Jornal Médico - IX Congresso Nacional de Patologia Clínica: Mais-valias da utilização de metodologias rápidas de Microbiologia

As técnicas de diagnóstico microbiológico rápidas mereceram destaque num simpósio organizado pela BioMérieux, no âmbito do IX Congresso Nacional de Patologia Clínica, que decorreu recentemente em Lisboa. Com base no trabalho que desenvolvem nos seus laboratórios, as patologistas clínicas Catarina Chaves e Adriana Coutinho – do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e do Hospital do Espírito Santo de Évora, respetivamente – salientaram as vantagens das metodologias rápidas, tais como a espetrometria de massa ou as técnicas de biologia molecular, face aos métodos convencionais de diagnóstico laboratorial dos patógenos “Um contributo para a redução da morbimortalidade”. É desta forma que a patologista do CHUC, Catarina Chaves, encara a utilização de metodologias mais rápidas para a identificação dos agentes patogénicos, as quais têm significado uma verdadeira “revolução na área da Microbiologia”, diz, explicando que “as novas metodologias abreviam o processo” e que “a rapidez no diagnóstico/identificação bacteriana é crucial”. A introdução de equipamentos cujo princípio de funcionamento se baseia na espetrometria de massa e em técnicas de biologia molecular mais sensíveis veio revolucionar a perspetiva do microbiologista e, “atualmente, em cerca de uma hora podemos dar ao clínico a identificação de microrganismos (MO) patogénicos, contribuindo significativamente para o diagnóstico das infeções”, ressalva a especialista. Na sessão promovida pela BioMérieux no âmbito do IX Congresso Nacional de Patologia Clínica, Catarina Chaves explicou que o laboratório de Microbiologia do CHUC já dispõe do MALDI-TOF-MS (matrix-assisted laser desorption/ionization time of flight mass spectrometry) – um método de 4.ª geração que permite, “não só a identificação das estirpes bacterianas ao nível da espécie – difícil muitas vezes com outros meios convencionais –, como também uma identificação mais rápida (ausência da necessidade de purificar a estirpe obtida da cultura original, porque uma pequena quantidade será suficiente para a identificação e esta será obtida numa questão de minutos, ao invés das horas a que a microbiologia tradicional nos tinha habituado)”. Enquanto os métodos convencionais apresentam uma baixa sensibilidade (em 40 a 60% dos casos não se isola o MO causal) e dificuldade na interpretação das estirpes isoladas e significado clínico, podendo levar a um diagnóstico e tratamento adequados, a tecnologia MALDI-TOF-MS consiste numa técnica rápida, com baixo custo em termos de reagentes e tempo de processamento técnico e com precisão ao nível da espécie. De acordo com a patologista do CHUC, esta tecnologia representa um “enorme salto qualitativo no diagnóstico microbiológico”, na medida em que “ganhamos um dia a um dia e meio, tendo um impacto grande na sobrevida dos doentes”, para além de ser “extremamente adequada ao nosso fluxo de trabalho”. O desenvolvimento, também recente, de técnicas de biologia molecular com a identificação dos agentes etiológicos mais comuns das infeções do trato respiratório inferior (bactérias, vírus e fungos), a semiquantificação de alguns agentes bacterianos e a deteção de marcadores de resistência a antimicrobianos, “veio ajudar-nos ainda mais, permitindo o diagnóstico e a instituição terapêutica atempados”. São testes multiplex que permitem o diagnóstico sindrómico e particularmente importantes em Pediatria e Cuidados Intensivos, explicou Catarina Chaves, apontando as vantagens e desvantagens dos mesmos (ver caixa). Importa salientar que o diagnóstico rápido do agente causal de uma infeção do trato respiratório inferior é crucial na redução da morbilidade e mortalidade e na utilização mais apropriada dos antimicrobianos, com consequente redução da utilização de terapêuticas desnecessárias. Consequentemente, regista-se uma diminuição de taxas elevadas de uso de antimicrobianos, bem como da exposição aos antimicrobianos, uma redução dos índices de resistências hospitalares e uma contenção da probabilidade de colonização por MO multirresistentes. Há ainda a destacar o impacto positivo ao nível da qualidade de vida do doente, uma vez que este será tratado de forma mais orientada, não se adiando a eficácia da terapêutica e reduzindo-se significativamente a duração de internamentos hospitalares. “Espectrometria de massa permite identificação de MO em 20 minutos” Na mesma ocasião, a responsável pelo Laboratório de Microbiologia do Serviço de Patologia Clínica do Hospital do Espírito Santo de Évora, Adriana Coutinho, partilhou o seu testemunho no que concerne à utilização de metodologias rápidas comparativamente aos métodos convencionais de deteção de MO. De acordo com a especialista, a Microbiologia rápida permite o ajuste terapêutico em menor tempo, o que pode levar a uma mais rápida melhoria clínica. Permite, igualmente, a deteção precoce de portadores e/ou infetados por MO multirresistentes, potenciando a instituição atempada de medidas de isolamento de contato e a diminuição da sua transmissão. A patologista clínica recordou os primórdios da sua carreira, em que “todos os dias tinha de observar cada frasco de hemocultura para ver se havia ou não crescimento de alguma colónia. A partir daí, seguia-se um longo processo, que incluía: a repicagem para nova sementeira e a realização de um esfregaço para avaliar a morfologia bacteriana e o seu comportamento perante a coloração de Gram”. A seguir, acrescentou, “esperava-se o crescimento das colónias em placa (que poderia demorar mais de 24 horas), para poder realizar a identificação definitiva e o respetivo teste de suscetibilidade aos antimicrobianos. Demorava, na melhor das hipóteses, desde a colheita até ao resultado final, três ou quatro dias úteis”. Atualmente, a prática diária de Adriana Coutinho alterou-se substancialmente. “Agora, podemos contar com um equipamento para hemoculturas com maior estabilidade da temperatura, já que não há necessidade de abertura do mesmo para a colocação ou remoção dos frascos, sendo totalmente automatizado. Isto facilita o crescimento mais rápido das bactérias. Conseguimos ter hemoculturas positivas em menos de 24 horas e até ouso dizer que, na maioria dos casos, a positividade é alcançada em menos de 12 horas”. Ainda mais rápida tornou-se a identificação dos MO, garante. “Com a técnica de espectrometria de massa é possível ter a identificação em 20 minutos. As técnicas de amplificação de genes podem dar-nos a identificação e alguns genes de resistência em cerca de uma hora. Existem ainda testes imunocromatográficos, de manuseio muito simples, que em 15 minutos nos fornecem indicação da presença de genes de resistência aos carbapenemos, a partir dos frascos positivos de hemoculturas”, refere. EEm menos de 24 horas conseguimos providenciar aos clínicos informação sobre o MO e sobre a eventual existência de resistências, nomeadamente à meticilina, vancomicina e carbapenemos. Os doentes passam a receber um tratamento mais adequado e direcionado, com potenciais melhorias na sua sobrevida, tempo de internamento e consequente diminuição dos custos em saúde”, conclui.

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