Jornal Médico - Marina Neto: “O diâmetro aórtico é o indicador mais robusto para aferir a velocidade de atuação”

Integrada no programa da Porto Vascular Conference, teve lugar a sessão intitulada “Aneurismas: rastreio e seguimento”, na qual os especialistas Samuel Canelas, Andreia Sousa e Marina Neto abordaram o papel dos Cuidados de Saúde Primários no rastreio e seguimento de aneurismas. Na terceira e última parte da sessão, a especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar Universitário de São João, Marina Neto, começou por evidenciar a importância do rastreio. Saiba mais na edição 144 do Jornal Médico. Marina Neto, começou por evidenciar a importância do rastreio afirmando que em Portugal, entre 2000 e 2015 “36% (n=815) dos doentes com AAA morreram antes de chegar ao hospital; entre os doentes admitidos (n=1460), 22% não reuniram condições para ser tentada uma reparação e, dos doentes submetidos a cirurgia a mortalidade foi de 30 a 50% (n=570)”, enumerou acrescentando que “são estas as mortes que se pretende evitar com o rastreio”. Como explicou, o AAA trata-se de uma “dilatação focal anormal da aorta abdominal ≥3,0 cm, sendo a conformação mais comum a aorta infrarrenal”. Na maioria dos casos o AAA é assintomático e a sua deteção acontece acidentalmente com o exame de imagem, sendo que “cerca de 30% das TAC abdominais pedidas no hospital têm diagnóstico de AAA acidental sem orientação do médico que requisitou o exame ou MGF”, frisou. Referenciação: Como orientar o doente? A história natural do AAA é o crescimento progressivo, sabendo-se que “o tabagismo aumenta a taxa de crescimento e a diabetes reduz a taxa de crescimento crescimento”, referiu Marina Neto. O aumento da taxa de crescimento é exponencial em função do diâmetro, sendo que “um aneurisma de 3 cm pode crescer 1,3 mm/ano, enquanto o de 5 cm pode crescer 3,6 mm/ano”. Assim, está recomendado para AAA de 3 cm fazer vigilância ecográfica a cada 3 anos. Não está descrito nas guidelines se essa vigilância deve ser feita nos CSP ou no hospital e vai depender da comunicação entre estas duas instituições. No AAA de 4 cm a vigilância deve ser anual, e poderá haver referenciação para que o especialista avalie e defina o padrão de monitorização. Já os doentes com AAA ≥5 cm requerem uma vigilância mais apertada, pelo que “a referenciação hospitalar com caráter prioritário é adequada a estes casos”, afirmou. “Além da vigilância ecográfica adequada os doentes devem ser acompanhados com vista à redução do risco cardiovascular” Na perspetiva de Marina Neto, “este é um importante papel do Médico de Família”. “A alteração do estilo de vida, o controlo da tensão arterial, as estatinas e os antiplaquetários devem e são recomendados nestes doentes para reduzir o risco cardiovascular”. Apesar de não existirem terapêuticas dirigidas à redução da taxa de crescimento “é possível atuar incentivando à cessação tabágica, que diminui em cerca de 20% a taxa de crescimento e em 50% a taxa de rutura”. AAA: Tratamento médico A reparação eletiva está recomendada, como elencou a especialista, “nos homens com diâmetro aórtico ≥55 mm, nas mulheres com diâmetro aórtico ≥50 mm e ainda nos casos de crescimento rápido do aneurisma (≥1 cm/ano)”. A prioridade de tratamento recomendada é de 3 meses para AAA 9 cm”. O tratamento eletivo pode ser realizado por cirurgia aberta ou EVAR, seguindo-se o follow-up do doente, num plano de seguimento definido pelo especialista em Cirurgia Vascular e em articulação com os CSP”. A terminar a sua intervenção, Marina Neto mencionou que o rastreio “diminui a mortalidade por aneurisma à custa do aumento da reparação eletiva e possibilidade de endereçar o risco cardiovascular”. Concluiu dizendo que “neste processo, a articulação entre os CSP e o hospital é fundamental para o tratamento e seguimento destes doentes”.

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