Jornal Médico - Mais de uma centena de UCSP e USF já aderiram ao projecto

Cento e quinze unidades de cuidados personalizados (UCSP) e unidades de sa&uacute;de familiar (USF) j&aacute; aderiram ao projecto Ler + d&aacute; sa&uacute;de, desenvolvido atrav&eacute;s de uma parceria entre a Associa&ccedil;&atilde;o Portuguesa de M&eacute;dicos de Cl&iacute;nica Geral (APMCG) e o Plano Nacional de Leitura (PNL). Cento e quinze unidades de cuidados personalizados (UCSP) e unidades de sa&uacute;de familiar (USF) j&aacute; aderiram ao projecto Ler + d&aacute; sa&uacute;de, desenvolvido atrav&eacute;s de uma parceria entre a Associa&ccedil;&atilde;o Portuguesa de M&eacute;dicos de Cl&iacute;nica Geral (APMCG) e o Plano Nacional de Leitura (PNL). N&atilde;o obstante ter sido pensada, fundamentalmente, para os CSP, a iniciativa tem vindo aganhar adeptos nos cuidados secund&aacute;rios. At&eacute; ao momento, aderiram 14 hospitais O projecto Ler + d&aacute; sa&uacute;de visa desenvolver a leitura e envolver os profissionais de sa&uacute;de &ndash; especialmente os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia &ndash; na promo&ccedil;&atilde;o da leitura em fam&iacute;lia, a partir dos seis meses de idade. Para tal, nas consultas de Sa&uacute;de Infantil &eacute; disponibilizado aos pais diverso material informativo, ao mesmo tempo que a crian&ccedil;a tem a possibilidade de manusear livros adaptados &agrave; sua idade. O projecto come&ccedil;ou h&aacute; cerca de dois anos mas o m&eacute;dico de fam&iacute;lia Riz&eacute;rio Salgado, que esteve na sua g&eacute;nese, recorda que a ideia surgiu h&aacute; muito mais tempo. Concretamente, em 2003, depois da apresenta&ccedil;&atilde;o de um p&oacute;ster sobre a import&acirc;ncia da literacia infantil, em conjunto com o actual presidente da APMCG, Jo&atilde;o Sequeira Carlos, na confer&ecirc;ncia europeia da WONCA, realizada na Eslov&eacute;nia. Pouco tempo depois, o m&eacute;dico da USF S&atilde;o Juli&atilde;o, em Oeiras, propunha ao Plano Nacional de Leitura uma parceria com a APMCG. &ldquo;Sabia que a National Commission of Reading, nos Estados Unidos, tinha uma s&eacute;rie de parceiros, entre os quais, m&eacute;dicos&rdquo; e, por outro lado, o PNL &ldquo;intervinha a partir dos cinco anos, ou seja, no pr&eacute;-escolar e junto de crian&ccedil;as mais velhas, n&atilde;o havendo um interlocutor com as crian&ccedil;as mais pequenas&rdquo;. Conhecendo, ainda por cima, a import&acirc;ncia da estimula&ccedil;&atilde;o proporcionada pelos livros e pelas imagens nas crian&ccedil;as a partir dos seis meses de idade, Riz&eacute;rio Salgado n&atilde;o teve d&uacute;vidas em contactar com o PNL, propondo uma parceria com os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia e os pediatras. A partir da&iacute;, registou-se a ades&atilde;o de mais uma s&eacute;rie de institui&ccedil;&otilde;es. Nomeadamente, o Alto Comissariado da Sa&uacute;de, a DGS e as v&aacute;rias administra&ccedil;&otilde;es regionais de sa&uacute;de (ARS). No desenvolvimento do projecto, que inclui uma s&eacute;rie de material informativo, para al&eacute;m dos livros, o m&eacute;dico de fam&iacute;lia destaca, especialmente, o papel da actual ministra da Educa&ccedil;&atilde;o, Isabel Al&ccedil;ada, e da respons&aacute;vel da Direc&ccedil;&atilde;o-Geral de Inova&ccedil;&atilde;o e Desenvolvimento Curricular, Alexandra Marques. Literacia desenvolve-se desde os primeiros anos de idade O projecto Ler + d&aacute; sa&uacute;de &eacute; inspirado no programa norte-americano Reach Out and Read. No terreno desde h&aacute; v&aacute;rios anos, consiste na forma&ccedil;&atilde;o de t&eacute;cnicos de sa&uacute;de, m&eacute;dicos e enfermeiros relacionados com a Sa&uacute;de Infantil, dotando-os dos instrumentos necess&aacute;rios para desenvolver a literacia infantil desde os primeiros meses de idade. H&aacute; uma d&eacute;cada atr&aacute;s, &ldquo;isto poderia parecer uma tontice&rdquo;, reconhece Riz&eacute;rio Salgado. Mas o facto &eacute; que &ldquo;as crian&ccedil;as sabem muito sobre a leitura e a escrita antes de realmente saberem ler e escrever&rdquo;. De acordo com o m&eacute;dico, &ldquo;as crian&ccedil;as, a partir dos seis meses de idade, t&ecirc;m j&aacute; a capacidade para associar imagens e sons, al&eacute;m de possu&iacute;rem uma curiosidade natural pelo que as rodeia. A utiliza&ccedil;&atilde;o do livro, a