Jornal Médico - Médicos de família têm o trabalho em equipa como modelo

Os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia portugueses v&ecirc;em o trabalho em equipa como modelo e valorizam a autonomia no trabalho... Os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia portugueses v&ecirc;em o trabalho em equipa como modelo e valorizam a autonomia no trabalho. J&aacute; a supervis&atilde;o e a avalia&ccedil;&atilde;o do desempenho s&atilde;o bem aceites se as chefias forem escolhidas pela sua compet&ecirc;ncia. Estas s&atilde;o algumas das conclus&otilde;es do trabalho de investiga&ccedil;&atilde;o sobre "A satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia dos centros de sa&uacute;de portugueses" que conduziu ao doutoramento do m&eacute;dico de fam&iacute;lia Andr&eacute; Biscaia, no passado dia 17 de Novembro Jornal M&eacute;dico de Fam&iacute;lia - Como pode ser definida a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho? Esse foi o primeiro desafio desta tese. &Eacute; um termo muito comum mas, quando se procura uma defini&ccedil;&atilde;o, surgem as dificuldades porque s&atilde;o muitas e variadas e, em muitos casos, utiliza-se o termo sem o definir. Para mim, &eacute; a atitude do indiv&iacute;duo em rela&ccedil;&atilde;o ao seu trabalho e &agrave;s condi&ccedil;&otilde;es em que este &eacute; desempenhado. &Eacute;, portanto, uma atitude e, como tal, tem uma componente cognitiva - aquilo que o profissional pensa - afectiva - aquilo que profissional sente - e comportamental - uma tend&ecirc;ncia para a ac&ccedil;&atilde;o, para agir consistentemente de um certo modo. Nos CSP, quais as consequ&ecirc;ncias para o profissional, a organiza&ccedil;&atilde;o onde trabalha e a comunidade? N&atilde;o s&atilde;o diferentes de outros profissionais e situa&ccedil;&otilde;es. Para uma pessoa, o trabalho &eacute; algo t&atilde;o identit&aacute;rio como a nacionalidade ou o apelido. Para uma organiza&ccedil;&atilde;o, a qualidade do trabalho a&iacute; produzido pode representar a diferen&ccedil;a entre o sucesso e o insucesso. Para a sociedade actual, o trabalho, para al&eacute;m de omnipresente, associa-se &agrave; cren&ccedil;a, cada vez mais generalizada, de que o trabalho nos deve fazer felizes; dar satisfa&ccedil;&atilde;o. Da literatura cient&iacute;fica, sabe-se que a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho &eacute; um elemento moderador entre vari&aacute;veis das organiza&ccedil;&otilde;es - motiva&ccedil;&atilde;o, desempenho, envolvimento no trabalho, compromisso organizacional, cidadania organizacional - e do universo pessoal do trabalhador - satisfa&ccedil;&atilde;o com a vida em geral, qualidade de vida, sa&uacute;de mental, stress percebido, doen&ccedil;as. Os resultados da interac&ccedil;&atilde;o entre estas vari&aacute;veis t&ecirc;m efeitos a n&iacute;vel pessoal para o pr&oacute;prio trabalhador (por exemplo, possibilidade de maiores remunera&ccedil;&otilde;es, menos stress, melhor sa&uacute;de, nomeadamente mental), para a organiza&ccedil;&atilde;o onde trabalha (menos abandonos da organiza&ccedil;&atilde;o, maior pontualidade e assiduidade) e para a comunidade servida por essa organiza&ccedil;&atilde;o (maior acesso aos cuidados, melhor rela&ccedil;&atilde;o com os profissionais de sa&uacute;de). A tese de doutoramento de Andr&eacute; Biscaia teve como arguente o Professor Vasco Maria Por sua vez, essas vari&aacute;veis actuam nos factores sociais, organizacionais e individuais que influenciaram aquela interac&ccedil;&atilde;o. Neste &acirc;mbito, vale a pena destacar dois aspectos: em primeiro lugar, n&atilde;o se provou existir uma rela&ccedil;&atilde;o entre resultados em sa&uacute;de e erros, por um lado, e a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos, por outro. Ou seja, a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho, nos m&eacute;dicos, n&atilde;o afecta os resultados em termos de sa&uacute;de (por exemplo, as pessoas com HTA ou diabetes n&atilde;o estavam mais bem controladas ou seguidas por m&eacute;dicos mais satisfeitos no trabalho). Uma