Jornal Médico - PAPS apoia profissionais de saúde

O programa dirige-se sobretudo aos profissionais em situa&ccedil;&atilde;o de stress psicol&oacute;gico, conflitos interpessoais, ansiedade ou situa&ccedil;&otilde;es de disfun&ccedil;&atilde;o pessoal, familiar ou profissional que possam ser alvo de uma interven&ccedil;&atilde;o de ajuda e de empowerment O ACES Porto Ocidental est&aacute; a desenvolver um programa de apoio aos seus profissionais. A iniciativa, in&eacute;dita no nosso pa&iacute;s, foi precedida de um question&aacute;rio que visou conhecer os anseios, d&uacute;vidas, fontes de insatisfa&ccedil;&atilde;o, necessidades e desejos da equipa multidisciplinar do ACES. O PAPS tem um endere&ccedil;o de e-mail pr&oacute;prio, ao qual podem aceder os psic&oacute;logos que colaboram com o projecto. Maria Jos&eacute; Ribas, presidente do conselho cl&iacute;nico do agrupamento e impulsionadora do projecto, explica que "o profissional que escreve a pedir ajuda, entra num consult&oacute;rio virtual onde apenas ele e o psic&oacute;logo est&atilde;o em contacto". O programa dirige-se sobretudo aos profissionais em situa&ccedil;&atilde;o de stress psicol&oacute;gico, conflitos interpessoais, ansiedade ou situa&ccedil;&otilde;es de disfun&ccedil;&atilde;o pessoal, familiar ou profissional que possam ser alvo de uma interven&ccedil;&atilde;o de ajuda e de empowerment Jornal M&eacute;dico de Fam&iacute;lia - Como surgiu o Programa PAPS? E com que objectivo? Maria Jos&eacute; Ribas - Quando cheguei ao Conselho Cl&iacute;nico do ACES Porto Ocidental tomei como principal preocupa&ccedil;&atilde;o cuidar dos profissionais. N&atilde;o era - e ainda n&atilde;o &eacute; - poss&iacute;vel um envolvimento activo e positivo na reforma se os profissionais n&atilde;o estiverem bem. Desde logo n&atilde;o podemos oferecer melhores contratos - ou melhores ordenados! - mas as lideran&ccedil;as das organiza&ccedil;&otilde;es, neste caso, de um ACES, podem ter sempre uma porta aberta, capacidade para ouvir, empatia para compreender e empenho para ajudar. Como diz o director executivo do nosso ACES, Dr. Rui Medon, sem profissionais satisfeitos, n&atilde;o h&aacute; organiza&ccedil;&otilde;es felizes e, sobretudo, n&atilde;o h&aacute; utentes satisfeitos. No entanto, a insatisfa&ccedil;&atilde;o vai &agrave;s vezes para al&eacute;m das condi&ccedil;&otilde;es laborais e tem ra&iacute;zes mais profundas na pr&oacute;pria vida pessoal, em conflitos profissionais antigos, em desentendimentos mal resolvidos. E isso &agrave;s vezes n&atilde;o se conta a ningu&eacute;m! A ideia do Projecto de Apoio aos Profissionais de Sa&uacute;de - PAPS - surgiu da experi&ecirc;ncia pessoal de ver o m&eacute;dico de fam&iacute;lia John Yaphe fazer e-counselling todos os dias. Eu pr&oacute;pria uso bastante o e-mail para troca de informa&ccedil;&otilde;es e conselhos com os meus doentes, mas o apoio via electr&oacute;nica &eacute; um passo mais &agrave; frente, uma forma de ajudar sem necessariamente estar fisicamente presente. E isso, por vezes, torna-se uma vantagem. Alguns dos problemas revelados pelos profissionais, nomeadamente os conflitos entre colegas, ou as dificuldades 7pessoais, nem sempre s&atilde;o f&aacute;ceis de partilhar face a face, muito menos com outros colegas ou com os superiores hier&aacute;rquicos. Por outro lado, os profissionais de sa&uacute;de t&ecirc;m pouca tend&ecirc;ncia para procurar os seus m&eacute;dicos, tendem a adiar a