fernando Santos, com a justifica&ccedil;&atilde;o de que aquela estrutura n&atilde;o poderia dispensar m&eacute;dicos, numa &eacute;poca de enormes car&ecirc;ncias. Situa&ccedil;&atilde;o transit&oacute;ria que se prolonga... para al&eacute;m do desej&aacute;vel A equipa da Kosmus redigiu uma carta conjunta, enviada a 12 de Agosto de 2010 ao conselho directivo da ARSLVT, com conhecimento para o secret&aacute;rio de Estado Adjunto e da Sa&uacute;de, respectivos ACES envolvidos e coordenador do Grupo Estrat&eacute;gico para a Reforma dos CSP, missiva na qual se refor&ccedil;ava a import&acirc;ncia de se concretizarem as mobilidades dos dois elementos, a bem da popula&ccedil;&atilde;o da Parede. Ap&oacute;s esta iniciativa, Ana Palma Rosa foi informada pelos servi&ccedil;os da ARS de que o seu pedido de mobilidade (remetido em finais de Junho deste ano) nem sequer chegara ao departamento de recursos humanos, pelo que enviou segunda e posteriormente terceira via do mencionado pedido, a 31 de Agosto e a 2 de Setembro. "Todo este processo me pareceu muito estranho, at&eacute; surreal", confidenciou a MF ao nosso jornal. De acordo com Ana Palma Rosa, &eacute; "natural que existam press&otilde;es por parte das diversas direc&ccedil;&otilde;es executivas de ACES, no sentido de chamar a si m&eacute;dicos que venham suprir as necessidades de utentes sem m&eacute;dico assistente"... Agora, j&aacute; &eacute; menos compreens&iacute;vel que se coloque em banho-maria um projecto que dar&aacute; m&eacute;dico a mais de oito mil utentes (que passar&atilde;o a 11 mil e seiscentos, quando a USF for alvo de alargamento) e que foi desenhado com conta, peso e medida. "No momento em que assin&aacute;mos contrato - em Julho - e em reuni&atilde;o de apresenta&ccedil;&atilde;o ao director executivo do ACES de Algueir&atilde;o/Rio de Mouro, expusemos desde logo a nossa inten&ccedil;&atilde;o de apresentar pedido de mobilidade para a nossa USF, cuja candidatura j&aacute; fora aprovada", acrescenta a coordenadora. Entretanto, apesar de estar na posse de todos estes elementos, a gest&atilde;o do ACES de Algueir&atilde;o foi nos &uacute;ltimos meses constituindo listas para as duas m&eacute;dicas que integram o projecto da Kosmus (listas que atingem as 1400 pessoas), atribuindo-lhes fam&iacute;lias pelas quais n&atilde;o se poder&atilde;o responsabilizar no futuro. "Quando as pessoas me perguntam se &eacute; desta que v&atilde;o ficar com um MF (neste caso eu), sou-lhes franca e digo-lhes que tenho um pedido de transfer&ecirc;ncia em curso, para um projecto ao qual gostaria de voltar. Quando n&atilde;o perguntam, omito a informa&ccedil;&atilde;o, porque n&atilde;o vale a pena frustrar expectativas", confessa a m&eacute;dica de fam&iacute;lia. Dedica&ccedil;&atilde;o a um sonho com dois anos Para j&aacute; e enquanto aguardam pela mobilidade das duas m&eacute;dicas colocadas em Rio de Mouro, as restantes tr&ecirc;s colegas localizadas na Parede continuam a ver doentes sem m&eacute;dico atribu&iacute;do. "Estamos colocadas como assistentes de Medicina Geral e Familiar, mas a ver utentes sem m&eacute;dico", lamenta a MF Catarina Castro. A equipa teme tamb&eacute;m que, em rela&ccedil;&atilde;o aos dois elementos que dar&atilde;o forma ao alargamento da USF Kosmus, mais tarde, se coloquem entraves. Uma dessas MF j&aacute; viu, ali&aacute;s, indeferido pedido de mobilidade a partir do ACES Oeste Sul. Do ponto de vista pessoal, Ana Palma Rosa n&atilde;o esconde o transtorno que toda esta situa&ccedil;&atilde;o lhe provoca, at&eacute; pelo grau de envolvimento que tem tido com o projecto: "tudo isto me toca de forma muito profunda, porque s&atilde;o dois anos de