das explica&ccedil;&otilde;es avan&ccedil;adas &eacute; a de que o sentido &eacute;tico dos m&eacute;dicos actua como um tamp&atilde;o, n&atilde;o deixando que a insatisfa&ccedil;&atilde;o interfira com a qualidade dos cuidados. No entanto, estas mesmas investiga&ccedil;&otilde;es demonstraram que as pessoas que consultam m&eacute;dicos mais satisfeitos no trabalho t&ecirc;m maior confian&ccedil;a neles e mudam menos de m&eacute;dico. Tamb&eacute;m n&atilde;o se sabe o que est&aacute; antes e o que est&aacute; depois: a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho faz trabalhar de um modo diferente ou &eacute; trabalhar de um certo modo que d&aacute; maior ou menor satisfa&ccedil;&atilde;o? O mais certo &eacute; que haja aqui uma circularidade de efeitos e a &uacute;nica certeza &eacute; a de que esta &eacute; uma vari&aacute;vel muito complexa mas que &eacute; necess&aacute;rio abordar. Defende que esta &eacute; uma vari&aacute;vel fundamental. Mas, tem-lhe sido dada a devida import&acirc;ncia no sistema de sa&uacute;de portugu&ecirc;s e nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, em particular? &Eacute; uma vari&aacute;vel charneira, como disse, mas a que n&atilde;o tem sido dada a devida import&acirc;ncia no sistema de sa&uacute;de portugu&ecirc;s, na Medicina Geral e Familiar e tamb&eacute;m na sociedade portuguesa em geral. A lei de Bases de Sa&uacute;de refere-se &agrave; satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho como um dos pilares da avalia&ccedil;&atilde;o do SNS, mas a realidade s&atilde;o avalia&ccedil;&otilde;es pontuais, raras, n&atilde;o integradas e inconsequentes. Como decorreu a investiga&ccedil;&atilde;o? Sabemos que levou &agrave; letra o que um autor definiu como aquilo que deve ser a investiga&ccedil;&atilde;o: m&uacute;ltiplas viagens de ida e volta entre o pa&iacute;s te&oacute;rico e o pa&iacute;s pr&aacute;tico... Sem menosprezar outros tipos de investiga&ccedil;&atilde;o, para mim faz mais sentido dedicar-me &agrave; investiga&ccedil;&atilde;o que tenha uma utilidade pr&aacute;tica mais directa, que tente resolver problemas concretos. A finalidade deste trabalho foi desenvolver uma abordagem &uacute;til da satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, propondo-se uma abordagem baseada no modelo salutog&eacute;nico que se pode dividir em tr&ecirc;s componentes: aumentar a compreens&atilde;o do que &eacute; a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho; desenvolver a compet&ecirc;ncia de cada trabalhador, de cada organiza&ccedil;&atilde;o, do sistema de sa&uacute;de e da sociedade na mobiliza&ccedil;&atilde;o de recursos para fazer face ao que &eacute; essencial &agrave; satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho e; refor&ccedil;ar a atitude de que ter satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho &eacute; um desafio que merece o empenho de todos. Para esta finalidade, implementei um processo de investiga&ccedil;&atilde;o-ac&ccedil;&atilde;o, em que efectuei quatro estudos numa abordagem multi-canal, recorrendo a m&eacute;todos de investiga&ccedil;&atilde;o mistos - quantitativos e qualitativos - de modo a captar a problem&aacute;tica de &acirc;ngulos diferentes e complementares. O seu trabalho divide-se em quatro estudos. No primeiro, que descreve como sendo da &aacute;rea da investiga&ccedil;&atilde;o metodol&oacute;gica, teve mesmo que criar um instrumento de medida - um question&aacute;rio adequado para medir a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos MF portugueses - que seria utilizado nos estudos subsequentes. Porqu&ecirc;? N&atilde;o existia nada feito neste dom&iacute;nio? N&atilde;o existia nenhum para o qual houvesse dados sobre a sua adequa&ccedil;&atilde;o para medir a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho nos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia portugueses. O question&aacute;rio que constru&iacute; tem 22 quest&otilde;es e ficou provado que tem validade, fiabilidade, poder de resposta e peso adequados a essa medi&ccedil;&atilde;o. A segunda fase da