Jornal Médico - Rui Cernadas: Questões de dinheiros, mas não só!

&ldquo;A minha boa vontade n&atilde;o tem felizmente limites. S&oacute; uma coisa n&atilde;o poderei fazer: o imposs&iacute;vel. E tenho verdadeiramente pena de ele n&atilde;o estar ao meu alcance&rdquo;, lia-se h&aacute; muitos anos atr&aacute;s no Di&aacute;rio de Not&iacute;cias, de 23 de Junho de 1964, num discurso do ent&atilde;o Presidente da Rep&uacute;blica Am&eacute;rico Tom&aacute;s&hellip; &ldquo;A minha boa vontade n&atilde;o tem felizmente limites. S&oacute; uma coisa n&atilde;o poderei fazer: o imposs&iacute;vel. E tenho verdadeiramente pena de ele n&atilde;o estar ao meu alcance&rdquo;, lia-se h&aacute; muitos anos atr&aacute;s no Di&aacute;rio de Not&iacute;cias, de 23 de Junho de 1964, num discurso do ent&atilde;o Presidente da Rep&uacute;blica Am&eacute;rico Tom&aacute;s&hellip; Tamb&eacute;m eu me sinto cheio de boa vontade&hellip; Alguns n&uacute;meros devem fazer-nos meditar. Os tempos dos euros eram ainda inimagin&aacute;veis e os escudos valiam muito, tanto, tanto que ainda hoje muitos s&atilde;o os que raciocinam e contabilizam em escudos e em contos. Mas tal como em muitas outras coisas, o tempo voou ou correu c&eacute;lere. E chegados a esta altura, debate-se o pa&iacute;s com uma situa&ccedil;&atilde;o econ&oacute;mica e financeira muito grave e delicada em que as contas, a austeridade e o rigor parecem n&atilde;o chegar nunca&hellip; Portugal consome em cuidados de sa&uacute;de qualquer coisa como um pouco menos de 10% da totalidade da riqueza produzida, toda a gente o sabe. O Or&ccedil;amento de Estado para 2012 est&aacute; a&iacute; e sabe-se como ser&aacute; dif&iacute;cil e duro para todos, contribuintes em particular&hellip; Na conjuntura global por&eacute;m, h&aacute; dados que merecem, a confirmar-se, algum agrado. Por exemplo, quanto ao investimento do Estado na regi&atilde;o Norte de Portugal, cujo montante relativamente ao exerc&iacute;cio de 2011 ir&aacute; duplicar. Com efeito, o PIDDAC reservou ao Norte uma distribui&ccedil;&atilde;o per capita de cerca de 220 euros, contra os 108 euros atribu&iacute;dos em 2011, significando que no norte o programa de investimento prev&ecirc; 19% do total a investir, cerca de 811 milh&otilde;es de euros. Por compara&ccedil;&atilde;o com a regi&atilde;o de Lisboa e Vale do Tejo e para dar ideia dos n&uacute;meros, esta receber&aacute; cerca de 7,2%. O problema &ndash; para o Norte &ndash; &eacute; que a empresa Metro do Porto ir&aacute; reter 40% do montante a investir na regi&atilde;o, isto &eacute;, mais de 320 milh&otilde;es de euros. N&atilde;o sei se vai ajudar, mas a Metro com a quarta maior d&iacute;vida &agrave; banca (2.340 milh&otilde;es) e o terceiro pior resultado em capitais pr&oacute;prios negativos (- 1.158 milh&otilde;es de euros), tamb&eacute;m n&atilde;o teve resultados operacionais brilhantes em 2010 &ndash; foi a pior empresa com 351,8 milh&otilde;es de euros negativos! Pela parte que nos toca, a Sa&uacute;de, os resultados l&iacute;quidos de 2010 colocaram 5 hospitais ou centros hospitalares nos dez piores. O Centro Hospitalar (CH) Lisboa Ocidental com mais de 42 milh&otilde;es negativos ficou ao n&iacute;vel da Carris, em Lisboa e teve o pior dos comportamentos hospitalares. O Centro Hospitalar Lisboa central, com mais de 37 milh&otilde;es negativos quase igualou os STCP (Porto). E depois, tamb&eacute;m em negativos, tivemos o Centro Hospitalar Set&uacute;bal (-30,5 milh&otilde;es), o Hospital Garcia da Orta (-25,3 milh&otilde;es) e o CH M&eacute;dio Tejo (-23,2 milh&otilde;es). Ser&aacute; s&oacute; uma quest&atilde;o de culturas, entre Norte e Sul? Ou uma quest&atilde;o de dinheiros? Esperemos para ver como ser&aacute;&hellip; Entretanto, porque cada vez mais se fala de e em n&uacute;meros, mais um se quiserem ter a paci&ecirc;ncia de me ler. A ADSE financiar&aacute; em cerca de 200 milh&otilde;es de euros os diversos servi&ccedil;os de hospitaliza&ccedil;&atilde;o privada&hellip; O Centro Hospitalar Lisboa Norte poder&aacute; estar a dever mais de 250 milh&otilde;es de euros a fornecedores ou seja qualquer coisa como &agrave; volta de 12,5% do total das d&iacute;vidas do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de&hellip; Estamos a gastar anualmente perto de 320 milh&otilde;es de euros em pagamento de horas extraordin&aacute;rias, a m&eacute;dicos e enfermeiros, em servi&ccedil;o a hospitais e cuidados prim&aacute;rios, para al&eacute;m das compensa&ccedil;&otilde;es em folgas, num cen&aacute;rio complexo agravado pelo facto de a uma redu&ccedil;&atilde;o de horas poder n&atilde;o corresponder qualquer redu&ccedil;&atilde;o da despesa dado o pagamento de base diferente&hellip; Outras vezes, n&atilde;o h&aacute; n&uacute;meros&hellip; Por exemplo, na afirma&ccedil;&atilde;o da Dr.&ordf; Isabel Vaz, da &ldquo;Esp&iacute;rito Santo Sa&uacute;de&rdquo;, que sustentava que &ldquo;h&aacute; hospitais que v&atilde;o ter de fechar&rdquo;&hellip; O que desejar&iacute;amos era muito simples. Que o dinheiro dos contribuintes possa ser bem aplicado e gerido, que se atinjam n&iacute;veis de elevada qualidade na actividade cl&iacute;nica e que a efici&ecirc;ncia dos servi&ccedil;os possa por si s&oacute; garantir a redu&ccedil;&atilde;o dos custos. E j&aacute; agora, como diria o Presidente Am&eacute;rico Tom&aacute;s, que se tente fazer o imposs&iacute;vel: acreditar nas pessoas, porque afinal as pessoas ainda s&atilde;o o capital mais precioso para a mudan&ccedil;a&hellip;

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