Jornal Médico - Um contexto de prática do século XXI

Em 2006, a presen&ccedil;a da MGF no Hospital da Luz, foi considerada uma experi&ecirc;ncia audaz. Hoje, a unidade coordenada por Jo&atilde;o Sequeira Carlos... Em 2006, a presen&ccedil;a da Medicina Geral e Familiar no Hospital da Luz, foi considerada uma experi&ecirc;ncia audaz. Hoje, a unidade coordenada por Jo&atilde;o Sequeira Carlos &eacute; considerada um dos "factores de sucesso" do hospital e um parceiro essencial ao n&iacute;vel da continuidade e articula&ccedil;&atilde;o de cuidados A exist&ecirc;ncia da especialidade de Medicina Geral e Familiar &eacute;, provavelmente, "um dos factores de sucesso" do Hospital da Luz, afirmou Isabel Vaz, presidente da comiss&atilde;o executiva do Grupo Esp&iacute;rito Santo Sa&uacute;de, na sess&atilde;o de abertura do simp&oacute;sio MGF no sector privado - Um contexto de pr&aacute;tica". "N&atilde;o tenho a mais pequena d&uacute;vida de que a sustentabilidade futura dos modelos sociais de direito e de acesso &agrave; sa&uacute;de, de forma equitativa e universal, vai passar por uma estrat&eacute;gia correcta de encarar a Medicina Geral e Familiar", acrescentou aquela respons&aacute;vel. Relativamente &agrave; cria&ccedil;&atilde;o da Unidade de MGF do Hospital da Luz, Isabel Vaz defende que o futuro passa pela "continuidade e articula&ccedil;&atilde;o dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios com os secund&aacute;rios". Na sua perspectiva, "os grupos que estiverem preparados para o fazer, sejam p&uacute;blicos ou privados", s&atilde;o os que v&atilde;o ganhar a aposta, para benef&iacute;cio dos doentes. Capacidade de resolu&ccedil;&atilde;o dos problemas atinge os 85% A Unidade de MGF do Hospital da Luz, coordenada por Jo&atilde;o Sequeira Carlos, iniciou a sua actividade em 10 de Dezembro de 2006, poucos dias ap&oacute;s a abertura ao p&uacute;blico da unidade hospitalar. A integra&ccedil;&atilde;o da Medicina Familiar entre as especialidades do hospital constitu&iacute;a uma decis&atilde;o in&eacute;dita em Portugal. No entanto, como destacou o m&eacute;dico de fam&iacute;lia na confer&ecirc;ncia que proferiu sobre MGF no sector privado, h&aacute; cem anos atr&aacute;s, Sir William Osler j&aacute; afirmava que o m&eacute;dico de fam&iacute;lia era "o soldado mais importante nesta batalha que travamos todos os dias". No s&eacute;culo XXI, a matriz conceptual da Medicina Familiar &eacute; enquadrada no documento sobre a defini&ccedil;&atilde;o europeia de Medicina Geral e Familiar, difundido em 2002 pela WONCA Europa. A capacidade de resolu&ccedil;&atilde;o de problemas &eacute; um dos eixos fundamentais da especialidade. A evid&ecirc;ncia mostra que essa capacidade pode atingir, facilmente, os 85%, ou seja, apenas 15% podem ser considerados para referencia&ccedil;&atilde;o a outras especialidades. A gest&atilde;o da complexidade, o m&eacute;todo cl&iacute;nico centrado no paciente, a medicina baseada na evid&ecirc;ncia, a utiliza&ccedil;&atilde;o de tecnologias na pr&aacute;tica cl&iacute;nica, a gest&atilde;o cl&iacute;nica e a qualidade dos cuidados s&atilde;o outros tantos desafios, valores e ferramentas do m&eacute;dico de fam&iacute;lia do s&eacute;culo XXI. Partilha de decis&atilde;o &eacute; um dos paradigmas da consulta p&oacute;s-moderna A consulta p&oacute;s-moderna trouxe consigo uma nova rela&ccedil;&atilde;o m&eacute;dico/doente, numa l&oacute;gica de decis&atilde;o partilhada. " A decis&atilde;o m&eacute;dica n&atilde;o pode ser categ&oacute;rica", nem tem que ser seguida, de forma cega, pelo doente, diz Sequeira Carlos, defendendo "o triunfo do subjectivo", "a supremacia da autonomia" e "a capacita&ccedil;&atilde;o do doente" na gest&atilde;o dos seus problemas de sa&uacute;de e na promo&ccedil;&atilde;o dos auto-cuidados. Os doentes do s&eacute;culo XXI s&atilde;o mais informados, sem d&uacute;vida, mas isso n&atilde;o significa, como enfatiza o m&eacute;dico de fam&iacute;lia, que estejam "melhor informados". Por isso, o MF tem tamb&eacute;m que "fazer a gest&atilde;o da informa&ccedil;&atilde;o e dos conhecimentos que o doente j&aacute; traz para a consulta". Este aspecto &eacute; considerado por Jo&atilde;o Sequeira Carlos como um dos aspectos mais marcantes da pr&aacute;tica da MGF deste novo s&eacute;culo. "O doente do s&eacute;culo XXI est&aacute; mais ciente