Jornal Médico - Nuno Jacinto: Medir o que é feito com o objetivo de melhorar

Os indicadores de saúde servem para medir o que é feito, melhorar e ajudar a replicar as boas práticas. Têm, pois, um objetivo definido. Em Portugal, os indicadores de saúde em Pediatria têm apresentado bons resultados, conforme salientou Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), no âmbito de uma sessão incluída no programa do dia 27 de outubro do 23.º Congresso Nacional de Pediatria. Saiab mais na edição 147 do Jornal Médico. Os indicadores são importantes em qualquer área, na medida em que “servem para medirmos o que estamos a fazer, identificar o que temos de melhorar ou o que já estamos a fazer bem, no sentido de depois replicar as boas práticas”, sublinhou Nuno Jacinto. O especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) participou no painel de discussão da palestra de Henrique de Barros dedicada ao tema “Indicadores de saúde em Pediatria” e, no rescaldo da sessão, referiu ao Jornal Médico que “os indicadores, por si só, dão uma fotografia da realidade, mas não dão a dimensão total da atividade clínica e do estado de saúde da população”. São muitos os indicadores e respetivas finalidades. Especificou que existem “indicadores de processo” que não têm qualquer tipo de consequência e “indicadores de resultado” para os quais não temos nenhum processo a ser monitorizado e é isto que não pode acontecer”. Ou seja, conforme explicou, “quando os indicadores são definidos, tem de haver um motivo. Por exemplo, quando queremos conhecer melhor uma determinada realidade, para fazer uma análise ou comparação, que pode servir para avaliar um progresso. Sem este procedimento, vamos ter um valor que nos diz muito pouco e arriscamo-nos a ter os profissionais de saúde (médicos de família, pediatras, etc.) a trabalharem para um número que não tem um resultado prático na saúde das populações, acabando por não ter grande utilidade”. Nas unidades dos Cuidados de Saúde Primários existem mais de 120 indicadores, alguns dos quais na área da Pediatria. Nuno Jacinto indicou que nos cuidados de saúde primários (CSP) há uma “dispersão de indicadores pelas várias áreas e provavelmente perdemos demasiado tempo em indicadores burocráticos e administrativos (por exemplo, relacionados com horário de funcionamento ou taxas de utilização), ou seja, factores que traduzem muito pouco o que é o verdadeiro acesso e a verdadeira qualidade de cuidados, perdendo assim o foco nas áreas clínicas”. E até mesmo nas áreas clínicas, o especialista em MGF compartilhou que está a ser dada muita importância aos procedimentos, que “são fundamentais para monitorizar a atividade”, contudo, “muitas vezes pouco importantes para resultados, sendo a saúde infantil um desses exemplos”. Acrescentou que “as consultas são quantificadas, mas é pouca a informação de retorno retirada”. Este foi um aspecto, aliás, mencionado por Henrique de Barros. “Termos a indicação de que estamos a fazer muitas ou poucas consultas não significa nada. Podemos consultar muitas crianças, mas tal não significa que estejamos a contribuir para uma melhoria da saúde dessas crianças”, realçou Nuno Jacinto. Para o médico, os indicadores de saúde “não podem ser olhados de forma isolada” e, no que respeita a áreas prioritárias, como a saúde infantil, a saúde da mulher ou algumas doenças crónicas, “temos de ter alguns indicadores de resultados, que nos permitam perceber o impacto da nossa atividade. E isso não está a acontecer, pelo menos nos CSP”. Os resultados atuais estão associados a alguns processos e traduzem o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na área da saúde materno-infantil, no qual estão envolvidas várias especialidades, tais como a Pediatria, Obstetrícia e MGF. “Graças à capilaridade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os cuidados de saúde nesta área chegaram (e chegam) a quase todo o território nacional, permitindo que todas as pessoas tenham acesso a cuidados de qualidade durante a gravidez e durante os primeiros anos de vida da criança”, salientou Nuno Jacinto, considerando fulcral a partilha de conhecimentos entre as diferentes especialidades médicas.

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