Jornal Médico - Indicações de utilização de anti-histamínicos em Pediatria: como e em que circunstâncias?

Os anti-histamínicos de 2.ª geração estão atualmente indicados como primeira linha de tratamento para a rinite alérgica, conjuntivite alérgica e urticária. Estes fármacos não têm os mesmos efeitos colaterais associados aos anti-histamínicos de 1.ª geração, como a sonolência, cefaleia, a visão turva ou a secura dos olhos e da boca. Rosa Martins trouxe o tema à discussão durante o 23.º Congresso Nacional de Pediatria. O aparecimento dos anti-histamínicos de 2.ª geração, na década de 80, foi um “marco muito importante” na Alergologia. E Rosa Martins, assistente hospitalar na Unidade de Alergologia do Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, quis assinalar a importância durante a sessão “Anti-histamínicos em Pediatria: indicações”, que integrou o programa científico do 23.º Congresso Nacional de Pediatria. A palestrante explicou ao Jornal Médico que os anti-histamínicos de 1.ª geração “não são seletivos para os recetores H1” e que por isso “têm efeitos colinérgicos, serotoninérgicos e alfa-adrenérgicos”, causando “cefaleia, visão turva, olhos e boca seca”, bem como “sintomas gastrointestinais e urinários e aumento do apetite e do peso”. Os anti-histamínicos de 1.ª geração “passam a barreira hematoencefálica com muita facilidade por serem lipofílicos e pelo baixo peso molecular, portanto ligam-se numa percentagem muito elevada aos recetores H1 no sistema nervoso central. Consequentemente, vamos ter crianças com sonolência, alteração da capacidade cognitiva, de atenção, de memória e de aprendizagem”, acrescentou Rosa Martins, que também é docente na Faculdade de Medicina de Lisboa. Apontou ainda como efeito colateral ligado à utilização de anti-histamínicos de 1.ª geração a “cardiotoxicidade com risco de arritmias malignas”. Um efeito que não é causado pela toma da grande maioria dos anti-histamínicos de 2.ª geração. Para evidenciar o aumento da prevalência da doença alérgica, a especialista focou dados do Infarmed, de 2017, da venda de “6 milhões de embalagens destes fármacos, com um custo de 31 milhões de euros”, o que “demonstra o impacto na economia e na sociedade”. Recomendações: rinite alérgica, conjuntivite alérgica e urticária Os anti-histamínicos de 2.ª geração estão indicados como primeira linha de tratamento para a rinite alérgica, conjuntivite alérgica e urticária (aguda e crónica), de acordo com Rosa Martins. “A evidência não é tão robusta em todas as outras situações, em que habitualmente se utiliza este tipo de fármacos”, afirmou e apontou ser o caso da dermatite atópica, em que, se utilizam os anti-histamínicos na tentativa de controlar o prurido associado. Também na anafilaxia “não existe evidência”, sendo “a adrenalina a primeira linha terapêutica e os anti-histamínicos apenas fármacos adjuvantes no tratamento de sintomas”. Noutras situações, como picada de inseto ou o prurido da varicela, “existem alguns estudos suportam a sua utilização, mas a evidência não está ao mesmo nível das três recomendações referidas”. A maior parte dos anti-histamínicos de 2.ª geração estão aprovados para crianças a partir dos dois anos. Em idades inferiores, “a evidência não é muito robusta”. A oradora referiu que, nas patologias nas quais está recomendada a sua utilização destes fármacos, estes “devem ser usados sempre que necessário” com a finalidade de “controlar os sintomas”. Assim, “no caso de rinite sazonal associada aos pólenes, é recomendado iniciar o tratamento antes da época polínica, devendo ser continuado sem interrupção até ao final da mesma. Já na rinite perene, irá depender dos sintomas da criança: se forem muito frequentes, podemos usar de forma contínua de modo a controlar os sintomas”.

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