Jornal Médico - José A Santos: doença Paternal Obstrutiva Crónica

As exacerba&ccedil;&otilde;es da "DPOC" s&atilde;o muito frequentes no nosso quotidiano cl&iacute;nico. Alguns dispositivos como panfletos esclarecedores sobre as s&iacute;ndromes virais ou sobre os sintomas de alerta e a reestrutura&ccedil;&atilde;o do espa&ccedil;o f&iacute;sico t&ecirc;m permitido a preven&ccedil;&atilde;o de algumas exacerba&ccedil;&otilde;es. Chegou o Inverno! Aqui fechado no gabinete vejo, atrav&eacute;s da janela, a chuva a pingar l&aacute; fora... E curiosamente, atrav&eacute;s do monitor, vejo os doentes a pingarem na consulta n&atilde;o agendada. O cen&aacute;rio exterior at&eacute; &eacute; frio... Mas aqui dentro as coisas est&atilde;o prestes a aquecer! A nova esta&ccedil;&atilde;o trouxe consigo os picos febris, as tosses, as odinofagias, os v&oacute;mitos e as mialgias. Trouxe as infec&ccedil;&otilde;es respirat&oacute;rias, as gastroenterites virais e as perturba&ccedil;&otilde;es depressivas. Por&eacute;m, como um bom visitante (n&atilde;o-desejado?) chegado aos nossos lares ap&oacute;s longos meses de aus&ecirc;ncia, tamb&eacute;m nos ofereceu alguns presentes: as gentes na sala de espera; a sa&iacute;da mais precoce das escolas e infant&aacute;rios pelos mi&uacute;dos e; os pais nervosos &agrave; porta do gabinete. E n&oacute;s... com um bonito sorriso amarelo (mas desejando internamente bater com a cabe&ccedil;a num tijolo!) aceitamos e fingimos que o presente &eacute; a nossa cara com uma pobre express&atilde;o: "pois, &eacute; o costume... assim &eacute; a tradi&ccedil;&atilde;o!". Nesta &eacute;poca do ano, o que &eacute; certamente costume &eacute; haver um agravamento das patologias cr&oacute;nicas devido &agrave;s diversas intercorr&ecirc;ncias infecciosas. Durante a nossa pr&aacute;tica cl&iacute;nica, contactamos com as frequentes exacerba&ccedil;&otilde;es sazonais de uma patologia sobejamente conhecida, por&eacute;m, curiosamente, pouco descrita: a doen&ccedil;a paternal obstrutiva cr&oacute;nica (DPOC). Qual de n&oacute;s n&atilde;o tem que actuar quase diariamente, nesta fase do ano, perante uma agudiza&ccedil;&atilde;o desta doen&ccedil;a paternal? Sabemos bem as suas manifesta&ccedil;&otilde;es. Em ambiente invernoso, tudo come&ccedil;a com a agress&atilde;o do epaist&eacute;lio pelas diversas chamadas telef&oacute;nicas dos infant&aacute;rios e escolas para os pais que podem ser de diferentes tipos, por&eacute;m, o mais comum &eacute; denominado "o menino fez febre, venha-o buscar!". Tal agente cria um maior afluxo &agrave;s unidades de sa&uacute;de, em busca de uma resposta pelo corpo m&eacute;dico, e tal faz distender, expandir e esticar a sala de espera at&eacute; aos corredores de passagem ou mesmo &agrave; porta de entrada. A entrada ininterrupta de adultos com crian&ccedil;as ao colo poder&aacute; dar a entender que o efluxo ser&aacute; igualmente livre. Puro engano! Sem m&atilde;os a medir - mas, sabendo-se que s&atilde;o apenas duas m&atilde;os - o m&eacute;dico assistente tenta dar uma orienta&ccedil;&atilde;o r&aacute;pida enquanto "abafa" cada vez que abre a porta do gabinete e entram dois pais e uma crian&ccedil;a empurrados pelas for&ccedil;as exteriores. Este fen&oacute;meno chamado de pai-trapping pode ser gravemente comprometedor do funcionamento das unidades de sa&uacute;de, criando uma subjectiva sensa&ccedil;&atilde;o de dispneia e de aperto impaciente tanto no profissional de sa&uacute;de como nos pr&oacute;prios pais. E se o profissional at&eacute; vai sabendo controlar os seus sintomas (quer dizer, nem