Jornal Médico - Acácio Gouveia... Transcrições: pesadelo sem fim

Os pedidos de transcri&ccedil;&otilde;es de MCD por parte dos CSS, dirigidos aos CSP, visam diminuir a factura hospitalar transferindo os custos para os CSP, de forma abusiva e &agrave; revelia das mais elementares normas da transpar&ecirc;ncia "Porventura n&atilde;o haver&aacute; unguento em Gilaede?" Jeremias 8.22 "Querer ir para o sul com a carruagem voltada para o norte" Aforismo chin&ecirc;s Os pedidos de transcri&ccedil;&otilde;es de MCD por parte dos CSS, dirigidos aos CSP, visam diminuir a factura hospitalar transferindo os custos para os CSP, de forma abusiva e &agrave; revelia das mais elementares normas da transpar&ecirc;ncia. Para al&eacute;m de falsearem a contabilidade, s&atilde;o respons&aacute;veis por perniciosas consequ&ecirc;ncias para o SNS. Provocam danos em tr&ecirc;s vertentes: (1) econ&oacute;mica; (ii) deontol&oacute;gica e (iii) &eacute;tica. (i) Economicamente... S&atilde;o causa de desperd&iacute;cio evidente. P&ocirc;r dois profissionais a executar uma tarefa, que necessita apenas do esfor&ccedil;o de um, aumenta os custos de produ&ccedil;&atilde;o. Al&eacute;m disso, sendo desresponsabilizado pelos custos gerados, o m&eacute;dico hospitalar ter&aacute;, naturalmente, mais &agrave;-vontade para requisitar mais exames para al&eacute;m dos estritamente necess&aacute;rios, piorando a rela&ccedil;&atilde;o custo/benef&iacute;cio. (ii) Do ponto de vista deontol&oacute;gico... Fez dos MF meros amanuenses dos hospitais, daqui resultando preju&iacute;zo para a sua auto-estima e degradando-lhes a imagem perante os utilizadores. (iii) Eticamente... Imp&otilde;e ao doente/utente uma ida desnecess&aacute;ria ao centro de sa&uacute;de. Fazendo um par&ecirc;ntesis no intuito de ser sint&eacute;tico, refiro o caso dum doente que, quinzenalmente, se deslocava 20 Km para pedir, na extens&atilde;o de sa&uacute;de onde trabalho, uma requisi&ccedil;&atilde;o de raio X. Isto porque o servi&ccedil;o onde fazia litotr&iacute;cia lha negava. Fica, pois, exposto o cinismo do argumento utilizado, o de "facilitar a vida ao doente", repetido &agrave; exaust&atilde;o para justificar aquele procedimento. Mas os inconvenientes deontol&oacute;gicos e &eacute;ticos acarretam perdas econ&oacute;micas suplementares. Para j&aacute;, h&aacute; a contabilizar as horas de trabalho dos utentes com vida profissional activa, perdidas nestas desloca&ccedil;&otilde;es desnecess&aacute;rias. Por outro lado, ao atribuir ao MF um papel humilhante de secretariado, fica comprometida auto-estima e, consequentemente, o empenho deste. Ora, sem empenho do profissional a produtividade definha. Aos c&eacute;pticos recomendo que meditem nas raz&otilde;es que levaram &agrave; onda de reformas antecipadas de MF. Acrescente-se que este tipo de tarefas contribuiu para criar uma imagem muito distorcida da miss&atilde;o dos CSP. O cidad&atilde;o passou a ver o MF como um funcion&aacute;rio essencialmente incumbido de fazer requisi&ccedil;&otilde;es e preencher papeluchos, sem capacidade deliberativa real. A quem duvidar... convido a analisar o teor das reclama&ccedil;&otilde;es dos livros amarelos. Percentagem muito significativa refere-se a recusas em requisitar MCD ou emitir declara&ccedil;&otilde;es, por parte do cl&iacute;nico, que n&atilde;o lhes encontrou fundamento. Ora, a imagem dum ac&eacute;falo preenchedor de papelada, dificilmente se compatibiliza com a de um t&eacute;cnico que toma decis&otilde;es. Sem confian&ccedil;a nas capacidades t&eacute;cnico-cient&iacute;ficas do MF por parte dos utentes, mais atrofiada ficou a produtividade dos centros de sa&uacute;de. Estas perdas em produ&ccedil;&atilde;o s&atilde;o muito dif&iacute;ceis de contabilizar e passam facilmente despercebidas, mas t&ecirc;m tido um impacto descomunal na produtividade do SNS. Portanto, uma manobra de maquilhagem das finan&ccedil;as hospitalares, salda-se em perdas incalcul&aacute;veis para a Na&ccedil;&atilde;o. Uma vigarice tipicamente sulista ... greco-latina. A recente tomada de posi&ccedil;&atilde;o pelo Baston&aacute;rio da OM condenando inequivocamente as transcri&ccedil;&otilde;es no seio do SNS, significou uma derrota dos defensores daquela aberra&ccedil;&atilde;o e foi um marco muito positivo, ao fim de mais de uma d&uacute;zia de anos de luta. Quanto ao pol&eacute;mico Despacho 14230/2011, que pro&iacute;be as transcri&ccedil;&otilde;es, h&aacute; que elogiar-lhe a assertividade, ausente da postura de anteriores respons&aacute;veis, que primaram pelo sil&ecirc;ncio, pela pusilanimidade ou pela ambiguidade. Por&eacute;m, a per&iacute;cia do ministro foi a de um elefante numa loja de porcelana. Ao proibir concomitantemente o uso de credenciais para os convencionados por parte dos hospitais, inundou os centros de sa&uacute;de de pedidos de transcri&ccedil;&otilde;es de residentes em locais afastados dos grandes centros. Os hospitais que mantinham a pol&iacute;tica das transcri&ccedil;&otilde;es esfregam as m&atilde;os de contentes; os outros ficam impedidos de manter as boas pr&aacute;ticas deontol&oacute;gicas e &eacute;ticas que vinham aplicando. Por hoje ficamos por aqui. Na pr&oacute;xima cr&oacute;nica abordaremos a problem&aacute;tica das transcri&ccedil;&otilde;es vindas dos consult&oacute;rios privados. Ac&aacute;cio Gouveia Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

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