Jornal Médico - Novo Medicina ULisboa campus de Torres Vedras “vai revolucionar a prestação dos cuidados de saúde à comunidade”

Numa iniciativa pioneira, a Câmara Municipal de Torres Vedras e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) uniram esforços para dar vida ao Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras. O Jornal Médico conversou com o diretor da FMUL, João Eurico da Fonseca, que nos contou os pormenores deste projeto ambicioso, que vai transformar o antigo Hospital Dr. José Maria Antunes Júnior num inovador polo académico, clínico e de investigação, que pretende responder às carências de médicos de família na região, mas também ser um modelo-piloto com impacto nacional e além-fronteiras. Jornal Médico (JM) | Pode contar-nos mais sobre a parceria entre a Câmara Municipal de Torres Vedras e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) no desenvolvimento do Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras? Como é que essa colaboração se materializou e qual é o papel de cada entidade no projeto? João Eurico da Fonseca (JEF) | A criação do Campus em Torres Vedras resultou de um conjunto de oportunidades que foram consequência da passagem da gestão do antigo Hospital Dr. José Maria Antunes Júnior para a Câmara Municipal, a vontade dos presidentes da Câmara Municipal de Torres Vedras de manterem aquele espaço na área da saúde e da ponte estabelecida com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Há uma colaboração perfeita entre as duas instituições. Nesta fase inicial, a Câmara Municipal de Torres Vedras tem sido decisiva na reabilitação de uma área central associada à capela e ao claustro e a FMUL tem começado a dinamizar este espaço inicial com sessões de formação em diversas áreas, como por exemplo, em Medicina Humanitária e de Catástrofe. Há uma equipa de desenvolvimento sediada na Câmara Municipal, com elementos das duas instituições, liderada pelo Professor Joaquim Ferreira, que está neste momento a efetuar o planeamento arquitetónico, o plano das obras de reabilitação, as candidaturas a financiamentos e a estruturar as várias áreas funcionais do projeto. JM | O novo Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras pretende transformar o antigo Hospital Dr. José Maria Antunes Júnior num Centro Clínico, Académico e de Investigação. Pode partilhar alguns detalhes sobre as áreas específicas de atuação? JEF | Este é um vasto projeto, que vai contar com uma Unidade de Saúde Familiar Académica; uma Unidade de Cuidados Interdisciplinares em doenças crónicas, com particular ênfase na patologia cardiovascular, neurológica e do aparelho locomotor; um Centro de Investigação Clínica com capacidade para promoção de estudos observacionais, mas também envolvimento em ensaios clínicos; um Centro de Investigação em Tecnologias da Saúde, com parceria com outras escolas da Universidade de Lisboa, como a Faculdade de Ciências e o Instituto Superior Técnico; um Centro Académico, com formação pré e pós-graduada, que servirá para algumas formações específicas dirigidas aos alunos de Nutrição e Medicina da FMUL; um Centro de Medicina Humanitária e de Catástrofe em colaboração com a Universidade de Harvard e fazendo parte de uma rede global de centros semelhantes; e ainda uma área de alojamento que dará suporte aos participantes em formações com duração superior a um dia e para períodos de estágios dos alunos de Nutrição e Medicina da FMUL. JM | Na apresentação do Campus à comunicação social, em dezembro passado, foi dito que este pretende abordar a falta de médicos de família na região, oferecendo assistência a mais de 9 mil utentes sem médico. Existem estratégias específicas para garantir uma cobertura abrangente e eficaz? JEF | Sim, claro que sim. Este projeto tem um enorme potencial para criar um Campus académico e de investigação inovador na área da saúde. Estamos a criar condições ideais para atingirmos excelentes resultados na formação de profissionais de saúde, nomeadamente com a oferta de um enquadramento profissionalmente motivante, permitindo a fixação de profissionais de saúde. Neste momento, estamos num processo de articulação entre a Câmara Municipal com o Serviço Nacional de Saúde para permitir a abertura da Unidade de Saúde Familiar. JM | Como já referiu, o projeto prevê a criação de uma Unidade de Saúde Familiar Académica, Unidade de Cuidados Interdisciplinares em doenças crónicas, Centro de Investigação Clínica, entre outras. Qual será o impacto dessas unidades na prestação de cuidados de saúde na região e potencialmente em todo o país? JEF | Considero que apesar deste Campus nascer em Torres Vedras, ele constituir-se-á como um projeto-piloto de desenvolvimento de novos modelos de prestação de cuidados de saúde na comunidade – acredito mesmo que vai revolucionar a prestação dos cuidados de saúde à comunidade - e, desta forma, penso que terá implicações não apenas para o país, mas também num contexto internacional. JM | Enquanto diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, qual é a importância estratégica deste novo Campus para a FMUL? E como é que este se alinha com a missão e visão da instituição? JEF | A Faculdade Medicina da Universidade de Lisboa está apostada em formar mais e melhores profissionais de saúde, sempre com um foco no desenvolvimento científico e no benefício da comunidade. O Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras representa a oportunidade de a FMUL sair das paredes de um grande hospital terciário e poder preparar melhor os seus alunos na abordagem dos problemas clínicos da comunidade. É também uma enorme oportunidade