investiga&ccedil;&atilde;o traduziu-se num estudo sobre a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia da Regi&atilde;o de Lisboa e Vale do Tejo. Quantos profissionais participaram? Foi uma amostra representativa da Regi&atilde;o de Lisboa e Vale do Tejo, num estudo em parceria com Sec&ccedil;&atilde;o Regional Sul da Ordem dos M&eacute;dicos em 2002/2003. Obtiveram-se 290 respostas (uma taxa de respostas v&aacute;lidas de 65%). Quais foram os resultados? A satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho global m&eacute;dia encontrada situava-se pouco acima do ponto central (3,02 numa escala de cinco pontos em que 5 &eacute; o m&aacute;ximo da satisfa&ccedil;&atilde;o e 1 o m&iacute;nimo), o que &eacute; relativamente negativo dado que o que se quer &eacute; que os profissionais estejam satisfeitos no trabalho. Os factores contextuais como "press&atilde;o e exig&ecirc;ncia no trabalho", "condi&ccedil;&otilde;es para o exerc&iacute;cio profissional" e "recompensa pelo trabalho efectuado", apresentavam valores indicativos de insatisfa&ccedil;&atilde;o. Os que est&atilde;o relacionados com as singularidades da profiss&atilde;o e do trabalho - "interesse do trabalho" e "adequa&ccedil;&atilde;o para o trabalho" - e o relativo &agrave;s rela&ccedil;&otilde;es com colegas e chefias e a autonomia no trabalho, indicavam satisfa&ccedil;&atilde;o. Andr&eacute; Biscaia teve como orientador o Professor Paulo Ferrinho. O Professor Wim Van Leberghe, respons&aacute;vel pelo relat&oacute;rio da OMS de 2008 dedicado aos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, integrou a equipa tutorial Evidenciou-se, ainda, que a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia est&aacute; associada ao seu desempenho profissional (por exemplo, nos m&eacute;dicos mais satisfeitos no trabalho, maior &eacute; a percentagem de gen&eacute;ricos prescrita ou menor o n&uacute;mero de exames complementares pedidos), &agrave;s suas cogni&ccedil;&otilde;es de sa&iacute;da da profiss&atilde;o, da carreira e do centro de sa&uacute;de onde actualmente est&atilde;o colocados (maior a satisfa&ccedil;&atilde;o, menos ideias de sair), &agrave; auto-percep&ccedil;&atilde;o do seu estado de sa&uacute;de (maior a satisfa&ccedil;&atilde;o, melhor a auto-percep&ccedil;&atilde;o) e &agrave;s suas expectativas com a carreira profissional (maior satisfa&ccedil;&atilde;o, maiores as expectativas). Conseguiu-se, ainda, construir modelos de regress&atilde;o linear m&uacute;ltipla que explicavam os diferentes factores da satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho em que eram relevantes vari&aacute;veis, como as expectativas com a carreira, a auto-percep&ccedil;&atilde;o do estado de sa&uacute;de, os r&aacute;cios MF/ enfermeiros, os utentes sem MF atribu&iacute;do ou a qualidade das instala&ccedil;&otilde;es. O terceiro estudo mediu a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho de todos os MF em tr&ecirc;s momentos de um centro de sa&uacute;de e de uma unidade de sa&uacute;de familiar. O que concluiu? Neste estudo, decidiu-se acompanhar duas unidades de sa&uacute;de ao longo do tempo para desenvolver e testar a implementa&ccedil;&atilde;o, ao longo do tempo (entre 2000 e 2009) e em diferentes contextos, de mudan&ccedil;as na pr&aacute;tica (como a implementa&ccedil;&atilde;o de sistemas de gest&atilde;o da qualidade). Identificou-se um alinhamento entre satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, qualidade organizacional e satisfa&ccedil;&atilde;o do cidad&atilde;o. Constatou-se, ainda, que a melhoria da qualidade organizacional acompanhava o desenvolvimento da gest&atilde;o da qualidade da unidade. Quais as diferen&ccedil;as mais significativas observadas entre ambos os modelos de organiza&ccedil;&atilde;o, ao n&iacute;vel da satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho? Quer a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho, quer a satisfa&ccedil;&atilde;o do cidad&atilde;o, eram muito mais elevadas na unidade de sa&uacute;de familiar do que nas restantes unidades do centro de sa&uacute;de. O