Jornal Médico - Carl Steylaerts: Marshall

Este texto faz refer&ecirc;ncia ao James Mackenzie Lecture, que decorreu na Assembleia-Geral anual do Royal College of General Practitioners, em Londres, a 14 de Novembro de 2008. Este texto faz refer&ecirc;ncia ao James Mackenzie Lecture, que decorreu na Assembleia-Geral anual do Royal College of General Practitioners, em Londres, a 14 de Novembro de 2008. O professor Martin Marshall falou sobre Pr&aacute;tica, Pol&iacute;tica e Possibilidades: &ldquo;Talvez o nosso maior fracasso, reconhecido desde h&aacute; d&eacute;cadas, seja a nossa incapacidade ou talvez falta de vontade para lidar com aquilo que heuristicamente designamos por fraco desempenho &ndash; a vergonha da Medicina Geral e Familiar (MGF) em utilizar termos mais provocadores&rdquo;. Na minha fun&ccedil;&atilde;o como cl&iacute;nico e algu&eacute;m empenhado na melhoria da qualidade tenho estado exposto ao melhor da MGF. Mas tamb&eacute;m estive envolvido em grupos locais de desempenho e trabalhei no Governo e a&iacute; estive exposto ao que s&oacute; posso esperar que seja o pior de tudo. E n&atilde;o estou a falar dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia (MF) que s&oacute; alcan&ccedil;avam Nem sequer falo dos MF que n&atilde;o conseguem descrever o risco da diabetes mal controlada, apesar de me sentir desesperado perante esses colegas. Falo, antes, do MF que n&atilde;o tem uma cadeira para sentar o seu doente porque tem diminu&iacute;do o n&uacute;mero de consultas. Falo do MF que se descobriu andar a reutilizar material descart&aacute;vel n&atilde;o esterilizado. Isso p&ocirc;s-me a pensar: para que servem valores a que um n&uacute;mero crescente de colegas de especialidade, em particular os nossos sucessores, a pr&oacute;xima gera&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o querem aspirar? &Eacute; &oacute;bvio que os valores devem ser algo a que podemos aspirar, mas tal como a abordagem jesu&iacute;ta &agrave; doutrina, devem ser algo que podemos viver no dia-a-dia. Ser&aacute; ent&atilde;o necess&aacute;rio rever os nossos valores e redefini-los de forma a reflectirem n&atilde;o s&oacute; o que &eacute; fundamentalmente importante, mas tamb&eacute;m algo pass&iacute;vel de ser concretizado. Deixem-me dar a minha opini&atilde;o. Sugiro que haja apenas tr&ecirc;s valores nucleares a definir a nossa disciplina e em torno dos quais devemos definir o que fazemos. Em primeiro lugar, todos os MF devem estar empenhados em ser excelentes m&eacute;dicos generalistas. Em segundo lugar, todos os MF devem centrar os cuidados na pessoa. Por &uacute;ltimo, todos os MF devem advogar os interesses dos seus doentes e respectivas comunidades. O nosso desafio &eacute; encontrar uma forma de comunicar a nossa import&acirc;ncia, de vender a nossa disciplina. Neste ponto, acredito que temos que olhar para fora do nosso corpo de conhecimento estabelecido, da mesma forma que os nossos antecessores fizeram, nos anos 60, quando se voltaram para o campo acad&eacute;mico da educa&ccedil;&atilde;o, desbravando novos caminhos na forma&ccedil;&atilde;o dos formandos. Por sua vez, a expertise na &aacute;rea da comunica&ccedil;&atilde;o, a capacidade de mudar atitudes e comportamentos, pode ser encontrada no dom&iacute;nio do marketing, nomeadamente do marketing social, sustentada pela ci&ecirc;ncia da psicologia cognitiva. O conceito de marketing social foi desenvolvido por Philip Kotler e Gerald Zaltman no in&iacute;cio dos anos 70. Prende-se com vender n&atilde;o com vista ao lucro mas ao bem social. Esta ideia enfatiza a import&acirc;ncia dos valores, de compreender a audi&ecirc;ncia-alvo no seu contexto social, de trabalhar com ela no sentido de mudar o seu pensamento e comportamento em vez de lhes proporcionar um servi&ccedil;o. Esta abordagem j&aacute; foi utilizada com sucesso em diferentes &aacute;reas, incluindo campanhas de sa&uacute;de p&uacute;blica, com programas pioneiros na Austr&aacute;lia como Quit, uma campanha pela cessa&ccedil;&atilde;o tab&aacute;gica, e Sunsmart, campanha de preven&ccedil;&atilde;o do cancro da pele. H&aacute; um corpo de evid&ecirc;ncia crescente de que o marketing social funciona&rdquo;. Reconhecemos estas afirma&ccedil;&otilde;es sobre a qualidade da pr&aacute;tica e os tr&ecirc;s valores nucleares da nossa especialidade? Precisamos do marketing social ou os mindsets j&aacute; est&atilde;o a mudar? No meu entender, h&aacute; uma enorme evid&ecirc;ncia no seio do EQUIP de que a qualidade do nosso trabalho ainda necessita de uma abordagem activa. Actualmente, est&aacute; a decorrer uma revis&atilde;o da defini&ccedil;&atilde;o emitida pela WONCA Europa em 2002 e revista em 2005. Na minha opini&atilde;o, os tr&ecirc;s valores nucleares que Marshall prop&otilde;e s&atilde;o, sem sombra de d&uacute;vida, os valores mais valiosos de que algu&eacute;m pode lembrar-se. E quando o marketing social significa que devemos envolver o p&uacute;blico, os nossos doentes, redefinindo a nossa pr&aacute;tica de forma a que, como num contrato, todas as partes saibam o que &eacute; concretiz&aacute;vel, sou completamente a favor. Vamos coloc&aacute;-lo nas nossas agendas, agora!

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