Jornal Médico - Regina Ribeiras e o CPC 2021: “Conseguimos edificar um programa de elevada qualidade”

“Nesta segunda edição online procuramos colmatar as falhas que estavam ao alcance da nossa capacidade de controlo”. Foi esta a preocupação subjacente ao Congresso Português de Cardiologia 2021 (CPC), que arranca esta sexta-feira, 30 de abril, e se estende até domingo, 2 de maio. Ao Jornal Médico, a presidente do congresso, Regina Ribeiras, sustentou que tiveram de “trabalhar afincadamente e imaginar a melhor forma de construir um programa com o nível científico de excelência”. Jornal Médico | O Congresso Português de Cardiologia 2021 (CPC 2021) arranca dia 30 de abril. Quais os principais desafios do congresso nesta edição? Regina Ribeiras | A organização do CPC 2020, a primeira edição virtual, foi o primeiro grande desafio e, no global, decorreu acima das nossas expectativas. Nesta segunda edição online procuramos colmatar as falhas que estavam ao alcance da nossa capacidade de controlo, como seja algumas melhorias na plataforma de produção do programa científico, a retoma da investigação científica nacional com visibilidade e o protagonismo desejáveis para as comunicações orais, uma plataforma atrativa e de fácil navegação para os posters e muito importante os cursos pré-congresso que não foram possíveis no congresso anterior. JM | O que tiveram em conta para conseguir encontrar um programa que fosse “apelativo” para quem vai assistir ao congresso nestes moldes online? RR | Efetivamente, o curto espaço de tempo entre o CPC 2020 e o CPC 2021 exigia a construção de um programa que atualizado em que a dúvida científica, a controvérsia, mas também o equilíbrio e a ponderação, estivessem presentes, de acordo com o lema escolhido. Em seis meses, não há muitas novidades ou inovações para apresentar, pelo que tivemos de trabalhar afincadamente e imaginar a melhor forma de construir um programa com o nível científico de excelência que é apanágio do CPC, mas que também fosse marcadamente multidisciplinar. Penso que conseguimos superar este desafio e disso é prova a avaliação e acreditação internacional com 24 créditos atribuídos. A comissão científica do CPC 2021, de excecional qualidade clínica e científica, foi escolhida propositadamente mais extensa do que o habitual, de modo a poderem estar representadas todas as áreas da Cardiologia. JM | Quais os temas que destaca nesta edição? RR | São vários os temas, desde os mais controversos respeitantes à intervenção percutânea valvular aórtica, a ser realizada em centros com ou sem cirurgia cardíaca, passando pela genética em cardiologia, miocardiopatias e cardio-oncologia e é claro toda a evolução da imagem mercê do progresso tecnológico. Estes são apenas alguns exemplos demonstrativos que em todas as áreas da Cardiologia existem espaços do conhecimento por preencher, que exigem troca e partilha de informação. É claro que todas as interfaces com outras especialidades foram tratadas: a problemática da Covid-19, a mudança nas guidelines para diagnóstico da cardiopatia isquémica que entrosa com a atividade da Medicina Geral e Familiar e que nos mereceu uma mesa conjunta com a APMGF. JM | De que forma o congresso contribui para a atualização de conhecimentos sobre diferentes áreas de subespecialização da Cardiologia? RR | A partilha de conhecimento. Teremos uma faculty internacional extraordinária, de reconhecido mérito científico, que permitirá a partilha de novas, mais ousadas, mas quiçá mais consistentes metodologias de abordagem ao diagnóstico ou à terapêutica. É sempre extraordinário conseguirmos partilhar informação, dúvidas ou certezas com quem tem um volume de experiência fora de série. A educação médica continuada aqui colocada em primeiro plano com 12 cursos pré-congresso, que já decorreram e que envolveram cerca de 412 formandos e 100 formadores. E, por fim e não menos importante, a construção do programa com completo entrosamento de todas as áreas de subespecialização da Cardiologia. JM | Qual o papel da SPC na partilha de conhecimento e disseminação de informação sobre a temática? RR | A SPC tem, para lá do CPC, a Academia Cardiovascular, que é o nosso nicho de culto da aprendizagem e partilha de conhecimento, com cursos e formações que decorrem ao longo de todo o ano já todas adaptadas ao modelo digital. A SPC atribui ainda bolsas de formação bem como prémios. JM | Há alguma temática em específico que requeira uma maior atenção/discussão nesta área da medicina? RR | Em todas as áreas da Cardiologia há controvérsia potência. Diria que, independentemente da patologia (doença valvular, doença do músculo cardíaco, doença das coronárias), a atuação cardiológica, quer no âmbito do diagnóstico, quer no da terapêutica e do seguimento, contém em si inquietações e ainda défices de evidência científica que exigem a sua discussão continuada. JM | No geral quais as expectativas para esta edição? RR| Temos, naturalmente, expectativas elevadas. Construímos este congresso em contrarrelógio, com todo o empenho e determinação. Conseguimos edificar um programa elevada qualidade, com palestrantes nacionais e internacionais de elevado nível científico. Retomámos os cursos para congresso com o sucesso acima referido; finalmente, mas não menos importante, decidimos ir para lá das nossas preocupações científicas. Efetivamente, este será primeiro o CPC a envolver-se num projeto solidário e que, como já foi veiculado publicamente, envolve o apoio a um projeto já em curso em São Tomé e Príncipe e que diz respeito ao diagnóstico precoce de cardiopatia reumática fonte de elevada mobilidade e mortalidade naquele país lusófono. JM | Existe alguma inovação nesta edição que pretenda destacar? RR | Este CPC, tal como o anterior, inauguraram a era digital dos congressos da SPC, naturalmente que condicionados pelas circunstâncias de pandemia que ainda vivemos. Tivemos de reformular as estruturas a que estávamos habituados, incluindo os modelos de sessões científicas, transformando conferências em momentos de partilha e discussão, envolvendo palestrantes internacionais na generalidade das sessões, e, sem sombra de dúvida, adaptámo-nos, penso que com sucesso, o que seguramente nos fez evoluir.

Terceiro espaço

Mais lidas