para iniciar um novo ciclo que terá implicações no modelo global de atividades e intervenção na comunidade. Este novo Campus representa uma enorme oportunidade para a FMUL desenvolver o ensino e a investigação nas áreas da saúde pública, dos cuidados de saúde primários, da prática da medicina interdisciplinar, do conceito de Saúde Planetária/Saúde Global, que requerem um contexto que não se encontra no atual campus da FMUL e que encontra o ambiente ideal no Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras. JM | Quais serão as principais áreas clínicas e científicas de enfoque do Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras? JEF | As principais áreas são os cuidados de saúde primários, a saúde pública, as doenças crónicas - com enfoque em três áreas essenciais do ponto de vista clínico e científico: neurociências, cardiologia e fatores de risco cardiovasculares e patologia musculoesquelética – e ainda a medicina humanitária e de catástrofe, que é um novo campo no qual a Faculdade está a apostar. JM | O projeto inclui um polo de inovação e empreendedorismo em One Health. Como é que esse espaço multidisciplinar contribuirá para o ensino, assistência e investigação em saúde? Quais são as metas e objetivos específicos dessa iniciativa? JEF | O conceito One Health, ou de uma forma mais alargada de Saúde Global/Saúde Planetária alerta-nos para o facto de a Saúde só estar garantida se houver uma conjugação adequada entre as pessoas, os animais e as plantas, partilhando adequadamente o meio ambiente que é comum. Esta realidade tem uma expressão mais clara em áreas de características rurais com grande atividade hortofrutícola e de pecuária como é o caso de Torres Vedras. JM | Com a primeira fase prevista para 2024, quais são os marcos esperados durante a implementação do Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras? JEF | Prevemos que o projeto esteja totalmente concluído em cinco anos, sendo que a primeira fase deverá estar em funcionamento ainda 2024, com capacidades adequadas para mantermos eventos formativos e para iniciarmos já este ano prestação de cuidados de saúde. Com uma área de construção de 13.435m2 e 25.926m2 de área de terreno, este Campus empregará cerca de 400 pessoas entre profissionais de saúde e prestadores de serviços. JM | Como é que o este novo Campus de Saúde de Torres Vedras se integra nas iniciativas e estratégias mais amplas da Universidade de Lisboa e de outros ministérios e instituições envolvidas? JEF | Este projeto é feito em articulação com a estrutura da Universidade de Lisboa e com a supervisão do reitor. As 18 escolas da Universidade de Lisboa têm sido convidadas a participar. A maioria já visitou as instalações e, como já referi, várias já estão envolvidas em projetos concretos. Os resultados dos projetos que vierem a ser implementados no Campus terão um impacto nacional e internacional e essa é a mais-valia do envolvimento de grupos clínicos e científicos da Faculdade de Medicina e de outras faculdades da Universidade de Lisboa. JM | Por fim, e não menos importante, como é que vais ser envolvida a comunidade local e como é que os cidadãos podem beneficiar diretamente desse novo Centro Clínico, Académico e de Investigação em cuidados de saúde primários? JEF | O Campus de Torres Vedras será único na combinação, num mesmo espaço físico, de prestação de cuidados de saúde de qualidade na área da Medicina Geral e Familiar e das doenças crónicas, com a realização de investigação clínica e investigação em tecnologias da saúde e ainda a formação de profissionais de saúde de várias áreas. É nossa intenção que todas as pessoas que venham a ser acompanhadas no Campus sejam convidadas a participar em estudos que as acompanhem ao logo do tempo e, desta forma, ajudem a gerar dados científicos que não sejam apenas importantes para os próprios, mas importantes para toda a comunidade científica. Este tipo de seguimento clínico e científico de proximidade traduz-se habitualmente numa grande mais-valia de bem-estar para as populações envolvidas. Novo Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras vai dar assistência a mais de 9 mil utentes sem médico de família O novo Medicina ULisboa Campus de Torres Vedras, que pretende ainda em 2024 conseguir dar assistência a mais de 9 mil utentes que não têm médico de família, resulta de uma parceria consolidada através do Memorando de Entendimento assinado em 28 de junho de 2019, entre o Município de Torres Vedras e a FMUL. O compromisso da Câmara Municipal inclui a reabilitação do antigo edifício do Hospital Dr. José Maria Antunes Júnior, que já foi convento, asilo e sanatório. Por sua vez, a Faculdade de Medicina de Lisboa (FMUL), que terá o seu primeiro campus fora do Campus do Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML), irá desenvolver um polo de inovação e empreendedorismo em One Health, que vai combinar um espaço multidisciplinar e interdisciplinar dedicado ao ensino, assistência e investigação em saúde. Este projeto conta com os apoios institucionais da Universidade de Lisboa, Ministério da Coesão, Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Ministério da Saúde, e tem como parceiros o Instituto Superior Técnico para as áreas de engenharia biomédica e robótica, a Faculdade de Ciências para as áreas de engenharia informática, interação doente/tecnologia, e outras faculdades da Universidade de Lisboa como a de Medicina Veterinária, Agronomia e o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), Unidades de Saúde Familiar Torres Vedras e mecenas privados.

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