resolu&ccedil;&atilde;o de problemas f&iacute;sicos ou ps&iacute;quicos ou, o que &eacute; pior, tentam trat&aacute;-los em conversas de corredor ou tratam-se a si pr&oacute;prios, no caso dos m&eacute;dicos. Os profissionais ligados &agrave; sa&uacute;de s&atilde;o as pessoas que provavelmente menos cuidados t&ecirc;m com a sua sa&uacute;de e menos apoio t&ecirc;m, quando necess&aacute;rio. O in&iacute;cio do projecto foi precedido de um inqu&eacute;rito aos profissionais do ACES Porto Ocidental, incluindo os seus anseios e preocupa&ccedil;&otilde;es. Quais as motiva&ccedil;&otilde;es inerentes a essa iniciativa? Para ajudar os profissionais a crescer e a envolver-se na mudan&ccedil;a era inevit&aacute;vel conhec&ecirc;-los melhor, tanto mais que vinha de outro local e j&aacute; n&atilde;o trabalhava no Porto h&aacute; cerca de 10 anos. O question&aacute;rio Conhecer os Profissionais, seguido de um inqu&eacute;rito de satisfa&ccedil;&atilde;o, veio contribuir para perceber os anseios, d&uacute;vidas, fontes de insatisfa&ccedil;&atilde;o, necessidades e desejos dos profissionais. Qual foi a ades&atilde;o dos profissionais ao inqu&eacute;rito? O inqu&eacute;rito de satisfa&ccedil;&atilde;o foi realizado online, na nossa intranet, e teve um timing limitado. Nesse per&iacute;odo, responderam cerca de 240 profissionais, o que corresponde a cerca de 50% do ACES. Como era an&oacute;nimo, n&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel saber se, de fora, ficaram os mais ou menos satisfeitos, mas os que responderam permitiram ter uma vis&atilde;o bastante abrangente das fontes de satisfa&ccedil;&atilde;o e insatisfa&ccedil;&atilde;o. Esperamos que, na segunda ronda, mais profissionais contribuam com as suas respostas, para assim podermos, em conjunto, encontrar novas solu&ccedil;&otilde;es. Quais foram os resultados? Que dados considera mais preocupantes? Estes question&aacute;rios permitiram identificar fontes de insatisfa&ccedil;&atilde;o mas, sobretudo, uma percentagem importante de profissionais em stress, ansiosos e particularmente preocupados com as incertezas quanto ao futuro. Os contactos pessoais tamb&eacute;m iam revelando um n&iacute;vel elevado de ansiedade e medo da mudan&ccedil;a, o que se tornou preocupante. Como funciona o PAPS? Quem trabalha no projecto? O PAPS tem um endere&ccedil;o de e-mail pr&oacute;prio, ao qual s&oacute; t&ecirc;m acesso os psic&oacute;logos que colaboram com o projecto. N&atilde;o &eacute; an&oacute;nimo, embora no limite possa ser, mas &eacute; confidencial. No fundo, o profissional que escreve a pedir ajuda entra num "consult&oacute;rio virtual" onde apenas ele e o psic&oacute;logo est&atilde;o em contacto. No projecto colaboram alguns dos psic&oacute;logos do ACES. Colocados perante o desafio, aceitaram com entusiasmo e fazem-no &agrave; custa do seu tempo pessoal. A troca de e-mails visa capacitar a pessoa que pede ajuda para melhor lidar com a sua situa&ccedil;&atilde;o de stress, identificando as for&ccedil;as que lhe permitir&atilde;o lidar melhor com a situa&ccedil;&atilde;o que o aflige. O processo conclui-se quando ambos - profissional e terapeuta - concordam que &eacute; o momento de encerrar, podendo sempre voltar ao apoio se necess&aacute;rio. Todo o processo tem regras claramente definidas e foi alvo da aprova&ccedil;&atilde;o da Comiss&atilde;o de &Eacute;tica da ARS Norte. Qual o impacto esperado do PAPS no que diz respeito ao aumento do n&iacute;vel de