quarto e &uacute;ltimo estudo, qualitativo e multic&ecirc;ntrico, incidiu na an&aacute;lise da opini&atilde;o dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, chefias interm&eacute;dias e directores de centros de sa&uacute;de de diferentes regi&otilde;es do pa&iacute;s sobre os factores associados &agrave; satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho. Quais as principais conclus&otilde;es a que chegou? Um dos resultados foi a caracteriza&ccedil;&atilde;o da cultura dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia portugueses: t&ecirc;m o trabalho em equipa como modelo e valorizam a autonomia no trabalho. A supervis&atilde;o e a avalia&ccedil;&atilde;o do desempenho s&atilde;o bem aceites se as chefias forem escolhidas pela sua compet&ecirc;ncia. A actual reforma dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, iniciada em 2005, &eacute; considerada uma boa solu&ccedil;&atilde;o para muitos dos problemas que interferem com a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia. Qual o impacto que os resultados desta investiga&ccedil;&atilde;o poder&atilde;o ter na organiza&ccedil;&atilde;o dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, no &acirc;mbito da reforma em curso? Nesta tese, foi identificado um conjunto de vari&aacute;veis contextuais que est&atilde;o associadas &agrave; satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia que interessa conhecer, recolher e analisar de um modo sistem&aacute;tico, e constru&iacute;do um question&aacute;rio adequado para avaliar a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho. Por outro lado, refor&ccedil;ou-se a ideia de que satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia (desempenho, contexto organizacional, satisfa&ccedil;&atilde;o do utente) est&atilde;o intimamente ligados e que &eacute; necess&aacute;rio compreender toda esta din&acirc;mica para se proporem e implementarem abordagens integradas. Desenvolveu-se e testou-se um sistema de gest&atilde;o da qualidade - o Pent&aacute;gono da Qualidade - que consubstancia esta abordagem integrada. Por &uacute;ltimo, fortaleceu-se a no&ccedil;&atilde;o de que a actual reforma dos CSP est&aacute; no caminho certo para cumprir um dos seus objectivos - aumentar a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho dos profissionais dos CSP. Que dificuldades encontrou, no decurso do seu trabalho de doutoramento? O acesso a dados! Dados que deveriam estar publicados e acess&iacute;veis on-line a qualquer pessoa s&atilde;o, em Portugal, tratados como sigilosos ou de muito dif&iacute;cil acesso. O segredo estat&iacute;stico tem umas costas muito largas... Tem dado grande &ecirc;nfase ao "acesso democr&aacute;tico &agrave; informa&ccedil;&atilde;o". O que significam essas dificuldades e barreiras para um investigador? N&atilde;o s&oacute; dificultam os processos de investiga&ccedil;&atilde;o, como s&atilde;o um entrave &agrave; presta&ccedil;&atilde;o de contas e a avalia&ccedil;&otilde;es mais transparentes dos servi&ccedil;os e das gest&otilde;es - donde constitu&iacute;rem um problema de democracia. Pessoalmente, o que representa a obten&ccedil;&atilde;o do grau de Doutor? A motiva&ccedil;&atilde;o para terminar a tese foi, por um lado, fazer algo dif&iacute;cil - o desafio - mas, por outro, dar um sentido, uma coer&ecirc;ncia ao trabalho que fui produzindo ao longo da carreira. Est&atilde;o aqui representados quase todos os temas que, profissionalmente, mais me interessaram: para al&eacute;m dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios em si, a complexidade, a salutog&eacute;nese, a qualidade de vida, as organiza&ccedil;&otilde;es, a investiga&ccedil;&atilde;o, a qualidade, a satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho. Posso dizer que, pelo modo como decorreram o doutoramento e as provas, seria dif&iacute;cil estar mais satisfeito. E em termos profissionais, ou seja, como m&eacute;dico de fam&iacute;lia, docente e investigador? Como m&eacute;dico de fam&iacute;lia, o modo como estou no centro de sa&uacute;de ou como fa&ccedil;o