Jornal Médico - A importância da empatia e capacitação na comunicação clínica

Leia o artigo de opinião da autoria de Joana Lourenço, médica interna de Medicina Geral e Familiar, no ACeS Porto Ocidental - USF Carvalhido, sobre a relação, estabelecida na comunicação, entre o médico e o utente, promovendo "uma tomada de decisão partilhada que visa resolver os problemas e promover a saúde e bem-estar." A Medicina Geral e Familiar (MGF) é normalmente o ponto de primeiro contacto com o sistema de saúde, pela sua universalidade e facilidade de acesso. Quando se dá o contacto com a MGF, maioritariamente na consulta, é que a Medicina Centrada no Paciente assume a sua maior relevância, dado que permite uma tomada de decisão partilhada que visa resolver os problemas e promover a saúde e bem-estar. Assim, considera-se que consulta é a principal e mais complexa atividade do Médico de Família, sendo que a construção do relacionamento entre Médico e Consulente depende da empatia, um elemento emocional e da comunicação, e também do exercício da capacitação. Por um lado, considero que a empatia é a capacidade de compreender e ressoar com as experiências de outras pessoas. Deste modo, a importância da empatia no exercício da Medicina tem sido estudada nos últimos anos, tendo sido demonstrado que tem um impacto positivo tanto para os utentes, como para os Médicos, facilitando a eficácia dos tratamentos. Logo, a empatia funciona como uma ferramenta poderosa para que o utente se sinta entendido pelo seu médico, estimulando a sua adesão ao tratamento. De modo a avaliar a empatia, foi desenvolvido o Jefferson Scale of Patient Perceptions of Physician Empathy (JSPPPE), instrumento validado e usado em estudos internacionais, traduzido e validado em Portugal. Por outro lado, outro conceito importante no âmbito da relação Médico-Paciente é o da capacitação, que representa o “grau em que um doente se sente fortalecido, após uma consulta, em termos de ser capaz de lidar, compreender e gerir a sua doença”. No meu ponto de vista, a capacitação é um requisito fundamental para que o utente seja capaz de lidar, compreender, satisfazer as suas próprias necessidades, resolver os seus próprios problemas de saúde e mobilizar os recursos necessários para se sentir controlo da sua saúde. Assim, assume-se que uma maior capacitação após a consulta tem sido associada a melhores resultados clínicos, que podem ser influenciados por diversos fatores, como a empatia, e outros inerentes ao próprio utente (idade, sexo, situação económica e multimorbilidade) ou à consulta (duração). De forma a medir a capacitação após consulta, foi desenvolvido o Patient Enablement Instrument, um instrumento validado e internacionalmente usado, também traduzido e validado em Portugal. Neste sentido, considero que a aplicação de instrumentos capazes para avaliar a opinião do consulente revelam-se extremamente importantes, de modo perceber se os cuidados prestados vão de encontro aos objetivados pelos utentes, reforçando, deste modo, a ideia de que a empatia médica é crucial para que o utente se sinta capacitado. É fulcral os governantes, gestores e líderes das Instituições de Saúde investirem na capacitação e empatia dos Profissionais de Saúde, para que melhorias na qualidade do cuidado e na sua segurança sejam alcançadas. São ações que implicam poucos recursos financeiros, mas vontade suficiente para prestar a melhor assistência, com a certeza de que o cuidado empático reverte, também, na sustentabilidade das Instituições. Em suma, reforço e sensibilizo que a capacitação pode ser aumentada através de um treino adequado por parte do Médico, pela sua empatia e familiaridade com a pessoa, com uma comunicação adequada durante a consulta. “O bom médico trata as doenças, mas o grande médico trata o paciente.” William Osler

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