todos!), os pais mostram-se facilmente incomodados com os sintomas com horas de evolu&ccedil;&atilde;o, desenvolvendo crises de broncal&atilde;oespasmo, manifestado em sons apalavrados conhecidos por "le&otilde;eszinhos" (quais "gatinhos"?!!!) e muitos, muitos mesmo, roncos! Ambos assumem uma frequ&ecirc;ncia caracteristicamente grave na sala de espera. No entanto, j&aacute; dentro do gabinete, tal ru&iacute;dos advent&iacute;cios assumem, tipicamente, semelhan&ccedil;as com a sibil&acirc;ncia, isto &eacute;, soam mais fininho. De facto, dentro de gabinete, a manifesta&ccedil;&atilde;o mais t&iacute;pica da DPOC &eacute; a hiperviscosidade da in&eacute;rcia de alguns pais em qualquer ac&ccedil;&atilde;o ou atitude cl&iacute;nica, que limita a exterioriza&ccedil;&atilde;o de uma resposta cl&iacute;nica. Sen&atilde;o vejamos este cen&aacute;rio cl&iacute;nico muito comum: imensa gente na sala de espera, um ar quente dentro das quatro paredes, os roncos provindos do exterior, as chamadas das administrativas a perguntar "se falta muito para o doente X" e... ... o Jo&atilde;ozinho de 4 anos que parte o gabinete todo perante o olhar apenas reprovador dos pais e que, enquanto n&atilde;o parte o gabinete todo, est&aacute; dedicado a contrariar a observa&ccedil;&atilde;o m&eacute;dica. O ponto m&aacute;ximo de obstru&ccedil;&atilde;o ao fluxo expirat&oacute;rio cl&iacute;nico situa-se na observa&ccedil;&atilde;o da orofaringe! Ui ui... (permitam-me este suspiro!) ...como &eacute; terr&iacute;vel a observa&ccedil;&atilde;o da orofaringe em filhos n&atilde;o-colaborantes de pais que padecem de DPOC e que n&atilde;o imp&otilde;em a m&iacute;nima ordem nem s&atilde;o capazes de criar reten&ccedil;&atilde;o nos bra&ccedil;os ou p&eacute;s que traumatizam violentamente os bra&ccedil;os do cl&iacute;nico! O que inicialmente poderia ser uma observa&ccedil;&atilde;o de poucos segundos torna-se uma intensa aventura de minutos em busca de um tesouro ruborizado com ou sem exsudados... E l&aacute; fora, o pai-trapping continua a progredir e a ocupar, comprimir e colapsar o espa&ccedil;o destinado ao fluxo de doentes. Depois de alguma rinorreia na bata, salpicos de saliva na cara e de uma estranha sensa&ccedil;&atilde;o de que se fez um exerc&iacute;cio de halterofilismo com uma simples esp&aacute;tula de madeira... l&aacute; chegamos ao plano da consulta, orienta&ccedil;&atilde;o terap&ecirc;utica e, finalmente, assistimos emocionados ao fechar da porta do gabinete. Ap&oacute;s um minuto para recupera&ccedil;&atilde;o e higiene das m&atilde;os, l&aacute; chamamos a Ana, de 3 anos... a porta abre... os ru&iacute;dos advent&iacute;cios voltam a assumir uma intensidade maior... e a pequenina Ana desata a berrar s&oacute; de olhar para a bata branca!... E eis que a hist&oacute;ria se repete... As exacerba&ccedil;&otilde;es da DPOC tornam-se, assim, muito frequentes no nosso quotidiano cl&iacute;nico, mas julgo estarmos preparados para lidar com elas. Alguns dispositivos como panfletos esclarecedores sobre as s&iacute;ndromes virais ou sobre os sintomas de alerta e a reestrutura&ccedil;&atilde;o do espa&ccedil;o f&iacute;sico t&ecirc;m permitido a preven&ccedil;&atilde;o de algumas exacerba&ccedil;&otilde;es. Por&eacute;m, assim se mant&eacute;m o Inverno!... E assim &eacute; a nossa pr&aacute;tica cl&iacute;nica. E talvez por estas e por outras, seja uma pr&aacute;tica t&atilde;o fascinante! Jos&eacute; Agostinho Santos USF Lagoa, Centro de Sa&uacute;de Senhora da Hora Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

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