Jornal Médico - Catarina Viegas Dias: Avaliar e intervir internos de MGF “para uma prática baseada na melhor prova científica disponível”

No âmbito da parceria entre a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), o 40.º Encontro Nacional da APMGF acolheu a sessão “Vende-nos o teu projeto”, durante a qual atribuiu três bolsas de apoio à investigação no valor de três mil euros. Catarina Viegas Dias foi uma dos três premiados, com um projeto que pretende ajudar os médicos a exercerem Medicina com base na melhor evidência disponível. JM |Como surgiu a ideia de participar na iniciativa? Catarina Viegas Dias (CVD) | Soubemos da iniciativa “Vende-nos o teu projeto” através da divulgação por e-mail por parte da APMGF. A atratividade da iniciativa prende-se não só com o apoio financeiro, mas também com a possibilidade de feedback e mentoria por parte dos consultores de investigação da APMGF. Além disso, a oportunidade de preparar um pitch para vender uma ideia de investigação e o confronto com as perguntas do painel de consultores ajudam a repensar a própria ideia e facilitam a identificação de potenciais forças e limitações do nosso próprio trabalho. Já tínhamos concorrido o ano passado com uma ideia semelhante, mas o trabalho não foi selecionado, e aproveitamos esta nova candidatura para melhorar a nossa ideia de investigação. Este tipo de iniciativas aumentam a motivação para pensar novos projetos de investigação em Cuidados de Saúde Primários, e no caso da atribuição de bolsas, melhoram a exequibilidade destes projetos. Pareceu-nos uma excelente iniciativa da APMGF e da AICIB que esperamos trazer muitos frutos para a investigação clínica em Cuidados de Saúde Primários em Portugal. Jornal Médico (JM) | Em que consiste o projeto? (CVD) | A maioria dos médicos pretende praticar a Medicina Baseada em Evidências (MBE), mas existe uma discrepância entre o comportamento desejado e o comportamento observado. Sabemos que os médicos têm pelo menos uma pergunta para cada dois doentes que observam, mas procuram respostas para menos de metade dessas perguntas. E quando procuram respostas, nem sempre usam recursos fidedignos. Isso leva a variações significativas na prática clínica, mesmo em tópicos consensuais, e a atrasos na implementação de nova evidência. Este projeto tem como objetivo avaliar como podemos ajudar os médicos a praticar a Medicina de acordo com as suas preferências, com base na melhor evidência disponível. O projeto é baseado num modelo teórico que sugere que os comportamentos são determinados pelas capacidades físicas e mentais das pessoas, a motivação intrínseca e extrínseca em mudar o comportamento e o conjunto de oportunidades físicas e sociais para o comportamento. Será um estudo experimental em ambiente laboratorial, no qual uma amostra de médicos internos de Medicina Geral e Familiar será selecionada aleatoriamente para quatro intervenções distintas: uma intervenção na capacidade, uma intervenção na motivação, uma intervenção na oportunidade e uma intervenção tripla, consistindo na aplicação das três intervenções anteriores. Pretendemos avaliar qual das intervenções tem o maior impacto na mudança de comportamento dos médicos a curto prazo utilizando uma ferramenta validada de avaliação da prática clínica. Em resumo, sabemos que o conhecimento não é meia batalha ganha, e muitas vezes sabemos o que deveríamos fazer para sermos mais saudáveis, felizes, ou produtivos, mas existem outros domínios que influenciam o nosso comportamento humano. Os médicos não são exceção, e apesar de os estudos mostrarem que querem estar mais atualizados e exercer de acordo com as práticas gold-standard, nem sempre o fazem. Queremos avaliar a eficácia de três intervenções em diferentes áreas de comportamento (capacidade, motivação, oportunidade) e uma intervenção combinada na mudança de comportamento de médicos internos de MGF para uma prática baseada na melhor prova científica disponível. JM | Como vai ser aplicada a bolsa pecuniária? CVD | Pretendemos aplicar a bolsa na contratação de consultores em Ciência Comportamental, para suportar os custos associados ao contexto experimental (aluguer de espaço, apoio informático para um dos braços de intervenção), e para se possível, contratar recursos humanos para a fase de análise dos dados recolhidos no estudo. Mesmo com o apoio recebido, não vai ser possível suportar os custos totais do trabalho, o que é comum na Investigação Clínica em Portugal, mas estamos gratos pelo apoio recebido, e pelo aparecimento de novos apoios para a Investigação no nosso país.

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