partir dessa idade, aumenta a interac&ccedil;&atilde;o entre pais e filhos, estimula a motricidade grosseira (pegar, abrir o livro&hellip;) e fina (apontar, passar a folha&hellip;), a aprendizagem precoce da direc&ccedil;&atilde;o da escrita e do folhear do livro&rdquo;. Atrav&eacute;s desta aproxima&ccedil;&atilde;o ao livro, a crian&ccedil;a come&ccedil;a a aprender formas de representa&ccedil;&atilde;o do real, aumenta o score de vocabul&aacute;rio e de linguagem e come&ccedil;a tamb&eacute;m a aprender a lidar com as emo&ccedil;&otilde;es e os medos. Riz&eacute;rio Salgado refere que &ldquo;a maioria das est&oacute;rias para crian&ccedil;as, sejam de tradi&ccedil;&atilde;o oral ou escritas, regra geral s&atilde;o terr&iacute;veis. H&aacute; sempre algu&eacute;m que morre ou que se perde, uma madrasta m&aacute;&hellip; Este tipo de est&oacute;rias &eacute; comum a todas as culturas e do ponto de vista emocional faz sentido. Trata-se de um treino emocional (da perda, dist&acirc;ncia, etc.) que, se fosse real, seria insuport&aacute;vel&rdquo;. Por outro lado, os livros &ldquo;apontam comportamentos, normas e sistemas de valores&rdquo;, estimulam a criatividade, a capacidade de concentra&ccedil;&atilde;o, a imagina&ccedil;&atilde;o e a associa&ccedil;&atilde;o de ideias. Estimula&ccedil;&atilde;o precoce condiciona o desenvolvimento do c&eacute;rebro A investiga&ccedil;&atilde;o, nas &uacute;ltimas d&eacute;cadas, documentou a import&acirc;ncia do desenvolvimento cerebral nos cinco primeiros anos de vida e como o c&eacute;rebro est&aacute; biologicamente organizado para ser moldado pelas experi&ecirc;ncias emocionais e sensoriais. &ldquo;A qualidade da estimula&ccedil;&atilde;o precoce e das rela&ccedil;&otilde;es emocionais ir&aacute; condicionar, em grande parte, a forma como o c&eacute;rebro se ir&aacute; desenvolver e como ser&atilde;o cumpridas as potencialidades de cada crian&ccedil;a. Se as redes sin&aacute;pticas n&atilde;o forem usadas repetidamente, ou com uma frequ&ecirc;ncia m&iacute;nima, elas s&atilde;o eliminadas. Deste modo, a experi&ecirc;ncia joga um papel crucial no c&eacute;rebro da crian&ccedil;a&rdquo;, explica o m&eacute;dico. Um estudo recente mostra, por exemplo, que a capacidade das crian&ccedil;as para distinguirem os sons da linguagem aos seis meses de idade &eacute; um factor preditivo das futuras aptid&otilde;es em termos de linguagem. Do mesmo modo, ao n&iacute;vel da vis&atilde;o, &ldquo;o maior desenvolvimento desta rede sin&aacute;ptica ocorre entre os dois ou quatro meses e os dois anos de idade&rdquo;. Ou seja, &ldquo;existem per&iacute;odos diferenciais privilegiados do desenvolvimento. Se este tempo &oacute;ptimo de estimula&ccedil;&atilde;o se perde, &eacute; para sempre. Da&iacute; a import&acirc;ncia de darmos instrumentos aos pais para desenvolverem todas as suas potencialidades&rdquo;. N&iacute;vel de escolaridade condiciona estilos de vida Outros estudos demonstram a import&acirc;ncia do desenvolvimento da literacia infantil e o seu impacto posterior, na escola. Por exemplo, sabe-se que &ldquo;ler est&oacute;rias em voz alta &eacute; a interven&ccedil;&atilde;o individual mais importante para ajudar as crian&ccedil;as a terem sucesso na leitura&rdquo;. Por sua vez, o n&iacute;vel de escolaridade dos indiv&iacute;duos tem uma import&acirc;ncia fundamental na forma como v&atilde;o gerir a sua sa&uacute;de, no futuro. Segundo Riz&eacute;rio Salgado, uma menor escolaridade est&aacute; associada a maiores resist&ecirc;ncias &agrave; mudan&ccedil;a de estilos de vida, os indiv&iacute;duos sentem maior dificuldade em entender as instru&ccedil;&otilde;es m&eacute;dicas, aderem menos &agrave; terap&ecirc;utica e correm mais riscos de hospitaliza&ccedil;&atilde;o. &ldquo;O n&uacute;mero de anos completos de escolaridade est&aacute; directamente relacionado com a sobreviv&ecirc;ncia da popula&ccedil;&atilde;o em geral&rdquo;, da&iacute; que o m&eacute;dico de fam&iacute;lia afirme haver uma &ldquo;grande dist&acirc;ncia entre um neur&oacute;nio do rec&eacute;m-nascido e o quadro da sala de aula mas a ponte podem ser ultrapassada se as pessoas trabalharem em conjunto. Os m&eacute;dicos e enfermeiros de fam&iacute;lia s&atilde;o interlocutores privilegiados para transmitirem aos pais as estrat&eacute;gias mais adequadas para o desenvolvimento pleno das crian&ccedil;as&rdquo;.

Terceiro espaço

Mais lidas