Jornal Médico - Maria do Carmo Fonseca: “quando chegamos à proporção de mulheres cientistas no topo da carreira, precisamos de mais”

Com o intuito de incentivar a investigação sobre mulheres e realizada por mulheres, Maria do Carmo Fonseca foi a conferencista no evento de apresentação do Prémio Hologic Saúde da Mulher, decorreu na manhã de 25 de maio no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Participaram no evento personalidades de várias áreas da Medicina, entre as quais, Maria Guilhermina Pereira, da APMGF. A presidente do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa João Lobo Antunes, na sua palestra "A Mulher na Investigação e a Investigação sobre a Mulher", contextualizou que, o âmbito da investigação científica, os estudos que incluíam homens eram mais comuns, devido à estabilidade que contrasta com as constantes alterações hormonais às quais as mulheres estão sujeitas. Como esclareceu Maria do Carmo Fonseca, “à exceção daquelas doenças que são específicas da mulher, hoje em dia, temos relativamente pouco conhecimento sobre como reage a mulher à maioria das doenças é, portanto, preciso chamar a atenção para a necessidade de fazer investigação sobre o ser humano, sobre a saúde humana, tendo em conta a variável sexo ou género, ser homem ou mulher”, adverte. Apesar do “longo caminho” que ainda falta percorrer para que a mulher se sinta mais representada no mundo da investigação na ciência, “nos últimos anos, temos cada vez mais exemplos”, salvaguarda. Por isso, é tão importante criar momentos que deem visibilidade às “nossas melhores investigadoras, para que elas possam mostrar o seu trabalho e servir como uma referência para atrair mais jovens raparigas para uma carreira na investigação”. O lançamento do Prémio Hologic Saúde da Mulher, no entender de Maria Guilhermina Pereira, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), não só visa “dar um incentivo maior”, como pretende destacar o papel da mulher enquanto investigadora e enquanto alvo de investigação. Concordando que embora exista “muito trabalho que tem sido feito, a par com a medicina dos homens”, é a nível sociocultural que ainda é preciso investir, pois, “a mulher ainda é tida como o género vulnerável”, refere. O evento contou, também, com a presença de Ana Filipa Mourão, da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR). Ao tratar doenças reumáticas do aparelho locomotor, e sendo essas doenças, como a osteoporose, osteoartrose ou doenças reumáticas inflamatórias mais comuns em mulheres, “na SPR procuramos promover iniciativas que de facto contribuam para a saúde e para o bem-estar da mulher como um todo”, refere. Nessa medida, considera que “estes prémios são importantíssimos para fomentar a investigação na saúde, nomeadamente, na nossa parte da saúde musculoesquelética da mulher”. Voltando à perspetiva de Maria do Carmo Fonseca, Portugal não só “tem vindo a acompanhar as mesmas tendências que o resto do mundo ocidental”, como apresenta “excelentes exemplos, excelentes motivações, excelentes inspirações” no que concerne à investigação por mulheres, porém, “quando chegamos à proporção de mulheres cientistas no topo da carreira, precisamos de mais” e, é isso que é urgente “contrariar com mais incentivos”. Emocionada, Maria do Carmo Fonseca, salienta que “nunca é demais dar incentivos à investigação”, e nesse sentido, este é um prémio importante para “chamar a atenção para a necessidade de fazerem investigação sobre a mulher, sobre a saúde da mulher”. Este é o primeiro prémio em Portugal, no valor de 12 mil euros, que pretende abranger as diversas áreas que afetam a Saúde da Mulher e que irá distinguir, anualmente, um trabalho de investigação básica. A iniciativa conta com o apoio institucional da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC), da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), da Sociedade Portuguesa de Contraceção (SPDC), da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), da Sociedade Portuguesa de Senologia (SPS) e da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR).

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