dos seus direitos e deveres" e tamb&eacute;m da sua liberdade de escolha. Listas oscilam entre 2.200 a 2.600 utentes &Eacute; nesta matriz conceptual que nasceu a ideia de organizar, no hospital da Luz, uma unidade de Medicina Geral e Familiar, inserida num complexo integrado de sa&uacute;de (CSP/Cuidados de Sa&uacute;de Secund&aacute;rios/Cuidados Continuados e Paliativos/Resid&ecirc;ncias s&eacute;nior "Casas da Cidade"). Para al&eacute;m das consultas de adulto, a unidade &eacute; respons&aacute;vel pela Sa&uacute;de da Mulher, Sa&uacute;de Infantil, Consultas de Grupos de Risco, Servi&ccedil;o de Atendimento Permanente, Consultas Multidisciplinares e visitas domicili&aacute;rias aos apartamentos "Casas da Cidade". A possibilidade de o m&eacute;dico de fam&iacute;lia seguir o doente no Internamento &eacute; um aspecto muito valorizado pelos doentes. Com 10 m&eacute;dicos, a unidade de MGF assegura consultas entre as 8 e as 20 horas, nos dias &uacute;teis. O trabalho processa-se em equipa, existindo o compromisso de dar resposta ao doente em 24/48 horas. Na consulta, o sistema de informa&ccedil;&atilde;o SORIA representa "um aux&iacute;lio precioso". Entre outras potencialidades, o m&eacute;dico de fam&iacute;lia pode aceder aos dados do laborat&oacute;rio e &agrave;s imagens de exames especiais, como colonoscopias ou TAC coron&aacute;rias, em tempo real. Isabel Vaz afirma que a sustentabilidade futura dos sistemas de sa&uacute;de passa por uma estrat&eacute;gia correcta de encarar a Medicina Familiar Em m&eacute;dia, cada m&eacute;dico de fam&iacute;lia possui entre 2.200 a 2.600 utentes nas suas listas. No que se refere aos indicadores de produtividade, os n&uacute;meros referem um aumento exponencial do n&uacute;mero de consultas. Em 2007, foram realizadas 6.888. Em 2009 esse n&uacute;mero aumentou para 15.111. A unidade foi escolhida para integrar uma experi&ecirc;ncia-piloto de um modelo de avalia&ccedil;&atilde;o de indicadores de qualidade t&eacute;cnico-cient&iacute;fica, a par de um centro de sa&uacute;de de Bragan&ccedil;a e de duas unidades de sa&uacute;de familiar. De acordo com Jo&atilde;o Sequeira Carlos, os dados mostram que, na &aacute;rea da hipertens&atilde;o arterial e do controlo de doentes diab&eacute;ticos, a Unidade de MGF do Hospital da Luz alcan&ccedil;ou excelentes resultados. Consultas multidisciplinares s&atilde;o exemplo de trabalho em equipa Projectando o futuro, Jo&atilde;o Sequeira Carlos afirma que ainda h&aacute; muito a fazer na &aacute;rea da investiga&ccedil;&atilde;o, avalia&ccedil;&atilde;o de indicadores de qualidade e de efectividade, forma&ccedil;&atilde;o pr&eacute;-graduada e internato m&eacute;dico. O aumento das consultas multidisciplinares - que j&aacute; s&atilde;o uma realidade nalgumas &aacute;reas - e a boa governa&ccedil;&atilde;o cl&iacute;nica constituem outros eixos importantes de um futuro que, como referiu Jo&atilde;o Sequeira Carlos, j&aacute; come&ccedil;a a ser introduzido no presente. A articula&ccedil;&atilde;o com outras especialidades &eacute; uma pr&aacute;tica corrente, como se tornou patente numa sess&atilde;o moderada pelo cardiologista Daniel Ferreira e pelo m&eacute;dico de fam&iacute;lia M&aacute;rio Ferreira. A participa&ccedil;&atilde;o activa da Medicina Familiar em consultas multidisciplinares &eacute; tamb&eacute;m um dado adquirido. De acordo com o neurocirurgi&atilde;o &Aacute;lvaro Lima, coordenador do Centro de Patologia da Coluna, "a equipa integra todas as val&ecirc;ncias", o que permite elaborar "protocolos de actua&ccedil;&atilde;o e linguagens comuns", evitar procedimentos in&uacute;teis, acelerar o diagn&oacute;stico e optimizar a terap&ecirc;utica. Tamb&eacute;m Carlos Vaz, coordenador do Centro de Tratamento da Obesidade, destaca os resultados positivos da presen&ccedil;a da especialidade de MGF no &acirc;mbito hospitalar. A experi&ecirc;ncia, pioneira e audaz, foi olhada no in&iacute;cio com "algum cepticismo" por parte da medicina hospitalar, recorda o m&eacute;dico, que defende a organiza&ccedil;&atilde;o dos profissionais em "clusters" orientados para o paciente. O Centro de Tratamento da Obesidade, onde a Medicina Geral e Familiar desempenha um papel "central" constitui, na sua opini&atilde;o, um bom exemplo desse trabalho em equipa multidisciplinar.

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