investimento profissional e, acima de tudo, pessoal. Durante os anos em que a candidatura correu, passei por uma gravidez e por uma licen&ccedil;a de maternidade. Andei com a crian&ccedil;a ao colo pelas reuni&otilde;es e trazia-a at&eacute; para as vistorias de obra. Enquanto coordenadora - e apesar de estar longe da Parede e dos acontecimentos - continuo a envolver-me o mais que posso". O compromisso da equipa da Kosmus com o seu projecto n&atilde;o est&aacute;, todavia, em causa. De tal forma que, quando as estruturas da ARSLVT sugeriram uma contra-proposta ao grupo (que passava por abrir a USF em Rio de Mouro, onde encontraria viabilidade instant&acirc;nea), as m&eacute;dicas da Kosmus recusaram a alternativa. "Fomos, sempre, fi&eacute;is ao desafio inicial. Mesmo quando surgiram contrariedades e quando cada uma de n&oacute;s recebeu convites para aderir a outras USF", conclui Ana Palma Rosa. ARS aceitar&aacute; mobilidades, uma vez instalado contingente estrangeiro de refor&ccedil;o Contactado pelo M&eacute;dico de Fam&iacute;lia, o vice-presidente da ARSLVT, Lu&iacute;s Afonso, reconheceu estar ao corrente da situa&ccedil;&atilde;o vivida na Kosmus, afirmando que os problemas relatados devem ser lidos num contexto mais amplo: "a car&ecirc;ncia de m&eacute;dicos que a ARSLVT atravessa n&atilde;o permite fazer as mobilidades livremente, como eu gostaria de as fazer. As duas m&eacute;dicas em causa foram colocadas num ACES (Algueir&atilde;o/Rio de Mouro) em que existe um total de sete m&eacute;dicos a solicitar no presente mobilidade para a Parede, Colares, Cac&eacute;m ou Amadora. Ou seja, embora estejamos totalmente empenhados na reforma e na abertura de novas USF, o conselho directivo n&atilde;o pode deixar cair as UCSP, desfalcar servi&ccedil;os. &Eacute; preciso recordar que, a determinado momento, n&atilde;o t&iacute;nhamos um &uacute;nico m&eacute;dico do quadro na institui&ccedil;&atilde;o de Rio de Mouro e que &eacute; necess&aacute;rio proteger aquela popula&ccedil;&atilde;o". O dirigente assegura que as dificuldades relacionadas com a escassez de MF na regi&atilde;o de Lisboa s&atilde;o conhecidas de Manuel Pizarro e de Ana Jorge e que o Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de poder&aacute; contornar parte do problema a breve trecho, atrav&eacute;s de um apoio externo: "estamos a aguardar que cheguem a Portugal m&eacute;dicos recrutados no estrangeiro. A nossa expectativa &eacute; que possam ser integrados j&aacute; em Novembro. Segue-se um breve per&iacute;odo, de uma ou duas semanas, para passagem de servi&ccedil;o e processos de integra&ccedil;&atilde;o local. Logo ap&oacute;s essa etapa, daremos seguimento imediato &agrave;s mobilidades de m&eacute;dicos que v&atilde;o constituir novas USF ou completar unidades j&aacute; existentes. Ou seja, n&atilde;o h&aacute; d&uacute;vidas de que a Kosmus ser&aacute; uma realidade!". Lu&iacute;s Afonso explica que o elevado n&uacute;mero de pedidos de aposenta&ccedil;&atilde;o verificados na ARSLVT, entre Julho de 2009 e de 2010, est&aacute; na origem de muitas das actuais dificuldades: "o conjunto de profissionais que est&atilde;o em carteira para serem aposentados n&atilde;o se compadece com o meu desejo, natural, de abrir mais USF. Neste momento, tenho de gerir meios escassos, de forma a conseguir dar equil&iacute;brio aos diversos pontos da Regi&atilde;o de Sa&uacute;de. &Eacute; preciso tamb&eacute;m entender que estamos a falar de um ACES (Cascais) onde j&aacute; existe um n&uacute;mero substancial de USF, facto que d&aacute; alguma protec&ccedil;&atilde;o &agrave; popula&ccedil;&atilde;o residente".

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