Jornal Médico - “O GESI tem feito umas das suas grandes apostas o acesso a formação diferenciada na área da Geriatria”

David Magalhães, especialista em Medicina Geral e Familiar, no ACeS Douro I Marão e Douro Norte - USF Murça, e membro da coordenação do Grupo de Estudos do Idoso/Geriatria (GESI) da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), abordou, em entrevista, as iniciativas deste que é um grupo com mais de 50 membros e que aposta na formação em Geriatria de especialistas, recém especialistas e internos de MGF. Além disso, o especialista faz, ainda, um levantamento das iniciativas planeadas para 2024 pelo GESI. Jornal Médico (JM) | Composto por mais de 50 membros, em que medida o Grupo de Estudos da Saúde do Idoso (GESI) se tem vindo a adaptar à sua ação às necessidades emergentes de uma população que é, naturalmente, mais frágil, no contexto dos Cuidados de Saúde Primários? David Magalhães (DM) | O GESI desenvolve a sua atividade com o foco no exercício clínico da Geriatria adaptado à realidade da Medicina Geral e Familiar (MGF), em três eixos estratégicos: Formação; Criação de conteúdos e investigação e Comunicação. Sendo um dos grupos de estudos da APMGF com mais membros, agregamos colegas de norte a sul do país, desde Internos de Formação Especializada do 1.º ano de MGF a professores universitários, incluindo também colegas que exercem a sua atividade na Medicina privada e Médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS). JM | Acompanhando os utentes nas diferentes fases da vida, chegados à idade avançada estes utentes têm os seus registos há décadas nos sistemas dos CSP. De que forma está a ser possível monitorizar a população idosa portuguesa através destes indicadores? DM | Há algum tempo que o GESI tem vindo a trabalhar na possibilidade de propormos um Programa de Saúde do Idoso que ficasse integrado no sistema informático que os médicos de família do SNS utilizam, à semelhança de outros Programas já existentes, como o Saúde Infantil e Juvenil ou de Rastreio Oncológico. Ainda que alguns se encontrem datados face à evidência mais recente, estes permitem aceder a informação sistematizada em cada uma destas áreas, auxiliando a análise da evolução do doente, que adaptado ao contexto da Geriatria poderia servir, por exemplo, para rever a medicação do utente ou aplicar escalas que auxiliem na avaliação do utente idoso. JM | É possível traçar um “retrato robot” do idoso português? DM | Reconhecendo as limitações que este tipo de exercício assume, poderemos dizer que o idoso português, é, em muitos casos, um enorme desafio na prática da MGF. Frequentemente em contexto sociofamiliar adverso, com isolamento e escassez de recursos, à multimorbilidade associada, estes fatores combinados com uma realidade clínica sempre em ritmo acelerado, dificultam a avaliação do utente idoso e a integração de cuidados. JM | De que forma as iniciativas planeadas pelo GESI permitem atender ao contexto atual, possibilitando aos médicos lidar melhor com o utente e doente que têm diante de si? DM | O GESI tem feito umas das suas grandes apostas o acesso a formação diferenciada na área da Geriatria, aplicada ao contexto do médico de família em Portugal. Exemplo disso foi a 1.ª edição do Curso de Geriatria para Médicos de Família, com a equipa de formadores composta por elementos do GESI. Foram abordadas competências nucleares na avaliação do idoso como a Desprescrição, Síndromes Geriátricos e Psicopatologia do Idoso. O GESI é presença assídua em workshops de eventos da APMGF e membro convidado em sessões e palestras de Congressos promovidos por todo o país. A Newsletter do GESI também permite um resumo periódico das novidades na área da Geriatria, com a divulgação de estudos científicos relevantes e de eventos do grupo. JM | Recentemente publicaram o manual eletrónico “Avaliação do Idoso: Guia prático para a Consulta de Medicina Geral e Familiar”. De que forma este permite avaliar o idoso de uma forma holística? DM | Ao identificar uma escassez de materiais de apoio aplicados ao doente idoso no contexto dos Cuidados de Saúde Primários, decidimos criar um documento que abordasse as dimensões mais relevantes da saúde desta população. O Guia de Avaliação do Idoso inclui temas como a avaliação física, a funcionalidade, a dimensão psicológica, socioeconómica, a polimedicação. Acima de tudo foi pensado para ser prático para os médicos de família e esperamos que se torne um documento de referência nacional na prestação de cuidados à população idosa no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários. JM | Com o crescimento do mercado tecnológico dirigido aos idosos, sendo disso exemplo os dispositivos de assistência e as aplicações que monitorizam a saúde dos idosos, que implicações tem na prática clínica e assistência aos idosos? Como garantir a sua segurança? DM | Dentro da revolução tecnológica que tem vindo a acontecer, penso que os dispositivos de monitorização remota merecem um papel de destaque. Pelo potencial das suas funcionalidades, como a realização de chamadas de emergência, avisos de queda ou inatividade até à própria geolocalização, podem efetivamente ter um impacto relevante na assistência à população idosa. Aqui apenas se coloca a questão que no presente momento, poucos serão aqueles com possibilidades para os ter e utilizar. JM | Tendo em conta que Portugal tem uma grande percentagem da população envelhecida, em que parâmetros, no que aos cuidados de saúde diz respeito, deveria haver melhorias? DM | Numa palavra: Tempo. O contexto de trabalho do médico de família em Portugal com listas de utentes sobredimensionadas e pouco tempo de consulta limitam a execução de um trabalho bem feito, distante do potencial técnico e científico do médico de família. Já discutimos o desafio que é avaliar o utente idoso no seu global e infelizmente estamos distantes de uma realidade em que as listas de utentes possam paulatinamente ir diminuindo em prol de aumento do tempo de consulta. As recomendações do regulamento dos tempos padrão das consultas médicas para as consultas de MGF não são mais do que um exercício de ficção e apresentam-se como uma utopia que contrasta de modo dilacerante com a realidade de trabalho existente atualmente em muitos Centros de Saúde. JM | Que iniciativas têm planeadas para 2024? DM | Em 2024 esperamos continuar a evoluir na vertente da formação na área da Geriatria, com a 2.ª edição do Curso de Geriatria para Médicos de Família. Pretendemos também divulgar os resultados do inquérito pelos médicos de família e internos de Formação Específica em MGF sobre as necessidades formativas em Geriatria e manter a aposta na criação de materiais de apoio à consulta e na divulgação de Newsletter, como ferramenta fundamental na comunicação do grupo. Despeço-me com o convite a colegas que tenham interesse na área a juntarem-se a nós, de modo a continuarmos no desenvolvimento destes e de novos projetos, auxiliando a projeção ao GESI no panorama nacional na área da Geriatria.

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