Jornal Médico - Jorge Galperín morre aos 75 anos

Morreu Jorge Galper&iacute;n, v&iacute;tima de doen&ccedil;a prolongada. Figura emblem&aacute;tica para a Medicina Geral e Familiar, cuja influ&ecirc;ncia extravasou fronteiras, Galper&iacute;n emerge como um dos profissionais de sa&uacute;de que mais se dedicou &agrave; consolida&ccedil;&atilde;o da especialidade em todo o mundo, Morreu Jorge Galper&iacute;n, v&iacute;tima de doen&ccedil;a prolongada. Figura emblem&aacute;tica para a Medicina Geral e Familiar, cuja influ&ecirc;ncia extravasou fronteiras, Galper&iacute;n emerge como um dos profissionais de sa&uacute;de que mais se dedicou &agrave; consolida&ccedil;&atilde;o da especialidade em todo o mundo, enquanto disciplina aut&oacute;noma e respeitada. Em Portugal, deixa saudades entre aqueles que com ele privaram e admira&ccedil;&atilde;o entre todos os que tiveram a oportunidade de o ouvir, uma vez que fosse, na defesa da sua bandeira Formado inicialmente em cirurgia, Jorge Galper&iacute;n entregou-se de alma e cora&ccedil;&atilde;o &agrave;s artes e saberes da Medicina Geral e Familiar (MGF), tornando-se professor titular de Medicina Familiar na Universidade Favaloro, em Buenos Aires. Desempenhou ainda fun&ccedil;&otilde;es enquanto director de Educa&ccedil;&atilde;o M&eacute;dica da Universidade de Buenos Aires (UBA), professor do Mestrado de Sa&uacute;de P&uacute;blica da mesma UBA, director do Centro Latino-Americano de Tecnologia Educacional para a Sa&uacute;de da Organiza&ccedil;&atilde;o Pan-Americana da Sa&uacute;de (OPAS) e vogal - entre 1990 e 1999 - da junta directiva do Centro Internacional de Medicina Familiar das Am&eacute;ricas, Espanha e Portugal (CIMF), institui&ccedil;&atilde;o precursora da Confedera&ccedil;&atilde;o Ibero-Americana de Medicina Familiar. Constituiu-se, em todos os sentidos, como um pioneiro da MGF no espa&ccedil;o latino-americano e ser&aacute; recordado, sobretudo, como um humanista e um comunicador de invulgar efic&aacute;cia. Parte do seu enorme carisma foi constru&iacute;da ao longo do tempo que passou exilado, fora da Argentina (ent&atilde;o sob um regime militar autorit&aacute;rio) e em contacto com in&uacute;meras facetas da Medicina de rosto humano. Uma Medicina praticada em diversos cantos da Am&eacute;rica Latina, onde a palavra e a empatia se impunham &agrave; tecnologia. De referir que o acad&eacute;mico e m&eacute;dico de fam&iacute;lia (MF) argentino foi um parceiro regular da Associa&ccedil;&atilde;o Portuguesa de M&eacute;dicos de Cl&iacute;nica Geral (APMCG), muito apreciado e acarinhado em todas as iniciativas formativas para as quais foi convidado. Em 1988, na cidade de Viseu, tornou-se memor&aacute;vel a sua interven&ccedil;&atilde;o em prol da Medicina Familiar e dos seus princ&iacute;pios basilares. Uma exposi&ccedil;&atilde;o capaz de arrancar forte aplausos da audi&ecirc;ncia do 5&ordm; Encontro Nacional de Cl&iacute;nica Geral. Quem esteve presente, n&atilde;o tem d&uacute;vidas em afirmar que este foi um dos momentos mais altos da especialidade ao longo das &uacute;ltimas tr&ecirc;s d&eacute;cadas, pela energia contagiante que Galper&iacute;n imprimiu ao seu discurso. Em 1992, Jorge Galper&iacute;n regressou para orientar o curso "Medicina de Fam&iacute;lia - Uma Realidade Actual", organizado pela Direc&ccedil;&atilde;o Distrital de Coimbra da APMCG e em Mar&ccedil;o de 2000 rumou a Lisboa, para a confer&ecirc;ncia "Medicina Geral e Familiar, Evolu&ccedil;&atilde;o e Futuro", realizada no audit&oacute;rio da Ordem dos M&eacute;dicos, com o apoio da APMCG e da Associa&ccedil;&atilde;o Sa&uacute;de em Portugu&ecirc;s. Na gala do jornal M&eacute;dico de Fam&iacute;lia, em 2006, iniciativa destinada a comemorar a cent&eacute;sima edi&ccedil;&atilde;o, Jorge Galper&iacute;n mereceu o estatuto de convidado de honra, com justa homenagem &agrave;s m&atilde;os do ministro da Sa&uacute;de da altura, Correia de Campos. O momento foi ainda aproveitado para brindar os colegas portugueses com a sua mestria ao piano, j&aacute; que Galper&iacute;n era - para al&eacute;m de um experiente m&eacute;dico e grande humanista - um mel&oacute;mano confesso. Adeus sentido... de colegas e amigos Trazendo &agrave; mem&oacute;ria uma entrevista que Jorge Galper&iacute;n concedeu ao nosso jornal, em Fevereiro de 2000, na qual aparecia retratado como um ilusionista, capaz de retirar com brilhantismo o coelho da Medicina Familiar da cartola, Eduardo Mendes lamenta: "o m&aacute;gico deixou-nos". Para o ex-presidente da APMCG e antigo presidente do CIMF, "&eacute; importante neste momento recordar o papel fundamental que ele teve para o desenvolvimento da MGF em Portugal, bem como tudo aquilo que os MF portugueses lhe devem, por fazer com enorme sucesso a introdu&ccedil;&atilde;o &agrave; Medicina