satisfa&ccedil;&atilde;o e bem-estar dos profissionais do ACES? O PAPS &eacute; uma ferramenta de apoio aos profissionais. O impacto mais esperado &eacute; que, de facto, apoie, ajude e capacite os profissionais a lidar com o stress. Como efeito secund&aacute;rio, esperamos um aumento da satisfa&ccedil;&atilde;o profissional e pessoal. Se isso for atingido, o PAPS est&aacute; a ser &uacute;til. Quais as suas &aacute;reas de ac&ccedil;&atilde;o priorit&aacute;rias? O apoio dirige-se sobretudo a situa&ccedil;&otilde;es de stress psicol&oacute;gico, conflitos interpessoais, ansiedade ou situa&ccedil;&otilde;es de disfun&ccedil;&atilde;o pessoal, familiar ou profissional que possam ser alvo de uma interven&ccedil;&atilde;o de ajuda e de empowerment. Regra geral, os servi&ccedil;os p&uacute;blicos n&atilde;o se preocupam muito com o bem-estar dos seus profissionais...Porque &eacute; que o ACES Porto Ocidental &eacute; diferente? N&atilde;o sei se o ACES Porto Ocidental &eacute; diferente. Os colegas de outros ACES com quem tenho a honra de colaborar tamb&eacute;m se preocupam igualmente. No caso do nosso ACES, o director executivo e eu somos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia e, por defeito e por feitio, somos cuidadores naturais das pessoas. Talvez a diferen&ccedil;a esteja na dificuldade acrescida ligada aos muitos utentes sem m&eacute;dico, &agrave; baixa ades&atilde;o aos primeiros passos da reforma, &agrave; m&eacute;dia de idades dos profissionais, &agrave; degrada&ccedil;&atilde;o das instala&ccedil;&otilde;es, &agrave;s m&aacute;s condi&ccedil;&otilde;es de trabalho e ao numeroso n&uacute;mero de secret&aacute;rios cl&iacute;nicos e enfermeiros em situa&ccedil;&atilde;o prec&aacute;ria. A dificuldade &eacute; m&atilde;e de solu&ccedil;&otilde;es inventivas... Costuma dizer-se que "o mais importante das organiza&ccedil;&otilde;es s&atilde;o as pessoas". Frequentemente, n&atilde;o &eacute; mais que chav&atilde;o ou uma daquelas frases feitas...Mas, com uma verdadeira pol&iacute;tica de recursos humanos &eacute; poss&iacute;vel mudar o perfil de uma organiza&ccedil;&atilde;o? O mais importante de tudo, e n&atilde;o apenas das organiza&ccedil;&otilde;es s&atilde;o, de facto, as pessoas. Na nossa &aacute;rea de "neg&oacute;cio" - a sa&uacute;de da popula&ccedil;&atilde;o - elas s&atilde;o tudo. S&atilde;o pessoas que atendem o doente logo que ele entra na unidade, s&atilde;o pessoas que orientam o doente dentro do servi&ccedil;o e s&atilde;o pessoas que cuidam, ouvem, tratam, previnem ou simplesmente acompanham quem nasce, vive, fica doente e morre. Para falarmos numa pol&iacute;tica, esta n&atilde;o deve ser de "recursos humanos", mas sim de gest&atilde;o de "pessoas que t&ecirc;m recursos" que podem contribuir para o conjunto. &Eacute; o conjunto destes recursos que deve ser gerido, optimizado ao m&aacute;ximo, permitindo que cada profissional d&ecirc; o que de melhor tem para dar, nas suas diferentes facetas. Preocupa-me que um servi&ccedil;o de sa&uacute;de, cujo objectivo primordial &eacute; "cuidar de pessoas" n&atilde;o cuide, primeiro, de quem cuida. Quando os nossos profissionais, que s&atilde;o o rosto deste servi&ccedil;o, estiverem bem, se revirem no seu trabalho, sa&iacute;rem satisfeitos no fim do seu dia e transmitirem esse bem-estar aos nossos utentes, ent&atilde;o o perfil da organiza&ccedil;&atilde;o est&aacute; mudado.

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