consulta n&atilde;o mudou; como docente &eacute; um estatuto diferente, &eacute; o subir um degrau; como investigador, o impacto &eacute; maior, estando, de certo modo, validada a minha capacidade de fazer investiga&ccedil;&atilde;o, possibilitando-me um acesso mais directo e f&aacute;cil a financiamentos, indispens&aacute;veis para investigar com qualidade. Quais s&atilde;o agora os seus projectos acad&eacute;micos? Fui convidado para continuar no Instituto de Higiene e Medicina Tropical e os meus planos passam por continuar na &aacute;rea da forma&ccedil;&atilde;o p&oacute;s-graduada em investiga&ccedil;&atilde;o, pol&iacute;ticas de sa&uacute;de, gest&atilde;o e qualidade. E ao n&iacute;vel da investiga&ccedil;&atilde;o? A actual reforma dos CSP &eacute; uma atrac&ccedil;&atilde;o enorme e &eacute; aqui que deve continuar o meu foco principal nos pr&oacute;ximos anos, mais concretamente, na satisfa&ccedil;&atilde;o no trabalho e nos processos de contratualiza&ccedil;&atilde;o - quanto a mim a &aacute;rea-chave desta fase da reforma. Teve como orientador o professor Paulo Ferrinho e, na equipa tutorial, os professores Armando Brito S&aacute; e Wim Van Leberghe, respons&aacute;vel pelo relat&oacute;rio da OMS de 2008, dedicado aos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. De que modo o influenciaram, ajudaram ou contribu&iacute;ram para o &ecirc;xito da sua investiga&ccedil;&atilde;o? S&atilde;o tr&ecirc;s m&eacute;dicos de refer&ecirc;ncia, a n&iacute;vel nacional e internacional, na MGF e nas pol&iacute;ticas de sa&uacute;de, para al&eacute;m de terem acompanhado e, muitas vezes, terem sido parceiros em v&aacute;rios projectos de investiga&ccedil;&atilde;o, forma&ccedil;&atilde;o ou associativos. Eram, por estas raz&otilde;es, as pessoas ideais para este acompanhamento e, por isso, senti-me privilegiado. Durante o doutoramento, o acompanhamento e incentivo foram constantes e fundamentais. N&atilde;o posso deixar tamb&eacute;m de referir o apoio dos colegas, m&eacute;dicos, enfermeiros e secret&aacute;rios cl&iacute;nicos, nomeadamente da USF Marginal e do Centro de Sa&uacute;de de Cascais e dos elementos dos COPINS, uma comunidade de pr&aacute;ticas de investiga&ccedil;&atilde;o em sa&uacute;de a que perten&ccedil;o e que foram determinantes no apoio a algumas decis&otilde;es de fundo que tomei e no suporte durante todo o processo. Como arguentes teve, entre outros, o Professor Vasco Maria. Isso f&ecirc;-lo sentir-se, de algum modo, mais confort&aacute;vel, durante a defesa da tese, ou fez aumentar ainda mais a press&atilde;o que, j&aacute; de si, devia ser enorme? A press&atilde;o &eacute; sempre grande. Mas ter estes arguentes, conhecedores profundos do tema e do contexto em que a investiga&ccedil;&atilde;o se desenvolveu, e a argu&ecirc;ncia da tese em si, indo ao &acirc;mago das quest&otilde;es, sempre relevantes, filosofando e nunca se distraindo com o acess&oacute;rio, s&oacute; poderia, como aconteceu, deixar-me imensamente contente com o facto de ter perseverado em concluir todo este processo. O que mais recorda desses momentos? A sala cheia de amigos e familiares, o meu filho a assistir, as respostas que dei e que, para mim, fizeram ainda mais sentido naquele contexto, a sensa&ccedil;&atilde;o de coer&ecirc;ncia de muitos projectos que fui empreendendo ao longo da carreira, os momentos em que se conseguiu uma sintonia com o j&uacute;ri e com a sala mas tamb&eacute;m as muitas mensagens que tive depois das provas, muito em especial as dos colegas que me confidenciavam que sentiam este doutoramento tamb&eacute;m como deles pr&oacute;prios. E &eacute; mesmo! Esta &eacute; uma tese que percorre a &uacute;ltima d&eacute;cada da medicina geral e familiar e que seria imposs&iacute;vel sem o empenho e participa&ccedil;&atilde;o de muitos profissionais dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. Quando dediquei esta tese &agrave; mem&oacute;ria do Professor Jos&eacute; Guilherme Jord&atilde;o, era tamb&eacute;m essa a mensagem que queria transmitir.

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