Familiar no Encontro Nacional de Viseu". Para Eduardo Mendes, Galper&iacute;n mostrou ser "um amigo dos MF portugueses, facto comprovado pelo forte apoio que concedeu &agrave; nossa afirma&ccedil;&atilde;o no seio da comunidade internacional". Lu&iacute;s Rebelo, coordenador da Unidade de Sa&uacute;de Familiar Parque e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), foi um dos primeiros MF portugueses a beneficiar da experi&ecirc;ncia de Jorge Galper&iacute;n, gra&ccedil;as aos p&eacute;riplos que realizou a congressos e confer&ecirc;ncias levadas a cabo na regi&atilde;o da Am&eacute;rica Latina, durante a d&eacute;cada de 80. "A primeira reac&ccedil;&atilde;o que tive, ao saber do falecimento do Prof. Galper&iacute;n, foi de grande surpresa e emo&ccedil;&atilde;o. Era algu&eacute;m que tinha a capacidade de ver as coisas antes do seu tempo, um vision&aacute;rio e um defensor intransigente e coerente dos principais valores da MGF. A sua morte representa, sem sombra para d&uacute;vidas, uma perda irrepar&aacute;vel", avan&ccedil;a Lu&iacute;s Rebelo. Para o docente da FMUL, o colega argentino caracterizava-se por "um lado ut&oacute;pico, mas esclarecido". Acrescenta ainda que se tratava de "uma pessoa que marcou muito a gera&ccedil;&atilde;o mais veterana da MGF portuguesa. Na verdade, agarr&aacute;mo-nos muito a ele, para que o nosso mundo fizesse sentido". Em termos pessoais, Lu&iacute;s Rebelo considera que Galper&iacute;n lhe abriu os horizontes para conceitos t&atilde;o interessantes quanto a di&aacute;lise emocional, ou que lhe permitiu conquistar novas perspectivas sobre velhos problemas: "lembro-me daquela met&aacute;fora que utilizava, segundo a qual quem pilota um avi&atilde;o n&atilde;o sabe necessariamente andar de bicicleta. Isto a prop&oacute;sito da sempre dif&iacute;cil rela&ccedil;&atilde;o entre os MF e os m&eacute;dicos hospitalares e da ideia - comungada por muitos em surdina - de que para se ser um bom MF basta que se seja um m&eacute;dico hospitalar". Por &uacute;ltimo, o professor da FMUL salienta "os m&eacute;todos pedag&oacute;gicos extremamente inovadores" de que se valia Jorge Galper&iacute;n, ou o seu "brilhante controlo da palavra e da argumenta&ccedil;&atilde;o", instrumentos &uacute;teis para mostrar aos MF portugueses que estavam no caminho certo e para aumentar a sua auto-estima. Um homem atento &agrave; realidade portuguesa Lu&iacute;s Pisco, durante largos anos presidente da APMCG e cl&iacute;nico envolvido no fomento internacional da especialidade, lamenta o desaparecimento de um amigo pessoal, mas tamb&eacute;m de um companheiro de todos os MF e de Portugal: "o Prof. Galper&iacute;n enviava-nos mensagens amistosas para as comemora&ccedil;&otilde;es do 25 Abril, acompanhava o que passava no pa&iacute;s e por isso lhe devemos muito". De acordo com Lu&iacute;s Pisco, todos os que assistiram &agrave; comunica&ccedil;&atilde;o de Jorge Galper&iacute;n em Viseu, no ano de 1988, "renderam-se durante as horas que passaram a ouvi-lo". Numa sess&atilde;o memor&aacute;vel, plena de entusiasmo, Lu&iacute;s Pisco descobriu "um discurso motivador para os jovens MF que arrancavam na carreira. &Eacute; uma pena que as novas gera&ccedil;&otilde;es de MF n&atilde;o tenham a possibilidade de passar pela mesma experi&ecirc;ncia". J&aacute; para M&aacute;rio Moura, presidente honor&aacute;rio da APMCG, o papel de Galper&iacute;n no amadurecimento da especialidade em Portugal &eacute; indesment&iacute;vel: "a aceita&ccedil;&atilde;o das modernas no&ccedil;&otilde;es da MGF, entre n&oacute;s, deve-se muito aos cursos e palestras que Jorge Galper&iacute;n nos ofereceu. Encantava as pessoas com a sua maneira simples e, ao mesmo tempo, com a t&oacute;nica que colocava na valoriza&ccedil;&atilde;o dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios". M&aacute;rio Moura evoca tamb&eacute;m a famosa comunica&ccedil;&atilde;o de Viseu, que resultou "num &ecirc;xito estrondoso", bem como a proveitosa congrega&ccedil;&atilde;o de interesses entre a comunidade portuguesa de MF, a APMCG e o CIMF, estrutura &agrave; qual Jorge Galper&iacute;n sempre esteve ligado: "acab&aacute;mos por ser os transportadores, a partir do espa&ccedil;o latino-americano, dessa orienta&ccedil;&atilde;o mais global de cuidados, da integra&ccedil;&atilde;o dos gestos m&eacute;dicos num contexto familiar". Por &uacute;ltimo, M&aacute;rio Moura sublinha a personalidade franca do acad&eacute;mico argentino, que sempre favoreceu a proximidade inter-pares: "tinha um trato muito agrad&aacute;vel. Estava sempre atento &agrave; forma como as coisas evolu&iacute;am por c&aacute; e at&eacute; me enviava mensagens electr&oacute;nicas a agradecer, sempre que o citava nas minhas comunica&ccedil;&otilde;es".

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