Jornal Médico - Carcinoma da próstata: Diagnóstico cada vez mais inteligente

Leia o artigo de opinião da autoria de Pedro Nunes, especialista em Urologia da Unidade Local de Saúde de Coimbra, sobre a forma como os materiais de diagnóstico têm possibilitado uma melhor assistência na deteção, encaminhamento e tratamento de pessoas com carcinoma da próstata. O carcinoma da próstata (CAP) é um problema de saúde pública a nível mundial. Em 2020 – só em Portugal – foram diagnosticados mais de 7 mil novos casos e no mesmo ano morreram – vítimas desta doença – mais de 2 mil homens. No nosso país, representa a doença oncológica mais diagnosticada no homem e uma das que causa mais mortalidade. Ainda assim e durante alguns anos houve alguma controvérsia sobre os reais benefícios de estratégias de rastreio e diagnóstico precoce desta neoplasia. O facto é que quando essas medidas foram abrandadas nos Estados Unidos da América – por recomendação de algumas sociedades médicas – diagnosticaram-se, nos anos seguintes, tumores mais agressivos e em fases mais avançadas, com influências óbvias na mortalidade. Atualmente o rastreio em massa das populações não está preconizado, mas podemos recomendar, cada vez mais certos das suas vantagens, programas de diagnóstico precoce sistemático. Tal facto deve-se a: - Melhor compreensão da história natural da doença e do seu espetro de agressividade (se viverem tempo suficiente quase todos os homens apresentarão cancro da próstata histológico, mas só 15 a 20% serão diagnosticados clinicamente e só 2 a 3% morrerão dele) – o que implica que alguns tumores não necessitam ser diagnosticados ou tratados. Sabemos hoje com mais exatidão quais são esses tumores. - Conhecimento profundo de alguns fatores de risco: idade, incidência familiar, fatores raciais e marcadores genéticos – o que permite uma adequação dos programas de diagnóstico precoce a cada homem em concreto. Utilizam-se frequentemente na prática clínica calculadoras de risco de CAP que permitem aconselhar adequadamente os homens preocupados com a sua saúde. Na população geral recomenda-se o doseamento de PSA e toque retal a partir dos 50 anos e mais cedo se houver fatores de risco. A periodicidade com que devem ser realizados depende também da idade, fatores de risco e valor de PSA. A partir de determinada idade e se não houver sintomas deixa de ter benefício esta procura ativa de CAP. - Utilização de novos métodos de imagem (por ex. RM multiparamétrica) que com precisão notável permitem a identificação de áreas suspeitas de corresponderem a carcinomas clinicamente significativos – os únicos que nos interessa diagnosticar. - Refinamento da técnica de biópsia que permite direcionamento mais preciso da pesquisa, obtendo taxas de positividade mais elevadas e com menor morbilidade (biópsias de fusão e via transperineal). - Estadiamento mais preciso da doença (por ex. PET-PSMA) que permite tratar com mais eficácia e personalização os doentes. - Utilização ampla de estratégias de vigilância ativa em tumores com caraterísticas adequadas e cujo tratamento agressivo pode ser atrasado ou evitado. - Aperfeiçoamento das técnicas de terapêutica local que minimizam os temíveis efeitos secundários e sequelas dos tratamentos, nomeadamente relacionados com a vertente sexual e urinária (disfunção erétil e incontinência urinária). Dispomos hoje de cirurgia assistida por sistemas robóticos, técnicas de radioterapia mais precisas e terapêutica focal. - Métodos que nos permitem detetar precocemente recidivas após tratamentos com intuito curativo e que possibilitam terapêuticas secundárias com taxas de sucesso elevadas. - Desenvolvimento de novos fármacos cada vez mais eficazes e personalizados e que permitem aos doentes diagnosticados em fases de doença metastizada viverem mais tempo e com melhor qualidade de vida. Os reais benefícios do diagnóstico precoce do CAP são indiscutíveis. Necessitamos hoje de rastrear menos homens para salvar mais vidas! Fazemos menos biópsias desnecessárias, diagnosticamos menos tumores indolentes, submetemos menos homens a tratamentos agressivos que não alteram a história natural da doença. As sequelas dos tratamentos são hoje menos frequentes e apenas acontecem quando realmente o tumor coloca em risco a vida do doente.

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